Antônio Cabral e Edison Corrêa são os novos professores eméritos da UFMG
Histórias dos professores foram marcadas por forte atuação administrativa e implementação da medicina fetal no país

Na última segunda-feira, 2, os professores Edison José Corrêa e Antônio Carlos Vieira Cabral receberam os títulos de professor emérito da UFMG, em cerimônia realizada na Faculdade de Medicina. A titulação é concedida por indicação das congregações das unidades a docentes aposentados cujas atividades acadêmicas são consideradas de excepcional relevância para a Universidade.
A cerimônia contou com a presença da reitora Sandra Goulart Almeida, da diretora da Faculdade de Medicina, Alamanda Kfoury Pereira, da vice-diretora, Cristina Alvim, e de familiares, amigos, professores, alunos e servidores técnico-administrativos em educação.
A diretora da Faculdade, Alamanda Kfoury, discursou sobre o professor Antônio Cabral, de quem foi aluna e orientanda de mestrado e doutorado. “Ele sempre levou o orgulho de ser UFMG e a perinatologia como ciência e arte. Viveu intensamente as atividades do seu tempo, destacando-se pelo respeito e pela compaixão com as pacientes gestantes e seus fetos”, disse.
Em seu discurso, Cabral agradeceu às pessoas que passaram pela sua carreira na Universidade. “Tive grandes mestres que me ensinaram a obstetrícia nesta casa, muitos alunos, que me ensinaram a ser professor, e muitos companheiros, que me acompanharam nessa atividade”, lembrou-se com carinho.
A reitora da UFMG na gestão 2002-2006, Ana Lúcia Gazzola, foi a responsável pelo discurso de homenagem ao professor Edison Corrêa. “Aprendi com ele que a vinculação à sociedade deve ser o eixo de toda a ação da universidade. Edison é daquelas raras pessoas cujas ações são orientadas por convicções. Prática e teoria se articulam, uma não existe sem a outra. Lembro de sua enorme capacidade de agregação de pessoas”, destacou.
Edison, por sua vez, disse que a nomeação para emérito foi uma das notícias mais fortes que recebeu na vida. “Estou muito honrado por ver aqui docentes, profissionais, familiares, clínicos e amigos, por vivências e convivências. Foram 57 anos de trabalho no magistério e na clínica”, pontuou. Ele lembrou a prisão no Dops durante a ditadura militar e resumiu sua carreira em três palavras: “humildade, emoção e gratidão.”
A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, destacou que é sempre um orgulho para a Universidade outorgar o título de emérito a professores que contribuíram com a história da UFMG. “Antônio e Edison têm em comum o fazer público em nome do nosso estado e dos nossos cidadãos. Esse título transborda os limites de uma faculdade específica. Agora eles são eméritos de toda a UFMG, já que afetaram com seus atos a escrita da história desta Casa”, concluiu.
Edison Corrêa: trajetória marcante na Faculdade de Medicina da UFMG

A história de mais de 50 anos dedicados à Faculdade de Medicina teve início em 1964, quando Edison José Corrêa iniciou seus estudos após ser aprovado em 7º lugar, em um grupo de 150 pessoas, por meio de um curso pré-médico. Graduado em Medicina em 1968, Corrêa completou a residência médica em pediatria em 1969. Em seguida, foi contratado como professor auxiliar do Departamento de Pediatria (PED) em 1971, onde atuou nos campos da obstetrícia, neonatologia e perinatologia. Para ele, seu percurso como professor no Departamento de Pediatria foi uma experiência importante devido à oportunidade de trabalhar em grupo.
“Eu nunca trabalhei sozinho. O pessoal falava que eu era até um mediador de conflitos, porque, qualquer confusão, eles me chamavam para tentar resolver. Um dos primeiros trabalhos de campo que eu tive em grupo foi em Bocaiúva, junto a um outro professor do Departamento e mais dois alunos da época”, contou. Após se tornar professor da Pediatria, Edison trabalhou como representante e coordenador do Departamento no Colegiado de Curso. Em 1994, o professor foi eleito diretor da Faculdade de Medicina, cargo em que se manteve até 1998. Como diretor, Edison trabalhou para a informatização da Faculdade, modernizando os seus equipamentos.
Após o mandato na direção, Corrêa foi convidado a assumir o cargo de pró-reitor de Extensão da UFMG, no qual permaneceu de 1998 a 2006. Além disso, foi presidente do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras de 2003 e 2005. O professor também atuou como vice-diretor do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), onde hoje é assistente. Edson também protagonizou a criação da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), iniciativa que visa à qualificação de profissionais de saúde em todo o país.
Antônio Cabral: implementação da medicina fetal no país

Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, o professor Antônio Carlos Vieira Cabral chegou a Belo Horizonte em 1968. Na época, o vestibular para a UFMG era realizado de maneira singular: as provas aconteciam no Estádio Mineirão. Em 1974, ele ingressou na Faculdade de Medicina, onde se formou em 1979.
Durante sua formação médica, viveu uma experiência que considera determinante para a qualidade da formação profissional: a integração entre disciplinas básicas e clínicas, todas ministradas na sede da Faculdade de Medicina. “A verdadeira integração ‘bench to bed’, da bancada do laboratório ao leito hospitalar”, contou. Durante as atividades práticas e de internato, o professor passou por diversos hospitais de Belo Horizonte, como a Clínica Médica no Hospital Júlia Kubitschek, a Obstetrícia na Cruz Vermelha (hoje Hospital Semper) e as Urgências nos hospitais João XXIII e Amélia Lins.
Em 1980, Cabral iniciou a residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital da Cruz Vermelha, então pertencente à UFMG. Em 1983, concluiu o Mestrado na área de Obstetrícia, com a dissertação Efeitos do Tabagismo na Gravidez. Em seguida, mudou-se para São Paulo, onde finalizou o doutorado na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com a tese Efeitos da nicotina em fetos de ratas prenhes.
Seu desejo de ampliar o conhecimento o levou aos Estados Unidos em 1990, onde realizou o pós-doutorado na University of California, em San Francisco. Lá, aprofundou-se nas técnicas de diagnóstico de doenças fetais por meio de análise de DNA, à época obtido de forma invasiva no ambiente uterino.
Ao retornar à UFMG após o pós-doutorado, Cabral trouxe na bagagem uma visão inovadora da prática obstétrica: o conceito do feto como paciente. Inspirado pelo contato com os professores pioneiros da Medicina Fetal nos Estados Unidos, ele implementou, no Hospital das Clínicas da UFMG, o primeiro centro de atendimento em Medicina Fetal do Brasil. O centro consolidou-se como referência nacional, oferecendo formação para médicos de diversas áreas – Obstetrícia, Pediatria e Genética – e produzindo pesquisas de grande impacto sobre a saúde fetal. Em 1995, Cabral publicou o livro O feto como paciente, que ajudou a consolidar a Medicina Fetal como subespecialidade médica no Brasil.
Em 2003, tornou-se professor titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG. Após 34 anos de dedicação à docência, aposentou-se em 2016. “Orgulho-me de ter ajudado a criar uma geração de médicos que adotaram o conceito de ver o feto como um indivíduo, reconhecendo seus interesses específicos, mesmo antes do nascimento”, celebrou.
Ao longo da carreira, Cabral publicou 14 livros, todos nas áreas de obstetrícia e medicina fetal, e 262 artigos científicos completos, sendo 70 em periódicos internacionais. Participou ativamente de pesquisas financiadas por importantes agências de fomento. Destaca-se, entre elas, a colaboração com a Freie Universität Berlin, apoiada pelo programa Capes/DAAD, que resultou em relevantes estudos sobre pré-eclâmpsia. Além das atividades de pesquisa, Cabral se dedicou à formação de recursos humanos: orientou 40 dissertações de mestrado e 24 teses de doutorado.

Outras fotos do evento podem ser vistas no site da Faculdade de Medicina.