Gestão hídrica depende de proteção das áreas verdes, afirma ecólogo da USP
José Galizia Tundisi, da USP, ministrou a conferencia inaugural de simpósio sobre água agricultura e saúde na UFMG
O Brasil se encontra em uma região de baixo a médio estresse hídrico, o que significa que há disponibilidade de água suficiente para o desenvolvimento do país e uma grande parcela desse recurso está presente na região Amazônica, que tem pequena concentração humana e industrial.
“Esse é um contraste importante: as regiões que mais demandam água são aquelas que a possuem em menor quantidade”, disse o professor José Galizia Tundisi, da USP, na conferência inaugural do simpósio Água na mineração, agricultura e saúde – o que a ciência tem a dizer a partir de Minas Gerais, que começou nesta quarta-feira, 19, na UFMG. O evento integra a programação que celebra os 90 anos da Universidade e encerra as comemorações do centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Segundo o professor, que já presidiu o CNPq e fundou o Instituto Internacional de Ecologia, com sede em São Carlos (SP), a proteção da floresta é fundamental para a vitalidade dos recursos hídricos do país, pois há, na região amazônica, grande interação de sistemas terrestres e aquáticos, que formam a maior biodiversidade do planeta: “As chuvas do Sudeste também provêm da Amazônia. A região tem, portanto, um papel local, regional e continental de extrema importância”.
Preservar áreas verdes, de acordo com o professor Tundisi, é, aliás, condição fundamental para a gestão de recursos hídricos em qualquer parte. “A quantidade de produtos químicos utilizados no tratamento de água na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, é muito maior no sistema Guarapiranga, que não tem cobertura vegetal, do que no Cantareira. Isso mostra que a proteção das florestas é um provedor de qualidade de água”, afirmou o ecólogo.
De acordo com o pesquisador, o manejo integrado de recursos ainda é pouco desenvolvido no Brasil, e muitos planos diretores de municípios não põem a gestão dos recursos hídricos como prioridade, o que compromete sua qualidade e dificulta a preservação. Ainda sobre os desafios enfrentados pelo poder público, Tundisi destaca a dificuldade de ampliação do saneamento básico e dos sistemas de monitoramento da qualidade das águas.
Investimento com retorno
Na abertura do simpósio, que reuniu a comunidade da UFMG e representantes da ABC e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o reitor Jaime Ramírez reforçou a importância da contribuição das universidades para o progresso da ciência. “A UFMG avançou não apenas na formação de profissionais, mas pode, sobretudo, se orgulhar do fato de que aqui os recursos públicos são muito bem investidos e trazem retorno para a sociedade”, afirmou.
O presidente da ABC, Luiz Davidovich, falou sobre os desafios enfrentados pela ciência e tecnologia brasileira e lembrou a posição da UFMG como uma das quatro maiores detentoras de patentes no país. “É preciso que a sociedade e os governos saibam que a ciência é fundamental para a sociedade brasileira”, justificou.
Em convergência com Davidovich, o presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, destacou a emergência de soluções para os problemas hídricos, acrescentando que a universidade deve cumprir papel importante nesse processo.
O evento prosseguiu na tarde desta quarta-feira com discussões sobre mineração e escassez hídrica, água, saúde e doença, implantação de políticas e indicadores de governança, além da apresentação de casos bem-sucedidos de gestão. Nesta quinta-feira, o evento, fechado ao público, contará com mesa-redonda sobre Governança, integração e educação. Ao fim, está prevista a formulação de documento com diretrizes para a área de gestão hídrica.