Noite de arte e cultura: Centro Cultural abre três novas exposições nesta sexta-feira
Com entrada gratuita, as mostras trazem obras que fazem homenagens a outros autores e tratam do autoritarismo militar e do imaginário sobre as mulheres latinas

Nesta sexta-feira, 13, às 19h, o Centro Cultural UFMG estreia três novas exposições em sua programação. No Espaço de Experimentação da Imagem, estreia a exposição Insegurança Pública, do artista visual Riel; na sala Ana Horta, estreia a exposição Exercícios de admiração, da artista Patricia Brandstatter; e, na sala Celso Renato de Lima, estreia a exposição Sangre latina, resultado da colaboração de treze artistas residentes em Belo Horizonte. A visitação é gratuita e pode ser feita até 6 de julho, das terças às sextas, das 9h às 20h, e aos sábados, domingos e feriados das 9h às 17h. O Centro Cultural UFMG fica na Avenida Santos Dumont, 174, no centro de Belo Horizonte.

Com enfoque na atuação militar no país, Riel faz uso de uma arte política e engajada a fim de debater o autoritarismo no Brasil. Quinze obras compõem a mostra: treze telas e duas esculturas. Em outra sala, por meio de um "diálogo convertido em imagem", Patricia reúne obras que homenageiam suas referências artísticas. Por fim, reunindo obras de treze artistas da capital mineira, a exposição Sangre latina apresenta 53 criações voltadas para o imaginário da mulher latino-americana.
Memória recente
Com quinze obras (treze pinturas e duas esculturas), a mostra Insegurança Pública, do artista visual Riel, traz uma “arte política e engajada”, como destaca o release de divulgação, interessada em promover o debate sobre o autoritarismo militar brasileiro. "É evidente a relação entre o poder e os militares na história do Brasil, o que deixou um legado muito forte de autoritarismo e do emprego da força do Exército e da polícia nas relações entre o Estado e a sociedade brasileira", lembra o jornalista Pablo Pires Fernandes. "E nessa sociedade, já marcada pelo racismo e pela discriminação social, os traços arraigados do autoritarismo se manifestam quase sempre por meio da violência. Não é difícil concluir que o fardo mais pesado recai sobre a população mais vulnerável: pretos, pobres, mulheres e grupos ditos ‘marginalizados’. Além, por suposto, de qualquer um que questione o status quo."

As treze telas expõem militares, da polícia ou do Exército, em situações de confronto ou em imagens marcantes de referência histórica. "A fusão temporal, em que alguns aspectos e personagens são obscurecidos, reforça a marca do autoritarismo, que persiste na política brasileira, mas também no dia a dia da população", demarca Pablo. "A denúncia de Riel retoma ícones do passado e os redimensiona: o cavalo de Deodoro da Fonseca, a imagem do índio carregado no pau de arara num desfile militar em Belo Horizonte durante a ditadura e a prisão de jovens em confronto com a polícia", destaca.
"Se as telas explicitam a violência, as duas esculturas que compõem a exposição fazem menções ao jogo de passado e presente de maneira sutil. ‘Ossadas’, composta de peças de barro cobertas de tinta negra, é uma referência ao Cemitério de Perus, na Zona Norte de São Paulo, onde mais de 1.000 vítimas da ditadura foram sepultadas clandestinamente pelo regime militar. A outra escultura, ‘Constituição’, é também uma denúncia sobre a Carta Magna brasileira, que sofre constantes ataques e tem sido descaracterizada por sucessivas violações, corte de direitos e conquistas de sua essência cidadã", destaca Pablo.

Fontes de inspiração
Exercícios de admiração, de Patricia Brandstatter, tem curadoria de George Rembrandt Gutlich, professor da Escola de Belas Artes (EBA). As obras da mostra homenageiam poetas e pintores, "por meio de uma espécie de diálogo que se converte em imagem", como se afirma no material de divulgação. O nome e conceito da exposição foram extraídos de um livro do escritor romeno Emil Cioran, no qual o filósofo reuniu artigos e prefácios sobre outros escritores.
"A ideia radical da pintura, entendida aqui por luz, cor e gesto, antecede e guia o pensamento de Patricia Brandstatter. Quando propõe homenagear outros artistas, da visualidade e da palavra, ela busca antes de tudo a matéria que amalgama as imagens aninhadas em seu espírito. Por esse mecanismo, tudo é forma: palavra, som, tempo. Guiada por esse lume, a turva seara do imaginário irrompe em cenas que, prefiguradas sob a premissa da pintura, buscam equivalências na matéria", afirma George Rembrandt Gutlich.
Latinidade feminina em foco
“As obras [de Sangre Latina] reúnem, por múltiplas linguagens que se alternam, matérias de expressão como resistência. Essa resistência e produção ativa se apresentam em caráter de busca espiritual, de manifestação política, de reconexão com a natureza e com os ancestrais personificados muitas vezes nos saberes da bisavó, da avó e da mãe, além de estar na ordem da não submissão aos padrões estéticos”, explicam Carina Aparecida, Govinda Navegando e Mirele Brant.
Com curadoria de Mirele Brant e Govinda Navegando, a mostra reúne 53 obras, que vão de instalações, esculturas e objetos a pinturas, colagens e fotografias, explorando as mais variadas formas de arte. Por meio do olhar de artistas de Belo Horizonte, a “proposta dessa mostra é apresentar a potencialidade das mulheres desse território”, destaca o release do evento.
“Por uma latinidade que se faça espelho das feridas da colonização, refletidas nas fronteiras de nossos próprios corpos. Por uma latinidade que, se preciso, se recuse a ser, na busca profunda e incansável pelas raízes que tentaram enterrar. Por uma latinidade que, em seu emaranhado de limitações e contradições, seja também território fértil para o que criamos e que abrace as múltiplas maneiras de ser, sentir, ocupar e olhar para este território de tantas memórias que habitamos”, completam as artistas.
