Abertura da SBPC UFMG teve defesa do orçamento para ciência e tecnologia

A oposição dos gestores e da comunidade acadêmica ao congelamento dos gastos em educação, ciência e tecnologia não pode ser confundida com uma postura de irresponsabilidade com o momento que o país atravessa, afirmou o reitor da UFMG, Jaime Ramírez, na noite deste domingo, 16 de julho, na solenidade de abertura da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“Reconhecemos a necessidade de preservar o equilíbrio das finanças públicas”, ponderou o reitor. Contudo, lembrou que a solução dos problemas fiscais do estado e o financiamento dos gastos sociais dependem da melhoria na eficiência e na qualidade do gasto público – “algo que não temos visto” – e da retomada do crescimento econômico.

A manifestação contra a perda de conquistas, que ameaça o financiamento da pesquisa, permeou os discursos da noite. A presidente da SBPC, Helena Nader, enfatizou a necessidade de lutar “contra o obscurantismo que assombra a ciência” e contra retrocessos na legislação que põem em risco o estado laico, a ciência e a educação no país. A professora, que nesta edição da Reunião Anual deixa a direção da entidade, afirmou que não se pode pensar um modelo de nação soberana sem ciência, tecnologia e inovação.

Realizada no auditório nobre do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD 1), no campus Pampulha, a solenidade foi transmitida pela internet e teve interpretação simultânea em Língua Brasileira de Sinais (Libras). O evento foi aberto com apresentação do Ars Nova – Coral da UFMG  e com a execução do hino nacional brasileiro pela diretora da Escola de Música, Mônica Pedrosa, acompanhada pelo quarteto de cordas Barros.

O evento integra as comemorações de 90 anos da UFMG, que recebe pela quinta vez a Reunião Anual – as quatro anteriores foram realizadas em 1965, 1975, 1985 e em 1997, há exatos 20 anos.

“Receber a SBPC, mais uma vez, e por ocasião dos 90 anos, é um presente para todos nós”, disse o reitor Jaime Ramírez, acrescentando que a contribuição para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, a promoção e disseminação do conhecimento científico e a defesa intransigente da educação, da ciência e da tecnologia, são “valores fundacionais da SBPC, que se entrelaçam aos da UFMG”.

Nesta edição, a SBPC homenageou os cientistas Sérgio Henrique Ferreira (1934-2016) e Ângelo Machado e a assessora Beatriz Bulhões. Durante a solenidade, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges, entregou ao jornalista Reinaldo José Lopes o 37º Prêmio José Reis de Divulgação Científica.

O maior evento científico da América Latina segue até o próximo sábado, 22. A programação científica inclui 69 conferências, 82 mesas-redondas, 16 sessões especiais e 57 minicursos. Também integram a agenda cinco assembleias, duas reuniões de trabalho e seis encontros de sociedades científicas e entidades, sessão de pôsteres e lançamento de livros.

Gratuito e aberto ao público, o evento deve atrair diariamente ao campus Pampulha cerca de 10 mil pessoas. A inscrição é necessária somente para quem quiser frequentar minicurso (vagas limitadas) ou obter o certificado de participação geral e o material do evento.

Esperança

Coordenadora local da 69ª Reunião Anual, a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, explicou que essa edição, com o tema Inovação – Diversidade – Transformações, se propõe a conjugar a reflexão sobre inovação, em seus vários matizes e toda a diversidade que o assunto acolhe, “com as transformações que queremos, para as nossas instituições, para o nosso país e que alimentam as nossas utopias”.

Para a vice-reitora, a universidade é, antes de tudo, a esperança e a crença desimpedida e ousada no poder do conhecimento como instância de formação humana e cidadã, como meio de interação com a sociedade que a sustenta e como instrumento de construção de sociedades cada vez mais justas e equânimes, capazes de propiciar a todos condições para uma vida mais digna.

Sandra Goulart Almeida citou o antropólogo mineiro Darcy Ribeiro, “defensor ferrenho das universidades na construção do país”, para quem nenhuma sociedade pode viver sem universidades. A vice-reitora manifestou o anseio de que “possamos juntos construir a universidade de que precisamos, para inventar o nosso país”, disse, ressaltando o importante papel da SBPC nesse contexto.

O professor Jailson Bittencourt de Andrade, que é conselheiro da SBPC e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), também manifestou otimismo e esperança com relação ao papel das instituições de ensino e pesquisa.  Ao lembrar que no século passado a população do planeta se multiplicou por quatro e que no mesmo período a humanidade dobrou a expectativa de vida de 40 para 80 anos, Andrade afirmou que isso só foi possível graças à ciência.

Mantra

Em defesa das universidades públicas brasileiras, Helena Nader afirmou que a situação de penúria resultante dos cortes provocados pelo ajuste fiscal é parte de um conjunto de deficiências que levam a uma ruptura no sistema educacional e científico do país. Tal ruptura, disse a pesquisadora, precisa ser sanada, “com a mesma urgência que se trata uma fratura exposta”. Em sua opinião, é necessário lutar para que o diálogo e o combate coerente voltem a acontecer.

O reitor Jaime Ramírez enfatizou que os gastos em educação, ciência e tecnologia devem ser tratados como investimento num futuro melhor para o país, não como custos correntes, e jamais limitados ou corrigidos pela inflação do ano anterior. Tal concepção, na opinião da presidente da SBPC deve ser “repetida como um mantra” pela comunidade científica.

Ao afirmar que a jovem democracia vive dias decisivos, Jaime Ramírez defendeu uma rigorosa e rápida apuração de todas as denúncias e o desejo de que “os poderes constituídos, na sua missão de resguardar a democracia e a defesa intransigente do estado de direito, garantam também, com imparcialidade, o pleno funcionamento das instituições democráticas, a liberdade dos movimentos sociais e todas as instâncias de representação social”.

Na opinião do reitor da UFMG, cabe às instituições ficar vigilantes. E apontou importantes desafios que estão postos à atual geração: garantir a continuidade dos avanços já alcançados, “sem nenhum retrocesso”, promover o desenvolvimento acelerado das regiões menos desenvolvidas do Brasil e, à luz do Marco Legal de Ciência e Tecnologia, ensejar a mais rápida introdução das inovações ao processo produtivo do país.

A presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Tamara Naiz, externou as angústias dos pós-graduandos brasileiros diante dos cortes, sobretudo nos dois últimos anos. “Temos medo da placa de ‘não há vagas’. Acreditamos no Brasil e queremos mais para o nosso povo”, disse a pesquisadora, ao defender a realização imediata de eleições diretas.

Presenças

Compuseram a mesa o reitor da UFMG, Jaime Ramírez, a presidente da SBPC, Helena Nader, a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, o secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Elton Santa Fé Zacarias, representando o ministro Gilberto Kassab, o diretor geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, a presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Maria Zaira Turchi, o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTIC, Jailson Bittencourt de Andrade, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, o presidente do CNPq, Mário Borges Neto, e a presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Tamara Naiz.

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