Absorção das inovações tecnológicas nas periferias é sempre incompleta, afirma professor da UFMG

As revoluções tecnológicas que ocorrem mundo afora se materializam de forma desigual. E a desigualdade provoca, nos países periféricos, uma absorção incompleta das inovações porque, nessas nações, as novas tecnologias eclodem enquanto tecnologias anteriores ainda estão começando a ser assimiladas.

Esse processo caracteriza o modo como a Índia, a China, a Rússia e as regiões da África Subsaariana e da América Latina evoluem tecnologicamente. Esse fenômeno é analisado no livro Technological revolutions and the periphery: understanding global development through regional lenses, de autoria do professor Eduardo da Motta e Albuquerque, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG, publicado pela prestigiada Editora Springer, baseada na Alemanha. Três exemplares impressos da obra estão disponíveis na biblioteca da Face, no campus Pampulha. 

O Portal UFMG conversou com Albuquerque a respeito do livro e das estratégias que podem ser usadas para diminuir a desigualdade das propagações tecnológicas pelo mundo. Segundo o professor, “a questão-chave para diminuir a desigualdade está na ampliação das forças assimilativas na periferia. Dada a ausência de automatismo e/ou elementos homogeneizadores na propagação da tecnologia desde o centro, a iniciativa na periferia é a variável decisiva".

Por que a propagação de tecnologias e da inovação se dá de forma desigual no mundo?

As forças expansivas de revolução tecnológica não se propagam de forma automática e homogênea e não operam de forma a estimular o aparecimento de réplicas pelas diversas regiões do planeta. Na verdade, ocorre o contrário, ou seja, não é incomum a existência de mecanismos contrários à difusão das novas tecnologias, o que pode ser exemplificado pelo fato de que, durante a Revolução Industrial, o Reino Unido proibiu a exportação de máquinas têxteis.

Por isso, a chegada de tecnologias revolucionárias na periferia depende da operação de forças assimilativas criadas na região e de esforços internos para a absorção ativa dessas inovações. Temos que salientar, também, a necessidade de ação política e de construção institucional, pois diferentes regiões/países têm variados sistemas econômicos e arranjos políticos, que determinam a sua forma de inserção na ordem global. 

A construção de sistemas nacionais de inovação pode, didaticamente, sintetizar o que é necessário para a operação das forças assimilativas na periferia – os diferentes ritmos de sua construção na periferia são um componente da explicação da desigualdade da propagação de avanços tecnológicos no mundo.

Que consequências essa propagação tecnológica desigual traz para os países?

Essa desigualdade é resultado de um interplay entre as forças expansivas, geradas no centro, e as forças assimilativas, criadas na periferia. Esse interplay tem sua própria dinâmica, na medida em que diferentes revoluções tecnológicas têm diferentes forças expansivas, e as forças assimilativas devem se transformar para lidar com diferentes características das inovações. Assim, a forma da propagação das revoluções tecnológicas afeta tanto o centro quanto a periferia.

Na periferia, ocorre a permanente repetição de uma absorção incompleta, pois quando os processos tecnológicos relativamente tardios começam a se generalizar, uma nova revolução tecnológica eclode no centro, sendo ponto de partida para um novo processo de assimilação. Assim, há na periferia diferentes combinações entre tecnologias mais recentes e tecnologias anteriores, além de diferentes combinações da polaridade modernização-marginalização. Todo esse processo acaba constituindo diversas variedades de capitalismo na periferia.

Confira a entrevista completa em matéria de Luana Macieira, para o Portal UFMG.

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG