Acervo da Sala Helena Antipoff, na Biblioteca Central, é registrado como patrimônio da UFMG

Mais de 200 cartas trocadas entre a educadora e uma de suas principais colaboradoras foram digitalizadas e estão disponíveis para consulta on-line

A trajetória da psicóloga e educadora Helena Antipoff está registrada por meio de documentos inéditos como manuscritos, correspondências, publicações de circulação restrita e fotografias. Parte desse acervo está acondicionada na Sala Helena Antipoff, no quarto andar da Biblioteca Central da UFMG, e passou, recentemente, por minucioso trabalho de higienização, tratamento e registro, em continuidade a um processo iniciado por equipe do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Escola de Belas Artes.

Uma equipe da Faculdade de Educação (FaE) digitalizou mais de 200 correspondências e registrou, no catálogo on-line, como acervo da Biblioteca Universitária e patrimônio da UFMG, cerca de 1 mil livros e aproximadamente 600 fascículos de periódicos. Entre eles, destacam-se publicações raras dos anos 1930, que reúnem resultados de pesquisas sobre a criança mineira, realizadas no laboratório de psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, sob a direção de Antipoff. Os trabalhos tinham como foco a chamada escolologia, a ciência da escola, campo do conhecimento sistematizado pela educadora.

Com o objetivo de pesquisar os diversos aspectos da instituição escolar e os ideais e interesses da criança, a pesquisadora enviava suas alunas a diversas escolas para coletar os dados. As estudantes eram comparadas, metaforicamente, às abelhas que traziam o mel para serem analisados em laboratório sob a luz de duas grandes vertentes: a construtivista de Genebra – com ênfase no interesse e no desenvolvimento das crianças – e a socioconstrutivista da psicologia soviética, interessada no impacto do contexto cultural no desenvolvimento dos meninos e meninas.

“Em um dos estudos realizados, em Belo Horizonte, sobre os quocientes de inteligência, Helena Antipoff verificou que as médias dos grupos escolares situados nas periferias da cidade eram inferiores àquelas dos localizados na região central, mas isso não significava que as crianças eram menos inteligentes, apenas que viviam em contextos com oportunidades diversas. Ela sugeriu, então, em uma das cerca de 200 correspondências trocadas com Claparède, a incorporação de um coeficiente sociocultural no cálculo do resultado do teste de inteligência. Em outra carta, sugeriu que o pesquisador coordenasse um trabalho de recolher as diversas experiências educacionais dos seus alunos em seus países de origem, fazendo uma espécie de enciclopédia com exemplos de crianças de vários lugares do mundo”, destaca a professora Regina Helena Campos, da FaE, que preside o Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA). Campos liderou a equipe que realizou os trabalhos de tratamento e registro do acervo de Antipoff, da qual participaram a bibliotecária Moema Brandão e bibliotecários e estagiárias da própria FaE.

Cartas

Existe um projeto de digitalização dessas correspondências trocadas com Claparède e das 700 cartas que a educadora e o filho Daniel Antipoff trocaram entre 1929 e 1938, período em que ele era interno na escola experimental de Beauvallon, em Dieulefit, no Sul da França. Atualmente, já foram digitalizadas e disponibilizadas, no catálogo on-line da UFMG, as 276 correspondências trocadas entre Helena Antipoff e Helena Dias Carneiro, uma de suas colaboradoras, que, na condição de diretora da Sociedade Pestalozzi no Rio de Janeiro, fazia a ponte com educadores importantes, como Anísio Teixeira.

Antes de serem catalogados, os itens da coleção foram higienizados em máquina própria e acondicionados, quando necessário, em caixas protetoras. Esse trabalho seguiu protocolo orientado pela bibliotecária Diná Araújo, que atuou na Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras da UFMG (Dicolesp).

Moema, que se aposentará em julho, disse ter sido gratificante finalizar a carreira na UFMG com a execução desse projeto na Sala Helena Antipoff. “Fiquei encantada com a trajetória da educadora: uma pessoa simples, que não tinha luxo, mas, ao mesmo tempo, tão grandiosa, preocupada com o lado social, humano. A história dela é linda e de valor inestimável, por isso trabalhamos com muito afinco para preservá-la”, salienta.

Acesso

A Sala Helena Antipoff foi formalizada, em 1997, por meio de acordo de cooperação firmado entre o CDPHA, a UFMG, a Secretaria de Educação de Minas Gerais e a Fundação Helena Antipoff. Além de correspondências, recortes de jornais, fotografias e livros, o acervo abriga uma exposição de painéis sobre a vida e a obra da educadora – Helena Antipoff: a mineira universal – e um conjunto de coleções e bases de dados que constituem os Arquivos UFMG de História da Psicologia. Além disso, reúne teses e dissertações defendidas por integrantes do grupo de pesquisa História da Psicologia e Contexto Sociocultural e de outros grupos que investigam temas correlatos e um conjunto de publicações do CDPHA.

“O Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff foi criado com dois objetivos: preservar a memória e divulgar a obra da educadora. O acervo que está aqui na UFMG é constituído, sobretudo, pelos materiais que pertenciam ao filho Daniel. Na Fundação Helena Antipoff, por sua vez, estão itens institucionais da Fazenda do Rosário e  pertences da educadora utilizados ao longo da carreira e de sua experiência naquele local”, explica Regina Campos.

O acervo da Sala Helena Antipoff não está disponível para empréstimo domiciliar, mas é possível conferir a localização de seus materiais por meio de buscas (por autor, título ou assunto) no catálogo on-line. Visitas ao espaço para pesquisa podem ser agendadas pelo e-mail colesp@bu.ufmg.br.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Divisão de Comunicação do Sistema de Bibliotecas da UFMG

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