Biblioteca da Escola de Música UFMG abriga segundo maior acervo nacional do universo do violão
Raridades, como partituras manuscritas e itens de apresentadores de rádio, integram a coleção de José Pascoal Guimarães
Cerca de dez mil partituras, manuscritas e impressas, e aproximadamente mil LPs, além de fotos, gravações, discos, cartas, entre outros documentos e objetos relacionados ao violão e sua história — principalmente em Minas Gerais —, compõem o acervo doado pela família do colecionador José Pascoal Guimarães para a Biblioteca da Escola de Música da UFMG.
Segundo Humberto Amorim, maior estudioso dos acervos de violão do Brasil, a coleção Pascoal Guimarães configura-se, juntamente com os arquivos de Ronoel Simões – sob a guarda do Centro Cultural da Cidade de São Paulo –, como uma das mais importantes bibliotecas específicas de violão do país. A coleção abriga diversos itens de valor histórico, musicológico e musical.
Entre as preciosidades, está um disco de 78 rotações de Andrés Segovia e as partituras que o Maestro Torres registrou das gravações da obra de Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955). O acervo conta também com partituras do violonista e compositor Mozart Bicalho, da década de 1950, época em que se mudou de Braúnas, interior de Minas, para Belo Horizonte. Na capital, ele residiu por dois anos na casa de José Pascoal e participou de saraus, alguns com a presença da cantora e compositora Clara Nunes.
Outro destaque do acervo é a gravação em vídeo, feita pelo colecionador, durante uma visita que recebeu do grande violonista carioca Raphael Rabello (1962-1995). A filmagem foi fonte de pesquisa da dissertação Raphael Rabello e 'Odeon', de Ernesto Nazareth, defendida em 2007, por Alvimar Liberato, no Programa de Pós-graduação em Música da UFMG.
Espelho das rádios belorizontinas
O acervo de Pascoal Guimarães tem ainda mais de 30 partituras, manuscritas por ele próprio, das composições de violonistas empíricos, como João Pinheiro e os apresentadores de rádio José Augusto Vieira e Sebastião Idelfonso, além de João Pinheiro. Segundo o professor do Departamento de Instrumento e Canto da Escola de Música, Fernando Araújo, que intermediou o processo de doação do acervo à UFMG, “por meio desse material, pode-se ter um espelho da atividade musical das rádios belo-horizontinas nos anos 50 a 70”. Araújo acrescenta que, possivelmente, o material será objeto de estudo de seu orientando do mestrado, Roger Deboden.
Na avaliação preliminar da coleção, o estudante da UFMG destacou a riqueza do conteúdo do acervo, “que oferece a possibilidade de resgatar, além do contexto histórico e sociocultural do cenário da música da época, as obras de compositores que eram nomes frequentes nas emissoras, mas que, por vezes, ficavam às margens da literatura do violão”.
Graduação pioneira na UFMG
A UFMG foi a primeira universidade pública do país a ofertar o curso de violão, em 1976. Seu patrono, o professor José Lucena, conta que, ao ser contatado pela família de Pascoal, de quem era amigo, para falar sobre a doação do acervo, não hesitou em indicar a Escola de Música da UFMG.
“A Escola de Música da UFMG ancora os principais profissionais da área e é o lugar ideal para abrigar essa importante biblioteca. Conheci o Pascoal anos antes de introduzir o curso de violão na Universidade. Como ele tinha muitos recursos, adquiria os instrumentos, discos e partituras mais recentes, e o acervo dele era sempre atualizado. A casa do Pascoal era frequentada por todos nós, profissionais da música, era onde podíamos encontrar as novidades da área. Espero que a coleção continue sendo usufruída por aqueles que buscam uma formação sólida. Quem tiver juízo, que beba nessa fonte de pesquisa maravilhosa”, aconselha o professor.