Centro Cultural UFMG realiza exposição virtual em homenagem ao centenário de Celso Renato
O Centro Cultural UFMG disponibilizou a sexta edição do projeto Diálogos: Artista e Curador(a), que contempla o pintor Celso Renato, em virtude de seu centenário. A exposição virtual tem a curadoria da artista e professora Claudia Renault e de sua assistente Bruna Mibielli. Visite a mostra aqui.
As coisas sem importância são bens de poesia – por Claudia Renault
Para comemorar os 100 anos de Celso Renato (1919 - 1992), nada melhor que uma exposição individual desse grande artista que é considerado um dos mais singulares em diálogo com a tradição construtivista mineira.
Abrangendo três fases do seu trabalho, procuro enfatizar um caminho no qual fica evidente que na arte as coisas não acontecem por acaso.
Os primeiros desenhos já deixam entrever a sua liberdade de criação, de quem sempre viveu em um ambiente de arte e poesia. Esses grafismos revelam o desejo de registrar algo premente que já não pode esperar. Daí para a pintura foi um pulo.
Celso aparece nos anos 60, no cenário das artes de Belo Horizonte, já como um homem maduro, com uma pintura expressionista, de traços fortes e largos. A ideia é de um sujeito à procura de si, da sua alma, na maneira mais íntima de se expressar.
É nesse momento que as coisas do mundo começam a conversar com ele. Celso parece escutar o silêncio de outros materiais que não a tela. Nessa hora, ele revela a sacralidade das coisas mais rudes. É com um gesto mínimo, certeiro, de quem lança uma seta, que Celso Renato inicia suas intervenções nas madeiras – restos de materiais da construção civil. Uma vez que o material utilizado já carrega em si texturas, falhas, pregos, Celso inclui esses elementos e cria uma relação muito especial entre sua proposta geométrica e a organicidade do suporte. É nesses tapumes que o artista enfatiza as formas e revela a sacralidade e a verdadeira alma das coisas. Nessa hora, lembro-me de Manoel de Barros ao dizer que “as coisas sem importância são bens de poesia”. Celso Renato me ensinou isso antes de Manoel. Ele retira do refugo a madeira e trava com ela um diálogo. Nesse diálogo amoroso com a matéria, dá vida ao que já estava perdido.
É com as suas interferências sobre a madeira que Celso marca presença nas artes plásticas do Brasil e do mundo. Estabelece uma conversa com deuses e ancestrais. Formas e cores puras que nos remetem a rituais, conversas veladas com povos que fazem arte como verdade, como religião, como necessidade do registro da existência.
É dessa maneira que esse “artista dos artistas” marca a sua passagem pela terra, sem pressa, sem alarde. A obra solitária de Celso Renato de Lima é um exemplo de infinitude, de secretos e estranhos caminhos abertos apenas a seus apelos mais íntimos.
Homenageado
Celso Renato de Lima (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1919 - Belo Horizonte, Minas Gerais, 1992). Pintor. Ainda criança, transfere-se com a família para Belo Horizonte, Minas Gerais. Recebe ensinamentos básicos de pintura de seu pai, o também pintor acadêmico Renato de Lima (1893-1978). Forma-se em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, em 1944; trabalha como representante de empresas de produtos químicos e como advogado da Telecomunicações de Minas Gerais S. A. - Telemig de 1965 a aproximadamente 1985. Paralelamente, dedica-se à carreira artística e passa a expor suas obras a partir de 1962. Seus primeiros trabalhos abstratos mostram seu arrojamento estético para a classe artística mineira. Desde a década de 70, realiza pinturas-assemblages com base em madeiras recolhidas em obras de construção civil. Nos fragmentos selecionados das madeiras, cria, com o uso de poucas cores, composições abstrato-geométricas orientadas pelas marcas nelas existentes.
Claudia Renault
Artista e professora da Escola Guignard, Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG, desde 1997. Doutora em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, Portugal (2014). Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2008). Especialista em Pesquisa e Ensino no Campo das Artes Plásticas pela Escola Guignard, UEMG (2000). Bacharel em Belas Artes pela Escola Guignard, UEMG (1978). Trabalha sobre as relações entre as artes no contexto da Arte Contemporânea. Divide as suas atividades artísticas com a prática do ensino, pesquisa, publicação e administração universitária. Fundou, em contexto pandêmico, o grupo de estudos ESTE: Estudo em Arte, com profissionais da Escola de Belas Artes, UFMG e Escola Guignard, UEMG (2020). Tem experiência na área de Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea, relações entre palavra, imagem, objeto, memória, arquivo, apropriação e instalação. Experiência de curadorias em galerias de arte públicas e privadas e gestão cultural.
Diálogos: Artista e Curador(a)
O projeto Diálogos: Artista e Curador(a) pretende disponibilizar exposições virtuais em formato de vídeos documentários mensalmente nas redes sociais do Centro Cultural UFMG. A partir de recortes curatoriais cronológicos, os vídeos trazem uma linha evolutiva no tempo e no percurso da criação do artista, oferecendo ao espectador a oportunidade de percorrer virtualmente pelas obras, por meio de simulação 3D, sendo mediado pelos comentários do artista e do curador.
O projeto vai apresentar nomes expressivos do cenário artístico e oferecer ao público conteúdos com excelência, associados a uma reflexão aprofundada no contexto da arte contemporânea nacional e internacional, permitindo que avancem em seus conhecimentos e nas maneiras de fazer e pensar a arte.
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