Centro de Microscopia da UFMG é contemplado com R$ 25 milhões em chamada da Finep
Instalação foi uma das cinco no país que conseguiram a renovação de seu status de unidade multiusuária de pesquisa
O Centro de Microscopia (CM) da UFMG é a instalação multiusuária de pesquisa brasileira que vai receber o maior aporte de recursos de uma chamada da Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O resultado final da chamada pública foi divulgado no fim do ano passado e prevê o repasse de aproximadamente R$ 25 milhões ao centro sediado na UFMG.
O CM é uma unidade multiusuária de pesquisa nacional reconhecida desde 2016, quando foi contemplada em edital inicial da Finep que alcançou 21 órgãos de pesquisa no Brasil. O edital daquele ano, relembra o vice-diretor do CM, Wagner Rodrigues, previa a reavaliação e a revisão regular dos centros aprovados. No edital de 2023, que teve o resultado divulgado em dezembro passado, apenas cinco dos 21 centros multiusuários aprovados na chamada anterior conseguiram a renovação, entre os quais, o Centro de Microscopia da UFMG.
Wagner Rodrigues explica que o Centro de Microscopia da UFMG, inaugurado em 2006, tem caráter multidisciplinar, o que o diferencia das demais unidades de microscopia do país, e congrega biólogos, farmacêuticos, veterinários, físicos, químicos, engenheiros, geólogos, entre outros pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. “A criação desse espaço na Universidade foi uma iniciativa de grupos de pesquisadores de diversas áreas que já faziam uso da microscopia eletrônica, embora não tivessem, à época, uma estrutura à altura da pesquisa desenvolvida na UFMG. Por isso, o CM foi concebido com o objetivo de servir a todas as áreas da Universidade, sem vínculo com uma unidade acadêmica específica”, esclarece.
O docente do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) explica que o espaço é aberto a pesquisadores de outras instituições, sem barreiras para utilização. “Temos hoje, na Universidade, um centro multiusuário com equipe e competência para atender demandas de outras instituições de pesquisa e também de indústrias, não apenas de Belo Horizonte e Minas Gerais, mas de todo o mundo. Nossa estrutura atual permite que façamos sessões remotas de análise microscópica, durante as quais a tela do microscópio pode ser compartilhada com o pesquisador, que precisa apenas enviar a amostra que será analisada. Com isso, nosso alcance tem sido ainda maior”, assegura Wagner Rodrigues.
Instrumento inédito
Segundo o vice-diretor, o montante de recursos que será repassado ao CM pela Finep vai permitir ampliar o alcance dos trabalhos do centro multiusuário, que conta, neste momento, com cerca de 1,3 mil pesquisadores cadastrados. “Isso sem considerar estudantes, cuja passagem é efêmera. Incluindo o corpo discente, o nosso número de usuários subiria para cerca de 3 mil pessoas”, estima Rodrigues. “Anualmente, o CM realiza de 250 a 300 projetos diferentes, totalizando cerca de 10 mil horas de microscopia anuais”, completa.
Os quase R$ 25 milhões aportados pela Finep serão utilizados para a aquisição de dois instrumentos.”Vamos comprar um novo microscópio de alto nível, que vai se somar a um que já está em atividade há 18 anos. O outro instrumento é inédito tanto na UFMG quanto no Brasil: é um ToF-SIMS [Time of flight - Secondary ion mass spectometry]. Trata-se de um microscópio de massa com resolução de 80 nanômetros lateral e sensibilidade de até uma parte por milhão, ou seja, é capaz de detectar substâncias em nível molecular”, detalha Wagner Rodrigues.
O vice-diretor estima que a ampliação da estrutura do CM deixará o espaço em posição de maior destaque no parque científico nacional e, até mesmo, internacional. “A aquisição desses novos equipamentos inaugura novas vias para o desenvolvimento de pesquisas da UFMG no Brasil, podendo aumentar ainda mais o interesse de outras instituições em desenvolver trabalhos utilizando a nossa estrutura. São instrumentos que chegam para confirmar o CM como um centro de excelência multiusuário em microscopia e microanálise no Brasil, capaz de contribuir para a qualidade da pesquisa, para a formação de recursos humanos de alto nível e para o desenvolvimento de novas tecnologias”, garante.
A aquisição do ToF-SIMS, conta Wagner Rodrigues, era almejada desde 2014. Segundo o professor, o equipamento é fundamental para pesquisas com elementos que só podem ser identificados por meio da espectrometria de massa, entre os quais, o lítio, “que não é detectado por métodos tradicionais e está muito em voga por conta das baterias feitas com esse elemento”. O vice-diretor também acredita que a nova máquina pode ser um “divisor de águas” no atendimento a pesquisas de biotecnologias.
Apoio das startups
Na UFMG, as ações de transferência tecnológica são gerenciadas pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), órgão responsável por gerir o conhecimento científico e tecnológico, por disseminar a cultura de empreendedorismo e por gerenciar a transferência das inovações geradas na Universidade. O diretor da CTIT, Gilberto Medeiros Ribeiro, celebra a manutenção do Centro de Microscopia da UFMG como um centro multiusuário de pesquisa de abrangência nacional.
“É preciso salientar que o status de centro nacional multiusuário não é vitalício, e o processo é bastante competitivo, desde o primeiro edital, em que mais de 200 centros de pesquisa se candidataram. Os contemplados são constantemente avaliados e, se conseguirem oferecer, de fato, a novidade prometida, gerando impacto na pesquisa nacional, alcançam a renovação desse status, o que tivemos a satisfação de conquistar”, comemora.
Professor do Departamento de Ciência da Computação do ICEx, Gilberto Ribeiro salienta a destacada importância da CTIT para que o projeto apresentado à Finep se tornasse o melhor do país. “Nós observamos, nos últimos anos, um aumento considerável do licenciamento de tecnologias para empresas nascentes, as startups. Com base nessa percepção, fizemos um levantamento para saber quais dessas empresas eram usuárias do Centro de Microscopia e constatamos um volume considerável de startups nascidas na Universidade fazendo uso dessa estrutura de pesquisa”, detalha.
Um conjunto de 12 dessas empresas apresentou cartas de apoio à candidatura do CM. “A integração entre atividades de pesquisa e inovação, com mediação da CTIT, ficou evidente em todo esse processo, e acredito que esse fator foi determinante para que o CM se destacasse entre os inúmeros órgãos que submeteram projetos à Finep desde 2016, alcançando agora a renovação do status de centro multiusuário nacional”, conclui.
(Texto de Hugo Rafael)