Desenvolvido na UFMG, implante libera medicamentos em áreas do olho não alcançadas por colírios e pomadas

Doenças que atingem a parte exterior do olho são normalmente tratadas com colírios ou pomadas. O mesmo não ocorre com enfermidades que acometem o segmento posterior do olho, nas regiões onde se encontram o vítreo, a retina e a coroide. Colírios e pomadas não alcançam os locais que precisam receber o medicamento.

Em busca de novas formas de tratamento para doenças da região posterior do olho, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Farmácia da UFMG desenvolveu implante intravítreo para a aplicação localizada e contínua de medicamentos intraoculares. O estudo que culminou no desenvolvimento do implante teve início em 2003, graças a um marco oftalmológico registrado também naquele ano.

“Na época, teve início o uso de medicamentos injetáveis dentro dos olhos, ou seja, agulhas passaram a ser utilizadas. Penetrando nos olhos, elas alcançavam a parte posterior do órgão. O problema é que esse tipo de tratamento é doloroso e aflitivo para o paciente, causando muito desconforto. Era necessário, pois, desenvolver um tratamento mais eficaz e tranquilo”, explica o professor Armando da Silva Cunha, do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia.

O grupo liderado pelo professor Cunha começou a pesquisar métodos de liberação de medicamento intraocular e chegou ao implante polimérico que solta, continuamente, o medicamento contido em seu interior. “Trata-se de um material biodegradável que, depois de liberar toda a substância, será absorvido pelo organismo. O implante tem apenas 0,43 mm de diâmetro e entre 4 e 6 mm de comprimento e é colocado dentro do olho por meio de um sistema de cânulas. A recuperação do paciente também é muito rápida”, explica o professor.

Após a aplicação da anestesia local, o dispositivo é introduzido diretamente no corpo vítreo do olho, procedimento que leva cerca de cinco minutos. Segundo Cunha, a grande vantagem do tratamento é que, diferentemente da injeção, que precisa ser aplicada várias vezes em um intervalo de poucas semanas, o implante é levado ao olho uma única vez. “Outro avanço desse estudo reside no uso de uma cânula cirúrgica, instrumental comum na oftalmologia. A aplicação única também dá ao médico controle maior do tratamento.”

O estudo é realizado por meio de parceria da UFMG com a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ezequiel Dias e com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). A pesquisa teve início com uma tese de doutorado que propunha a criação do implante intraocular, defendida na Faculdade de Farmácia em 2006. Sete teses já foram desenvolvidas sobre o assunto, e há outras oito em andamento, todas sobre implantes oculares de fármacos. O primeiro implante testado pelo grupo continha o anti-inflamatório dexametasona.

“Fizemos todos os estudos de toxicidade e segurança, além de pesquisa clínica com 10 pacientes, realizada no Hospital das Clínicas da USP, em Ribeirão Preto. Agora, entre outros, também estamos desenvolvendo sistemas para tratar a toxoplasmose ocular, com o fármaco clindamicina”, afirma Cunha.

Outras doenças

Segundo o professor, o implante ocular é importante por tratar doenças oculares graves, que atingem muitas pessoas. "Os tratamentos convencionais, desenvolvidos por multinacionais, são caríssimos e acessíveis a muito poucas pessoas. Doenças que atingem a retina podem causar cegueira ou perda considerável da visão e acometem principalmente os idosos. Por isso, precisamos de métodos baratos e eficientes para tratá-los.”

O dispositivo desenvolvido na UFMG pode ser usado para combater doenças como a degeneração macular relacionada à idade, a uveíte e a toxaplasmose ocular. Em comum, todas são enfermidades cujos tratamentos tópicos não trazem bons resultados. “Quando se usava injeção ou comprimido, a dose do medicamento era tão elevada que o paciente acabava interrompendo o tratamento devido a efeitos adversos, pois afetava outros órgãos”, explica Armando Cunha.

Além disso, prossegue o pesquisador, esse método pode ser adaptado a outras partes do corpo. "Já estamos trabalhando no desenvolvimento de implantes para aplicação nos seios paranasais, para tratar rinossinusite crônica, o que nos mostra que a pesquisa renderá outros frutos", afirma o professor.

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