Desinformação é tema de ciclo de conferências on-line promovido pela UFMG
Primeira atividade, nesta quarta-feira, aborda o fenômeno das 'fake news' e das 'deep fakes' à luz da semiótica
O fenômeno da desinformação é uma das grandes preocupações da sociedade civil, do jornalismo profissional, das instituições do estado republicano e, de modo geral, dos governos que se pretendem realmente democráticos. O tema motivou a promoção, pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG, de um ciclo de conferências nos meses de abril e maio, do qual participarão proeminentes pesquisadores do Brasil, da Espanha, de Portugal e da Argentina. O ciclo é organizado pela professora Geane Alzamora, professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG que foi residente do Ieat em 2020 e 2021.
A primeira conferência ocorre nesta quarta-feira, 19 de abril, às 14h. Nela, Lúcia Santaella, professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, discutirá o fenômeno das fake news e das deep fakes à luz da semiótica, campo científico que, no trânsito entre significados e significantes, estuda não apenas os sistemas de comunicação, mas os fenômenos culturais da sociedade, de modo geral (gestos, rituais religiosos, vestuário etc.), como sistemas de significação e de estabelecimento de sentidos. A palestra é aberta ao público e pode ser assistida pela plataforma Zoom; as inscrições devem ser feitas pelo sistema de Gestão de Eventos da Universidade.
“A professora Lúcia Santaella, uma das maiores especialistas em semiótica no Brasil, deve abordar o fenômeno da desinformação pelo viés da linguagem e tecnologia, enfatizando o funcionamento semiótico das chamadas deep fakes, termo que designa técnicas de síntese de imagens ou sons humanos baseadas em inteligência artificial”, relata Geane Alzamora.
Fenômeno de muitas faces
Em sentido estrito, a expressão “fake news” (notícia falsa) refere-se a mentiras elaboradas com um formato semelhante ao de uma notícia tradicional com a intenção de iludir o público. Seus autores se apropriam da credibilidade desse formato para propagarem conteúdos pretensamente verdadeiros. Em sentido mais ampliado, porém, o termo vem sendo usado para referir-se a todo tipo de logro discursivo praticado na contemporaneidade com o objetivo de confundir interpretações e acirrar paixões ideológicas – em particular, aqueles que se valem das estruturas tecnológicas e virtuais de propagação, como as redes sociais e os aplicativos de mensagens.
A expressão deep fake (falsificação profunda), por sua vez, diz respeito a falsificações, cada vez mais realistas, quase impossíveis de serem percebidas, já que se valem de tecnologias ultramodernas em sua produção – como a inteligência artificial, por exemplo, conforme explicitado por Alzamora. Um exemplo de deep fakes são as fotos e vídeos em que pessoas reais são colocadas em situações em que nunca estiveram, como a recente foto falsa divulgada do papa Francisco; nela, o pontífice usa uma moderna jaqueta branca, criada por inteligência artificial.
“Trata-se não apenas de informações produzidas com intenção de causar danos, confundir ou enganar, mas também de informações não comprovadas compartilhadas com o intuito de fixar certa crença na sociedade”, explica a professora Geane, ao aprofundar-se no conceito de desinformação. “Esse ecossistema é caracterizado pelas disputas de sentido em torno de crenças dissonantes e pelas condições tecnológicas das interações sociais em plataformas digitais”, acrescenta. Em razão disso, explica ela, a intenção do ciclo de conferências é tratar do tema “em sua diversidade empírica e em sua amplitude semântica".
Negacionismo climático e populismo
Nessa perspectiva, serão realizadas mais cinco atividades no decorrer das próximas semanas, sempre às quartas-feiras. No dia 26 de abril, às 14h, uma segunda conferência sobre a semiótica da desinformação será ministrada pelo professor Paolo Demuru, da Universidade Paulista Brasil. No dia 3 de maio, às 9h, Gustavo Cardoso, do Instituto Universitário de Lisboa, de Portugal, fala sobre a crise da comunicação, em face da crescente cultura da desinformação. No dia 10 de maio, às 14h, Mário Carlon, da Universidade de Buenos Aires, da Argentina, faz uma conferência com o tema Considerações acerca da contemporaneidade. No dia 17 de maio, Carme Ferré Paiva, da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, falará sobre as relações entre a desinformação e a mudança climática, com a apresentação de um estudo de caso sobre o negacionismo climático no aplicativo TikTok. Por fim, no dia 24 de maio, João Carlos Correa, da Universidade da Beira do Interior, de Portugal, fala sobre as relações entre a desinformação e o populismo. A conferência está programada para 14h.
(Com texto de Ewerton Martins Ribeiro, da Agências de Notícias UFMG)