Estudo da UFMG revela alto índice de remoção do baço em crianças
Taxa de esplenectomias no Brasil é 10 vezes superior à registrada em países como EUA e Canadá
Pesquisa inédita realizada no Brasil, conduzida por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG, trouxe à tona dados alarmantes sobre o tratamento de lesões esplênicas em crianças no país. O trabalho revela que 51,8% das crianças internadas em hospitais públicos brasileiros devido a lesões no baço acabam submetidas à esplenectomia. Esse índice é significativamente superior ao observado em países de alta renda, como Estados Unidos e Canadá, onde apenas 5% das crianças com trauma esplênico necessitam de cirurgia.
As importantes funções exercidas por órgãos como coração, pulmões e rins são bem conhecidas pela população. No entanto, a maioria das pessoas pouco sabe sobre o papel do baço no funcionamento do organismo. Esse órgão, localizado no lado esquerdo do abdômen, tem atribuição crucial na produção e regulação de anticorpos, além de ser responsável pelo armazenamento e filtragem do sangue. O baço também contribui para o sistema imunológico.
Lesões no baço podem ocorrer em decorrência de impactos no lado esquerdo do abdômen, seja durante a prática de atividade física, em acidente de trânsito ou devido a doenças. Em casos graves, pode ser necessária a remoção do órgão, procedimento conhecido como esplenectomia. Durante essa cirurgia, o baço é retirado e suas conexões com outros órgãos são cortadas.
Diferenças entre serviços pediátricos e adultos
Um dos achados mais relevantes da pesquisa é a disparidade no tratamento das lesões esplênicas entre serviços cirúrgicos pediátricos e adultos. “Em crianças com trauma do baço, admitidas em serviços cirúrgicos destinados a adultos, notamos que há 14,77 vezes mais chances de serem submetidas à esplenectomia em comparação com aquelas admitidas em serviços pediátricos, onde o tratamento conservador é o preferido”, afirma o estudante Mateus Faleiro, do sexto período do curso de Medicina e um dos integrantes do grupo que realizou o estudo.
O tratamento conservador, que evita a cirurgia, tem sido considerado a abordagem ideal para lesões esplênicas em crianças hemodinamicamente estáveis, conforme evidências científicas recentes. No entanto, a pesquisa mostra que essa prática não é amplamente adotada no Brasil, o que levanta questões sobre as condições do sistema de saúde no país.
O estudo identificou diversos fatores que explicam a alta taxa de esplenectomias no Brasil. Eles estão descritos em reportagem publicada no Portal da Faculdade de Medicina.