Estudo mostra relação entre lipídeos e redução da sobrevida de pessoas com câncer de pele

Trabalho desenvolvido no ICB pode gerar novos métodos para tratamento da doença

O melanoma é um câncer de pele extremamente agressivo, embora raro, que tem início nos melanócitos, as células responsáveis pela produção de pigmentos da pele. Apesar de sua gravidade e de todos os avanços da ciência, ainda não existem tratamentos efetivos para a doença. No trabalho Identificação de lipídeos envolvidos na progressão do melanoma cutâneo, a estudante Bruna Nathália Santos, do Programa de Pós-graduação em Patologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, identificou e quantificou os lipídeos mais abundantes nos tumores de melanoma, constituintes dos compartimentos e subcompartimentos celulares.

O trabalho foi feito com base em 77 amostras de melanoma cutâneo cedidas pelo Banco Nacional de Tumores, do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Por meio de técnica de cromatografia líquida associada à espectrofotometria de massa, a pesquisadora analisou diversas substâncias, com ampla caracterização de polaridade e massa molecular. “Identificamos classe e espécies de cerca de 300 lipídeos por amostra, os quais foram submetidos a análises de bioinformática”, conta a orientadora da pesquisa, Sara Santos Bernardes, professora do Departamento de Patologia Geral do ICB.

Os resultados parciais do trabalho serão apresentados no Society for Melanoma Research Congress, evento mais importante da área, que ocorre este mês, nos Estados Unidos. Segundo Bruna Santos, mesmo com os medicamentos mais modernos, é comum que o tratamento farmacológico para melanoma não tenha a resposta esperada, o que mostra a relevância de desenvolvimento de novos métodos terapêuticos para o tratamento da doença.

Até o momento, a pesquisa mostrou que a presença de alguns lipídeos, como o fosfaditiletanolamida e os ésteres de colesterol, por exemplo, se relaciona com a redução na sobrevida global dos pacientes em um período de cinco anos, considerando esse tempo como a média de vida de pacientes após a remoção cirúrgica do tumor.

O papel dos lipídeos

A professora Sarah Santos explica que, durante a progressão do câncer, ocorre a reprogramação do metabolismo lipídico para suprir as demandas celulares. A proliferação desordenada das células tumorais exige mais lipídeos para formar as organelas e as membranas celulares. Para os processos de proliferação, migração e invasão celular, há o aumento do consumo de energia química. 

“Alguns estudos já mostraram que o perfil lipídico do melanoma difere de acordo com a capacidade de invasão da lesão. Dessa maneira, compreender o metabolismo lipídico em tumores de melanoma pode abrir caminhos para descoberta de novos alvos terapêuticos”, conta.

Os lipídeos são biomoléculas compostas de carbono, oxigênio e hidrogênio – ou hidrocarbonetos –, que constituem os blocos de construção da estrutura e da função das células vivas. Exemplo dessas moléculas são as gorduras, as vitaminas A, D, E e K, o colesterol, os hormônios e boa parte da membrana que recobre as células.

Na próxima etapa do estudo serão exploradas as vias metabólicas dos lipídeos relacionados a um pior prognóstico da doença em modelos experimentais in vitro e in vivo, para tentar identificar novos biomarcadores de prognóstico e alvos terapêuticos para auxiliar no tratamento do melanoma.

Parcerias

A professora Sara destaca a importância das parcerias científicas para o desenvolvimento da pesquisa. Além da equipe do ICB, o trabalho tem a colaboração de Patrícia Abrão Possik e Marco Pretti, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e de Sayuri Myamoto e Marcos Yukio Yoshinaga, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). A próxima etapa do estudo, que será experimental, será financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

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