Estudo UFMG: ambiente social pode afetar as taxas de homicídio na América Latina
Um estudo recente com participação da UFMG, cujos resultados foram publicados em artigo no The Lancet Regional Health, revela associações importantes entre as taxas de homicídio em jovens e adultos jovens e as características do ambiente social e construído em 315 áreas urbanas da América Latina. Resultados do Projeto Saúde Urbana na América Latina (Salurbal) apontaram que um maior Produto Interno Bruto (PIB) nas cidades estava relacionado com menores taxas de homicídios, uma associação provavelmente explicada pelo melhor acesso a oportunidades de trabalho e melhores condições de vida.
Níveis mais altos de educação também foram associados a uma menor taxa de homicídios entre homens e mulheres jovens. Por outro lado, um índice de Gini mais alto (uma medida da desigualdade de renda nas mesmas cidades) e um maior isolamento da paisagem da cidade (uma medida de quão isoladas estão as partes componentes de uma cidade) foram associados a taxas de homicídio mais altas.
Em todo o mundo, a violência é responsável por mais de 1,3 milhão de mortes (cerca de 2,5% de toda a mortalidade). Embora a América Latina represente apenas 8% da população mundial, no ano de 2012 37% de todos os homicídios do mundo ocorreram na região.
Amélia Augusta de Lima Friche, primeira autora do estudo e professora da UFMG, observa que há grandes variações nas taxas de homicídios em cidades de países latino-americanos. “As características dos ambientes sociais e construídos das cidades são relevantes para compreender os altos índices de homicídios de jovens e adultos jovens. Falta de oportunidades econômicas e de emprego, tráfico de drogas, consumo abusivo de álcool, cultura patriarcal que leva ao ‘machismo’, falta de atividades de lazer e interações com a polícia são alguns dos potenciais determinantes de homicídios em jovens”, afirma.
O estudo também descreve os padrões de violência em oito países latino-americanos, onde El Salvador, Colômbia e Brasil apresentaram taxas de homicídio mais altas e Argentina, Chile e Peru tiveram as mais baixas. Além disso, as taxas de homicídio foram cerca de 11 vezes maiores entre homens do que entre mulheres na mesma faixa etária.
“A violência é um problema de saúde pública e encontramos grande variação entre as cidades. Isso aponta para características dessas cidades que podem impulsionar a violência entre os jovens”, destacou Usama Bilal, professor assistente da Drexel University e autor do estudo.
“O homicídio é um problema grave de saúde urbana no Brasil, com taxas que se mantém elevadas há muitos anos. As causas do elevado número de homicídios no Brasil são complexas e multifacetadas, envolvendo fatores como a imensa iniquidade social, falta de oportunidades, presença de grupos criminosos violentos, impunidade e violência policial. Políticas públicas voltadas para a segurança, implementação de programas sociais e educacionais, e o fortalecimento das instituições responsáveis pela segurança pública e pela justiça criminal mostram que ainda há muito a ser feito para combater efetivamente o problema do homicídio no Brasil”, observou Waleska Caiaffa, professora titular da UFMG e autora sênior do estudo.
Os homicídios na América Latina representam um desafio urgente de saúde pública. Estudos como este evidenciam o papel do enfrentamento da desigualdade e da melhoria da educação, das condições sociais e da integração física das cidades na contribuição para a redução dos homicídios na região.
Salurbal
O Salurbal (Saúde Urbana na América Latina) é um projeto de pesquisa que estuda como as políticas urbanas e os ambientes urbanos afetam a saúde de moradores das cidades latino-americanas. Os resultados deste projeto servirão de referência para informar futuras políticas e intervenções para tornar as cidades mais saudáveis, mais equitativas e ambientalmente sustentáveis em todo o mundo. O projeto Salurbal é financiado pela Fundação Wellcome Trust.