Estudo UFMG: áreas livres de estradas no Brasil foram mapeadas e precisam ser protegidas

Para grupo, atuar nas oportunidades identificadas resultaria em progresso substantivo e mais rápido na realização de metas de conservação

Pesquisadores da UFMG, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Universidade de Bonn publicaram trabalho na revista Science Advances no qual identificaram áreas livres de estradas para cada bioma do Brasil e a sobreposição dessas áreas com áreas importantes para conservação, como unidades de conservação, terras indígenas, territórios quilombolas e áreas prioritárias para conservação. Os resultados evidenciam que a probabilidade de encontrar vegetação nativa aumenta com a distância de infraestruturas de transporte em diferentes regiões do país e que a probabilidade de encontrar vegetação nativa é maior se houver áreas protegidas.

"Nosso estudo é o primeiro a demonstrar estatisticamente uma diminuição na probabilidade de encontrar áreas desmatadas ou um aumento na probabilidade de encontrar vegetação nativa à medida que aumenta a distância das estradas (sejam rodovias, ferrovias ou estradas menores) em cada um dos seis biomas brasileiros", afirma Trevor Tisler, primeiro autor do estudo e atualmente doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da UFMG em convênio com a University of Bonn (Alemanha). 

O artigo é resultado da pesquisa de mestrado de Tisler no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, e foi desenvolvido em conjunto com Fernanda Teixeira (UFRGS/UFMG) e Rodrigo Nóbrega (professor do IGC UFMG).

O trabalho mapeia as áreas que ficam a mais de 1 km e a mais de 5 km de rodovias, ferrovias e outras estradas menores, pois essas distâncias já foram identificadas em diversos trabalhos como limiares para a ocorrência de efeitos de estradas. O estudo mostra que somente 39% da área do país está a mais do que 5 km de uma estrada e 71% está a mais de 1 km de uma estrada. As áreas livres de estradas contêm mais de 80% da vegetação nativa remanescente no país, mas somente 38% desse total está protegido. A cobertura dessas áreas varia muito de bioma para bioma, sendo que em todos, exceto na Amazônia, há mais áreas livres de estradas sem proteção do que áreas protegidas.

Importância da conservação

Muitas das áreas que não estão protegidas são consideradas Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, uma ferramenta fundamental na política ambiental brasileira para atingir as metas de biodiversidade de Aichi 2, 7, 11, 14 e 15. As Áreas Prioritárias também são parte do plano nacional para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente o objetivo 15. Ao mapear as áreas livres de estradas que são ou não protegidas dentro das Áreas Prioritárias, assim como as áreas que possuem ou não vegetação nativa, o trabalho aponta prioridades para conservação e restauração em cada um dos biomas.

“Nossas análises mostram que as áreas protegidas têm impacto positivo na redução do desmatamento que ocorre ao lado das estradas comparativamente às áreas predominantemente associadas às propriedades privadas rurais", analisa Trevor Tisler. “Também identificamos áreas que poderiam ser selecionadas para atividades de conservação ou restauração ecológica imediatas que teriam impactos importantes na melhoria do meio ambiente e ecossistemas brasileiros, as quais incluem oportunidades que são sinergéticas e não representam nenhuma ameaça às terras privadas rurais”. 

O trabalho também aponta três diferentes realidades para os seis biomas brasileiros. Primeiro, Amazônia e Pantanal ainda possuem áreas livres de estradas maiores e com bastante vegetação nativa cobrindo proporcionalmente boa parte dos biomas, que se conservadas contribuem muito para atingir as metas nacionais e que devem ser evitadas na implementação de novos projetos de infraestrutura de transporte. A segunda tendência observada enfatiza áreas urgentes para conservação que devem ser priorizadas na Mata Atlântica e no Pampa, pois são os biomas com as menores áreas livres de estradas e com a menor proporção dos biomas coberta por estas áreas. Por fim, a terceira tendência observada inclui o Cerrado e a Caatinga, que possuem cenários intermediários, com poucas opções de áreas livres de estradas para serem conservadas, mas a conservação dessas áreas contribuiria muito proporcionalmente para atingir as metas nacionais.

Para Tisler, atuar nas oportunidades identificadas pelo grupo resultaria em progresso substantivo e mais rápido na realização de metas de conservação do que as políticas propostas atualmente pelo governo federal brasileiro. “[As metas] focam na implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o qual somente será validado e implementado na maioria dos estados da união daqui a mais de dez anos, quando então eventuais atividades de conservação associadas ao CAR conseguem começar em escala. Esse atraso de mais de dez anos não permitirá que o Brasil atinja suas metas ambientais internacionalmente prometidas até 2030 - que incluem metas de parar desmatamento, implementar reflorestamento líquido, e restauração ecológica feitas para o Acordo de Paris, Convenção Sobre Diversidade Biológica, entre outros acordos”, alerta o doutorando.

Artigo

Título: Conservation opportunities and challenges in Brazil’s roadless and railroad-less areas

Autores: Trevor Tisler (UFMG/University of Bonn), Fernanda Z. Teixeira (UFRGS/UFMG) e Rodrigo A.A. Nóbrega (UFMG)

Publicação: Science Advances (vol. 8, issue 9) | 4 de março de 2022

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG