Estudo UFMG: Desmatamento zero pode gerar ganhos econômicos para a Amazônia e o Brasil

Grupo calculou efeitos de política que combina preservação da floresta e investimento em produtividade

O desmatamento é a solução tradicional para a expansão da produção agropecuária. Por esse motivo, entre outros, as políticas de controle são combatidas por alguns setores, que alegam prejuízos gerados pela manutenção da floresta. O argumento do outro lado, que já tem lastro consistente em pesquisas e experiências diversas, é o de que é possível aumentar a produção sem destruir as florestas. Pesquisadores do Cedeplar, o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, acabam de dar novos números a essa convicção.

De acordo com o trabalho, publicado pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental (Nemea), políticas de controle do desmatamento na Amazônia – incluindo o chamado desmatamento econômico (que visa ao aumento da produção) – acompanhadas de investimentos que viabilizem a compensação são factíveis e baratas. Os resultados do estudo, que é abundante em números, demonstram que investimentos de R$ 1,45 bilhão no período de 2021 a 2040 seriam capazes de gerar R$ 2,7 bilhões em atividade econômica.

“Esse aporte de recursos teria efeitos diretos, como geração de emprego e renda, não apenas na Amazônia, mas no país como um todo. Uma política de desmatamento zero nesses moldes seria extremamente vantajosa não apenas na dimensão ambiental, uma vez que reduz a emissão de gases de efeito estufa e preserva o regime de chuvas no país, mas também, por exemplo, na área da política externa”, diz o professor Edson Domingues, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), um dos autores do estudo, com a colega Aline Souza Magalhães e a doutoranda Gessica Cardoso. Ele menciona o acordo do Mercosul com a União Europeia, que tem condicionantes ambientais rígidas e ainda não foi efetivado por causa do desmate descontrolado no Brasil.

Economia e uso da terra

O modelo utilizado para o trabalho, o recém-criado Blume, é o mais recente de uma série de instrumentos construídos no âmbito do Nemea, ao longo dos últimos 15 anos. O Blume opera com foco na economia e no uso da terra e, mais especificamente, dos biomas, como a Amazônia e o Cerrado. Segundo o grupo de pesquisadores, é um dos primeiros modelos com viés explicitamente ambiental e tem se mostrado muito adequado para cálculos relativos à cultura da soja, à produção do leite e à pecuária bovina. O Blume será apresentado em detalhes na tese de Gessica Cardoso, que tem defesa prevista para março de 2022. 

O modelo do Nemea trabalha com informações (inputs) relacionadas a uso da terra, área de floresta, volume de produção agropecuária, desmatamento histórico, emissões de gases de efeito estufa, produção dos diversos setores e dados sobre emprego, renda, Produto Interno Bruto e importações e exportações. O modelo também considera fortemente a chamada transição de uso, aplicando nos cálculos a quantidade de emissões provocadas pela transformação da floresta em pastagem e, no sentido oposto, a redução de emissões, situação em que a área volta ao estado original e se torna um “sumidouro” dos gases que contribuem para o aquecimento da Terra.

A política de desmatamento zero com investimentos em produtividade geraria, em duas décadas, um ganho da ordem de R$ 1,25 bilhão (a diferença entre R$ 2,7 bi de atividade econômica e R$ 1,45 bi de aportes). O crescimento acumulado da economia brasileira seria de 0,2% do PIB. O efeito anual para a região amazônica, em 2040, seria de cerca de R$ 300 milhões.

Os resultados do estudo sugerem também que a política seria responsável pela criação de 170 mil postos de trabalho e pelo crescimento adicional da produção de soja (3%), milho (2%) e mandioca (1%). A preservação da floresta geraria aumento de 4,3% nas atividades da silvicultura sustentável. Haveria leve queda da pecuária bovina na região. Esses números referem-se ao ganho em relação a um cenário com desmatamento e sem investimento.

Recuperação verde

Edson Domingues enfatiza que zerar o desmatamento tem grande potencial de contribuição para o atendimento das necessidades econômicas globais criadas pela atual crise sanitária. “A demanda tem aumentado, e os preços se elevam, o que é positivo para o Brasil. Além disso, uma opção clara nessa direção alinharia o Brasil à Comunidade Europeia e aos Estados Unidos, que têm trabalhado com a estratégia chamada de recuperação econômica verde”, diz.

Estudos como esse oferecem subsídios e incentivo, afirma Domingues, para que “o setor privado aumente a pressão por mudanças na atuação dos gestores públicos, sobretudo na esfera federal, e pelo compromisso dos partidos, tendo em vista às eleições de 2022, com políticas públicas capazes de conduzir à redução drástica do desmatamento na Amazônia e em todo o país”.  

Texto de Itamar Rigueira Jr.

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG