Estudo UFMG: fenômeno da hesitação vacinal contra HPV e meningite é constatado em adolescentes mineiros
Alcançar as metas de cobertura vacinal entre os adolescentes tem sido um desafio. O fenômeno da hesitação vacinal, que ocorre quando há atraso ou recusa da vacinação apesar da disponibilidade nos serviços de saúde, foi analisado em 922 adolescentes de Minas Gerais (Brasil), de 9 a 19 anos. Resultados preliminares do estudo desenvolvido por pesquisadores do Observatório de Pesquisa e Estudos em Vacinação da Escola de Enfermagem (OPESV-EEUFMG) da UFMG, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), revelaram que 45,78% dos adolescentes afirmaram que já resistiram, tiveram medo ou dúvidas se deveriam se vacinar, e 21,33% já recusaram a administração dos imunizantes contra o papilomavírus humano (HPV) e a meningocócica ACWY.
O estudo, coordenado pela professora Fernanda Penido Matozinhos, líder do OPESV, foi realizado por meio de questionário estruturado on-line preenchido pelos adolescentes no período de 15 de agosto de 2023 a 12 de abril de 2024, sob autorização dos pais ou responsáveis, com informações sobre os adolescentes, como: sexo, idade, condições de moradia, escolaridade, cor de pele autorreferida, trabalho remunerado, uso de drogas lícitas e ilícitas, condições de saúde, serviço de saúde utilizado e presença de cartão de vacina. “Também apresentava aspectos relacionados com a vacinação (presença de eventos supostamente atribuíveis à vacinação ou imunização, conhecimento sobre as vacinas do calendário vacinal do adolescente e as doenças que as mesmas evitam, orientação sobre vacinação na Unidade Básica de Saúde - UBS - ou escola, resistência à vacinação por medo e recusa a se vacinar)”, explicou a professora Fernanda.
No que diz respeito ao conhecimento dos adolescentes sobre vacinação, 55,21% afirmaram não ter conhecimento; 68,69% já receberam orientações sobre imunização na Unidade Básica de Saúde e 62,09% já receberam orientações na escola. Em relação à doença meningocócica ou sobre a vacina meningococo ACWY, 81,35% afirmam “nunca ter ouvido falar” e 43,64% nunca ouviram falar sobre o papilomavírus humano ou sobre a vacina HPV.
Na análise da associação entre diversos fatores e os dois aspectos da hesitação vacinal (confiança e percepção de riscos), os resultados do estudo demonstraram que no quesito confiança, indivíduos com ensino médio apresentaram maior confiança em comparação com aqueles com ensino fundamental. Em relação aos fatores de riscos, não consumir álcool nos últimos 30 dias foi associado a maior confiança. Nas variáveis relacionadas a vacinação, não possuir cartão de vacina; não ter conhecimento sobre vacinação e não ter ouvido falar sobre doenças específicas, como meningocócica, foram associados a menor confiança.
No quesito sobre o conhecimento sobre doenças e vacinas, não ter ouvido falar sobre doenças específicas, como meningocócica, associou-se à maior percepção de riscos.
Sobre o perfil sociodemográfico e às condições de saúde da amostra preliminar de adolescentes, 96,41% cursavam o ensino fundamental e 59,67% estudavam no turno da manhã. Quanto à função remunerada, 93,78% afirmaram não exercer função remunerada. 88,7% dos adolescentes afirmaram não possuir doença crônica e 89,65% não faziam uso de medicamentos. Além disso, 90,17% dos adolescentes afirmaram utilizar o Sistema Único de Saúde (SUS) para se vacinar e 93,83% possuía cartão de vacina.
Escola como aliada da vacinação
O estudo constata que, apesar de todos os seus benefícios comprovados cientificamente, a vacinação ainda é um tema que gera dúvidas e insegurança entre os adolescentes e que diversos fatores podem interferir na confiança e na percepção dos riscos relativos à vacinação, a exemplo do conhecimento, da escolaridade, da idade e dos hábitos de vida, influenciando na adesão ou não à imunização.
Os resultados apontam que a escola é um espaço com capacidade de ampliar o conhecimento sobre a vacinação, considerando que 62,9% dos adolescentes já receberam orientações sobre vacinas nesse local. “A inclusão da saúde na escola é essencial para assegurar a qualidade de vida e a melhoria do acesso dos alunos aos serviços de saúde, uma vez que permite abordar fatores relativos às condições de saúde e às doenças, de forma a sensibilizar os adolescentes acerca da importância da vacinação. Além disso, garantir a educação e o conhecimento sobre vacinas em indivíduos mais jovens, por meio de programas escolares, pode fornecer uma boa oportunidade para encorajar a futura aceitação da vacina por pais e adultos e para reduzir o potencial de desenvolvimento de hesitação”, ressaltou a professora Fernanda Penido.
A pesquisadora enfatiza, ainda, que o desenvolvimento de ações integradas entre profissionais da saúde, educadores, família e adolescentes é imprescindível para garantir o aumento da cobertura vacinal entre os adolescentes. “Nesse contexto, o ambiente escolar se insere como um espaço oportuno para abordar fatores relativos a doenças preveníveis por vacinas e à vacinação, sensibilizando os escolares e seus pais e encorajando a aceitação das vacinas”.