Estudo UFMG: metade dos transplantes renais pediátricos está concentrada no Sudeste

Com base em dados nacionais, pesquisa inédita reconheceu o perfil dos pacientes pediátricos e os fatores associados à mortalidade e transplante

A partir de uma análise de dados obtidos pela Base Nacional em Terapia Renal Substitutiva (TRS), construída por meio dos registros de três grandes sistemas de informações do Sistema Único de Saúde (SUS), foi possível, pela primeira vez, descrever as características sociodemográficas, clínicas e epidemiológicas das crianças e adolescentes em TRS no Brasil. Os resultados de uma pesquisa apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG apontam diferenças da população estudada, entre as regiões, sexo, idade e cor de pele.

Celina Rezende, autora da tese de doutorado Transplante e óbito em crianças e adolescentes em terapia renal substitutiva no sistema único de saúde, no Brasil, de 2002 a 2014, observou que pacientes com doença renal crônica e seus familiares enfrentam várias dificuldades para realização do tratamento e para sua reabilitação. “Por isso, foi importante mapear as áreas em que essas crianças realizavam o tratamento, para descrever o perfil dessa população, no intuito de apresentar dados que pudessem ajudar a pensar em novas políticas públicas de saúde e de assistência direcionada a esses indivíduos”, explica Rezende. 

Para ela, é importante saber quem são esses pacientes e como as políticas públicas poderão atendê-los de maneira mais eficaz. “Atualmente, devido às dificuldades relativas ao tratamento de diálise, vários pacientes ainda necessitam sair da sua cidade de origem, ou até mesmo do Estado, em busca de locais onde terão assistência adequada. Pacientes oriundos da Região Norte e Nordeste, muitas vezes, precisam mudar para Belo Horizonte para poder fazer o tratamento”, aponta a pesquisadora e assistente social.

Crianças são prioridade para o transplante renal

A doença renal crônica afeta a função e a estrutura do rim de modo persistente e progressivo, podendo ser causada por vários fatores clínicos. Na criança ou adolescente, a insuficiência renal crônica pode acontecer por complicações no parto, predisposição genética dentre outras patologias. Quando a doença renal crônica chega ao estágio 5, fase em que os rins já não conseguem fazer a filtração adequada para garantir a sobrevida do paciente, é preciso iniciar a terapia renal substitutiva. 

O estudo identificou, por meio da base de dados do Ministério da Saúde, que dos 7.544 pacientes pediátricos, 53,8% eram do sexo masculino e 46,2% do sexo feminino. Verificou-se que os casos de óbitos são mais presentes no sexo feminino. Esse dado é de extrema importância para ajudar no diagnóstico precoce e oferecer uma intervenção clínica de forma preventiva, como a correção das anomalias passíveis de serem solucionadas pelo procedimento cirúrgico, fazendo com que o indivíduo tenha o tratamento necessário e que não precise se submeter à diálise.

O transplante é o melhor tratamento dialítico para toda a população. O procedimento é indicado antes mesmo que o paciente necessite de hemodiálise ou diálise peritoneal, o que pode aumentar muito a expectativa de vida dessa população.  “A pesquisa ratifica ainda mais a necessidade da doação de órgãos e da importância de fazer o transplante o quanto antes, aumentando a expectativa e qualidade de vida desses pacientes”, conclui a autora do estudo.

Atualmente, no Brasil, a hemodiálise é o tratamento com maior número de pacientes pediátricos, sendo realizado na clínica de diálise três vezes por semana. Outra modalidade de TRS é a diálise peritoneal, que é realizada na residência do paciente, diariamente, com a ajuda de um familiar. 

De acordo com a pesquisadora, observou-se que as crianças que conseguem realizar o transplante apresentam maior longevidade quando comparadas a pacientes que se mantêm na hemodiálise e na diálise peritoneal. Segundo a pesquisa, 50% dos transplantes são realizados no Sudeste e nas capitais, o que reforça a disparidade entre as regiões do Brasil.

As crianças são prioridade para o transplante renal. Ao longo da vida, o transplante poderá ser realizado mais de uma vez no mesmo paciente, se necessário. O transplante renal é reconhecido como a melhor alternativa de TRS, por apresentar menor incidência na taxa de óbito. Celina Rezende defende que o ideal é transplantar. “É preciso, a partir dos perfis mapeados no estudo, que sejam criadas políticas públicas que atendam a população no âmbito da saúde, de forma equitativa, em todas as regiões e para todos os grupos étnicos do Brasil”, conclui o orientador, professor Sérgio Veloso. 

(Texto de Vitor Pepino, sob supervisão de João Motta)

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG

3134099133

http://www.medicina.ufmg.br/