Estudo UFMG: número de doses aplicadas da vacina contra sarampo-caxumba-rubéola caiu na pandemia

Devido às medidas de distanciamento social adotadas na tentativa de diminuir o risco de transmissão da covid-19 no Brasil, houve redução no número de doses aplicadas da vacina contra sarampo-caxumba-rubéola (MMR), no período de abril de 2019 a setembro de 2020. É o que concluiu o estudo realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG (EEUFMG) Number of doses of Measles-Mumps-Rubella vaccine applied in Brazil before and during the COVID-19 pandemicpublicado recentemente pela revista científica BMC Part of Springer Nature.

De acordo com a professora Tércia Moreira Ribeiro da Silva, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, a extração dos dados foi realizada pelo número de doses mensais aplicadas na população-alvo no período: crianças com 12 meses (primeira dose) e crianças de 9 anos (segunda dose). Foram utilizadas técnicas de análise espacial de dados de área considerando as grades digitais dos municípios brasileiros, utilizando dois programas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). A análise espacial identificou conglomerados com alto percentual de redução na média de doses aplicadas no Brasil.

Os resultados da pesquisa revelaram que de abril de 2019 a setembro de 2020, 25.717.742 doses da vacina MMR foram aplicadas em todo o Brasil (46,55% no início das medidas de distanciamento social). Antes da pandemia, a média do número de doses aplicadas foi 1.645.527. No período do estudo, a média caiu para 934.991, o equivalente a uma redução de 43,17%. 

“Houve redução da média das doses aplicadas nas regiões norte (33,03%), nordeste (43,49%) e sul (39,01%) e nos estados Acre (48,46%), Amazonas (28,96%), Roraima (61,91%), Paraíba (41,58%), Sergipe (47,52%), Rio de Janeiro (59,31%) e Santa Catarina (49,32). Isso significa que temos a formação bolsões de indivíduos susceptíveis, o que favorece muito a circulação do vírus e a ocorrência de surtos de sarampo, como ocorreu aconteceu em 2019 que iniciou na região norte do país”, explica Tércia.

Em contrapartida, o estado de Minas Gerais apresentou um aumento de 27,04% do número de doses aplicadas da vacina. Porém, segundo a professora, este dado não é motivo para que haja um relaxamento das campanhas de vacinação, uma vez que não é recomendado avaliar um estado de forma isolada. “A maioria dos estados teve redução e na região Sudeste, de uma forma geral, também houve. O sarampo é uma das doenças mais transmissíveis que se tem conhecimento. Minas Gerais está próximo do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, considerar um surto em algum desses estados já é pensar em Minas também, temos que pensar muito na questão dos estados que estão no entorno”, relata a professora.

Ainda de acordo com a pesquisa, o impacto na cobertura vacinal não foi um evento exclusivo da pandemia da covid-19. Estudos realizados após catástrofes e epidemias que ocorreram na história da humanidade também apontaram para um declínio na cobertura vacinal como uma resposta à redução do acesso da população aos serviços de saúde. “Depois de catástrofes, epidemias, tsunami, terremotos, a primeira doença infecciosa a surgir é o sarampo. O r/o da covid é em torno de dois, ou seja, o indivíduo doente transmite, em média, para outros dois suscetíveis. O r/o do sarampo é de um para 18, ou seja, uma pessoa doente pode transmitir para outras 18 pessoas suscetíveis. Então é por isso que preocupamos tanto com o sarampo”.

A pesquisadora destaca que os resultados deste trabalho podem subsidiar políticas públicas de saúde para garantir estratégias de imunização contra sarampo, rubéola e caxumba no país, mesmo durante a atual fase epidêmica, que continua resultando em aumento do número de casos notificados e óbitos por covid-19 no Brasil. “Nesse sentido, este trabalho pode destacar áreas prioritárias para as quais políticas públicas de saúde e estratégias de saúde devem ser adotadas para melhorar os indicadores de imunização”, enfatiza.

Além da professora Tércia, o artigo é assinado pelos docentes da EEUFMG Ed Wilson Rodrigues Vieira, Mark Anthony Beinner e Fernanda Penido Matozinhos, pela aluna de doutorado em Enfermagem Ana Carolina Micheletti Gomide Nogueira de Sá, e pelo estudante de graduação Elton Junio Sady Prates.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

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