Estudo UFMG: relação afetiva facilita aprendizagem musical de crianças
Metodologias lúdicas tornam as aulas mais proveitosas, de acordo com tese defendida na Escola de Música
A afetividade tem papel crucial na aprendizagem musical de crianças nos anos iniciais do ensino fundamental, já que suas experiências musicais são profundamente vinculadas às emoções, interações e aos contextos pessoais. Essa é uma das conclusões de estudo empreendido no Programa de Pós-graduação em Música da UFMG.
"A música desenvolve sensibilidade, criatividade e senso crítico nos alunos", afirma a pedagoga e musicista Andréa Matias Queiroz. Ela é autora da tese Impactos da afetividade em aulas de música: o que dizem as narrativas infantis, defendida no último mês de abril. Como ferramenta de coleta de dados, a pesquisadora promoveu rodas de conversa com crianças do quinto ano do ensino fundamental, que estudam Música em instituições de Brasília (DF). Em diferentes momentos da pesquisa, participaram de 12 a 17 crianças.
“Foi importante investigar quais experiências musicais estavam sendo vivenciadas pelas crianças em suas aulas, entender que sentidos e significados elas atribuíam a essas aulas e, por fim, identificar como elas percebiam, se relacionavam e interagiam afetivamente com a música”, explica Andréa Queiroz.
Diversão e criatividade
Para que as crianças se sentissem à vontade em compartilhar suas experiências e sentimentos, foi criado um ambiente lúdico. Os alunos foram incentivados a narrar suas experiências musicais, contar do que gostavam nas aulas e como se sentiam em relação às atividades. A interação foi facilitada por perguntas que estimularam narrativa.
As crianças revelaram, por exemplo, a maneira como a música influenciou seus sonhos e aspirações. “As narrativas das crianças mostraram que não basta que a aula seja bem planejada, e o conteúdo, adequado e interessante. Deve haver, também, aproximação, apoio e confiança”, avalia a autora, que atualmente é professora de Música na Universidade de Brasília (UnB).
Além de protagonizarem uma sessão de performance musical, os alunos entrevistaram uns aos outros como se fossem artistas famosos. As dinâmicas, de acordo com Andréa Queiroz, geraram um ambiente divertido, livre e criativo. “Algumas crianças, a princípio, se comportaram com timidez. Mas, com o tempo, ficaram à vontade. Isso demonstra que um cenário acolhedor pode facilitar a expressão e a reflexão.”
Em suas respostas, as crianças reivindicaram, entre outras coisas, aulas de novos instrumentos, instruções sobre seu funcionamento e práticas com músicas conhecidas. “Esse diálogo mostrou que os alunos se preocupam com a melhoria das aulas e entendem que é possível buscar soluções para que elas sejam ainda mais proveitosas", observa a musicóloga.
Processo educacional
De acordo com Andréa Queiroz, o uso das rodas de conversa como ferramenta de coleta de dados suscitou uma “reflexão inesperada” sobre o processo educacional. “Ao se estabelecer como prática regular, as rodas podem oferecer uma visão mais abrangente da relação de ensino-aprendizagem. Além de envolver os alunos e torná-los responsáveis por seu próprio aprendizado, oferecem aos educadores insights valiosos sobre o impacto dos conteúdos, das metodologias e abordagens”, observa a professora.
Para a autora, ao focar nas percepções das próprias crianças, o estudo proporciona uma visão única sobre como os estudantes vivenciam e reagem emocionalmente ao ambiente de aprendizagem. “A pesquisa também suscita a importância de integrar estratégias para formar laços afetivos no contexto escolar”, detalha Andréa Queiroz.
Em seu entendimento, é preciso que sejam desenvolvidos, no Brasil, mais estudos sobre a centralidade da afetividade na área da educação musical. “Acredito que uma das maneiras de promover o diálogo entre as áreas seja ouvir os sujeitos e abstrair, de suas histórias de vida, experiências que contribuam para os processos de ensino e aprendizagem”, avalia.
Tese: Impactos da afetividade em aulas de música: o que dizem as narrativas infantis
Autora: Andréa Matias Queiroz
Orientador: Renato Tocantins Sampaio
Defendido em 11 de abril de 2024, na Escola de Música da UFMG