Exposição no Centro Cultural UFMG questiona as formas de compor o espaço dentro do discurso paisagem
O Centro Cultural UFMG promove a abertura da exposição Arqueologias de gaveta, da artista Fernanda Campos, no dia 17 de março, às 19h. A mostra reúne desenhos, pinturas e instalação composta por objetos, fotografias, conchas, folhas, livros e aquarelas. As obras poderão ser vistas até o dia 24 de abril. A entrada é gratuita, com classificação livre.
Sua pesquisa poética/visual e projetos de arte-educação envolvem o questionamento das formas de pensar o espaço enquanto paisagem e coleção, além de seus respectivos desdobramentos no tempo e na ancestralidade.
A partir das ideias desejo, troca, sonho e reinvenção, na pintura exerce o pensamento enquanto matéria, e camadas de cor estabelecem o contato com as formas, sendo a relação entre tempo e espaço um corpo múltiplo e em constante movimento.
No desenho a noção de paisagem é transformada em texto, as formas de compor no papel sintetizam a linguagem múltipla dos símbolos e, o que envelhece, sugere ao discurso a memória.
Arqueologias de gaveta
Texto por Guilherme Oliveira e Fernanda Campos, com colaboração de Alê Fonseca
“Isto é uma carta. O gesto que uso para escrevê-la é espelho de minha mão estendida quando coleta objetos perdidos no caminho. Espelho, pois busco associações das imagens que surgem ao acaso, que foram deixadas por outras pessoas e que revelam seu valor, guardadas nas minhas gavetas. É assim que construo esse texto.
Quanto mais escrevo, mais aproximo da ideia de que ao manusear pequenos objetos pode-se deslocar o mundo inteiro. Pense num jogo de xadrez, ou de damas, pense no tamborilar dos dedos quando estamos entediados, pense na mão estendida, pronta para alcançar a mão de outra pessoa. Quem acha que só os pés desmancham os caminhos, abrem crateras e transformam o espaço, passo a passo, não sabe do que a mão é capaz. As pontas dos dedos, que ao esticar a pele, formam desenhos no corpo, unhas que coçam o corpo e descascam paredes. Riscamos um mapa com lápis e no chão se abre uma fissura, ou um trajeto fica nublado. Esse é o jogo, tente criar um espaço fazendo uma concha com sua mão.
E pensar que cada palavra que sai das nossas bocas é uma fração de vento, que quando somadas às palavras das outras pessoas movem das folhas secas nas calçadas até continentes inteiros. Essa tem sido a sequência de movimentos, contemplar o vento, esperar, transformar o que encontro em matéria densa e palpável, realizar o trabalho de quem coleciona para assistir as semelhanças do mundo que cria o ser humano e que o ser humano criou. Eu me deito na paisagem e me transformo em paisagem pintada, desenhada por mim, dedicada a você. Uno o corpo, o espaço o artefato. Esse é meu manifesto.
Ando olhando as calçadas, buscando encontros, colecionando fotografias de pessoas que não conheço. Coleção não tem fim, assim como o movimento, assim como essa carta, assim como você.
Te guardo.”
Sobre a artista
Fernanda Campos (1997 – Belo Horizonte – MG): é arte-educadora, graduanda em licenciatura e bacharelado pela Escola de Belas Artes da UFMG. Atualmente é professora de desenho para crianças e adolescentes, além de atuar como monitora das disciplinas de Litografia e Serigrafia pela mesma universidade em que estuda. Trabalha com variadas técnicas entre desenho, pintura, instalação e vídeo. Realizou duas exposições coletivas no ano de 2019, sendo a primeira na Escola de Belas Artes da UFMG, Narrativas da Abstração, e a segunda no CRJ, em Belo Horizonte, Deriva Xlll.
Serviço:
Exposição Arqueologias de gaveta – Fernanda Campos
Abertura: 17 de março | às 19h
Visitação: até o dia 23 de abril
Terças a sextas: das 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: das 9h às 17h
Sala Ana Horta do Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 - Centro – Belo Horizonte/MG)
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita