'Guerra às drogas': abordagens policiais concentradas em favelas reforçam estigmatização, mostra pesquisa da UFMG

Pesquisa sobre ocorrências de consumo e tráfico em Montes Claros é tema do novo episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Abordagens açodadas baseadas em denúncias anônimas, desprovidas de procedimentos formais de investigação e com baixo nível de inteligência têm marcado as operações contra as drogas. A chamada 'guerra às drogas' alcança majoritariamente a população periférica – ainda que haja consumo e tráfico entre pessoas ricas – e resultam em elevado custo social.

A análise é do promotor de justiça Guilherme Roedel, que trabalha na comarca de Montes Claros, no Norte de Minas, e se dedica ao estudo sobre o modo como as forças de segurança atuam no combate ao uso e ao de tráfico de drogas. O resultado de sua reflexão está na dissertação de mestrado, defendida em dezembro de 2022, no Programa de Pós-graduação em Sociedade, Ambiente e Território, ofertado pela UFMG em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). 

O autor analisou as 456 ocorrências de uso e 1.219 ocorrências de tráfico de drogas registradas na cidade no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2021. Por meio do Sistema Integrado de Defesa Social, o Web Sids, ao qual os operadores do sistema de justiça criminal têm acesso, o pesquisador filtrou os boletins de ocorrência e obteve informações a respeito da natureza dos delitos, dos endereços e datas das ocorrências.

Perfil
Os dados foram sistematizados em planilhas e gráficos, o que possibilitou identificar a predominância de determinadas características entre os autuados. A maior parte é do sexo masculino e não concluiu o ensino médio. No caso de uso de drogas, a idade dos autuados varia de 19 a 27 anos, e no caso de tráfico, de 17 a 25 anos.

Roedel observou variações das ações em razão do local de abordagem e da condição socioeconômica dos indivíduos. A pesquisa constatou a ausência de ocorrências em bairros considerados nobres na cidade. Os boletins registram delitos concentrados em áreas designadas como zonas quentes de criminalidade, que coincidem com favelas e suas imediações. 

Segundo o pesquisador, normalmente as operações são deflagradas sem um planejamento prévio, por meio das chamadas batidas policiais justificadas pelos agentes por determinadas ações indicadas como suspeitas. Com base nos resultados do estudo, o autor afirma que o atual modelo de atuação policial apresenta incoerências nas motivações de abordagem e reforça a estigmatização de territórios e grupos sociais. 

Saiba mais sobre a pesquisa no novo episódio do Aqui tem ciência.

Raio-x da pesquisa

Título: Guerra às drogas na cidade: práticas de estado na construção de territórios de exclusão
O que é: dissertação de mestrado com a análise de todos os boletins de ocorrência relacionados a uso e tráfico de drogas na cidade de Montes Claros, no Norte de Minas, no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2021. Os resultados revelam que as abordagens policiais reforçam a estigmatização de territórios e de grupos sociais.
Autor: Guilherme Roedel Fernandez Silva
Programa de Pós-graduação: Sociedade, Ambiente e Território
Orientador: Rômulo Soares Barbosa
Coorientadora: Iara Soares França

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG

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