Guia elaborada com participação da UFMG orienta equipes que lidam com transplantados e doadores de órgãos

Publicação reúne informações sobre manejo de doenças endêmicas

Se pessoas saudáveis precisam evitar a possibilidade de contrair doenças endêmicas como tuberculose, leishmaniose e doença de Chagas, no caso dos transplantados e candidatos ao transplante de órgãos, esse cuidado pode ser essencial para o sucesso do procedimento. Por isso, as equipes de cuidadores de Transplantes de Órgãos Sólidos (SOT, na sigla em inglês) enfrentam permanentemente o desafio de gerenciar decisões importantes, como os riscos e os benefícios de o candidato receber determinadas vacinas.

Recomendações detalhadas para o gerenciamento e para a prevenção de infecção pelas doenças endêmicas mais relevantes da América Latina foram reunidas, pela primeira vez, em uma publicação, o guia Recomendações para o manejo de doenças endêmicas e medicina do viajante em transplante de órgãos sólidos: América Latina em foco.

“Escrito por especialistas de vários países, o guia orienta o manejo de doenças endêmicas e medicina do viajante, com o intuito de auxiliar os médicos que cuidam de candidatos ao transplante, transplantados e seus doadores, portadores de doenças infecciosas latentes ou ativas típicas da América Latina”, informa a professora Wanessa Trindade Clemente, do Departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da UFMG, editora-chefe e uma das autoras do trabalho. O trabalho foi abordado em reportagem publicada na edição 2011 do Boletim UFMG.

Disponível na internet e divulgado nas sociedades de transplantes e de infectologia, o guia contém artigos e uma seção ilustrativa com mapas interativos para a contextualização geográfica do risco. Os artigos abrangem os seguintes temas: arboviroses, doença de Chagas, leishmaniose visceral e cutânea, malária, esquistossomose e estrongiloidíase, diarreia do viajante, micoses endêmicas e orientações sobre vacinação.

A galeria do mapa foi estruturada para possibilitar acesso rápido a informações – como incidência e prevalência por país – sobre algumas doenças endêmicas. Conhecer a frequência dessas enfermidades na América Latina pode auxiliar na orientação sobre viagens e a definir profilaxia e tratamento do doador e do destinatário.

O trabalho foi publicado em Transplantation, periódico da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado, o mais influente nesse campo, com mais de 25 mil citações por ano. Veja o sumário disponível on-line. O suplemento com os artigos está disponível aqui.

Dilemas

Em cada artigo, especialistas fornecem informações epidemiológicas, diagnóstico, tratamento e prevenção. No texto sobre doença de Chagas, por exemplo, os autores ponderam que a decisão de aceitar um órgão de um doador infectado representa um equilíbrio entre a urgência de necessidade do órgão e a aceitação do risco de possível infecção no receptor. A decisão é tomada pela equipe médica e pelo destinatário, por meio do consentimento informado, e precisa considerar a capacidade de diagnosticar e tratar a infecção, se ocorrer.

O guia informa que as vacinas contra varicela, sarampo, caxumba, rubéola e febre amarela que contêm vírus vivos e atenuados são contraindicadas para os receptores de transplantes de órgãos sólidos. Mostra ainda que as infecções evitáveis por vacina representam uma carga significativa de doença nos receptores de SOT. “As infecções respiratórias causadas por Streptococcus pneumoniae e vírus da gripe são mais prevalentes e associadas a piores resultados em comparação com a população geral”, exemplifica o artigo sobre vacinas.

Chicungunha, dengue, febre amarela e zika vírus são os mais relevantes arbovírus que circulam na América Latina analisados no guia. “Três deles foram descritos em receptores de SOT”, ressaltam os autores. Segundo eles, uma grande quantidade de vírus transmitidos por artrópodes associados a doenças humanas podem circular em regiões tropicais e subtropicais. E alertam: “Os médicos devem estar conscientes de que febre, dores nas articulações e erupção cutânea de origem indeterminada em doadores e candidatos a receptores de transplante podem estar relacionadas a insólitos arbovírus, particularmente porque as epidemias recentes expandiram-se significativamente nas regiões de risco de exposição potencial”. Assim, ponderam que infecções por arbovírus devem ser incluídas no diagnóstico diferencial da infecção em pacientes transplantados, de modo que possam ser oferecidos testes e tratamentos adequados.

Fruto de estudos realizados em universidades e em conjunto com sociedades científicas nacionais e internacionais, as recomendações se baseiam em avaliações sistemáticas de literatura e opinião de especialistas de 13 países da Ásia, das Américas e da Europa: Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, França, Itália, Peru, Espanha, Suíça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e Uruguai.

O trabalho foi financiado por acordo de cooperação técnica entre a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e o Ministério da Saúde do Brasil, promovido pela coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes, Rosana Northen. A equipe de autores brasileiros inclui professores e médicos de sete instituições: UFMG, USP, UFRJ, Unicamp, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

Ana Rita Araújo - Boletim UFMG 2011

Fonte

Assessoria de Imprensa da UFMG