Ideológico, mas nem tanto: pesquisa da UFMG estuda características da identificação política
Dissertação do DCP compara a consistência das ideias defendidas pelos eleitores em 2018 com as sustentadas por elites do espectro ideológico
Basta abrir uma notícia sobre política para encontrar comentários sobre esquerda e direita. Isso mostra que o nível de identificação ideológica da população de um ou outro lado do espectro ideológico cresceu nos últimos anos. Compreender as nuances desse fenômeno, já demonstrado em outros estudos, é o eixo central da dissertação de mestrado do cientista político Pedro Henrique Marques, defendida na UFMG.
O pesquisador, que atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da mesma universidade, acredita que o fato de os líderes políticos, especialmente Jair Bolsonaro, expressarem suas inclinações ideológicas de maneira mais clara em 2018 pode ter contribuído para que o eleitorado passasse a se localizar mais na escala esquerda-direita, algo que já vinha ocorrendo desde 2014. Segundo ele, esse fenômeno marca uma mudança significativa no comportamento político dos eleitores que, tanto no Brasil quanto em outras democracias do mundo, costumam não saber definir o que é esquerda e direita ou não se posicionar em nenhum dos dois lados.
Em sua dissertação, Pedro Marques investigou os fatores que afetaram essa autolocalização, o quão consistentes eram as ideias defendidas pelos eleitores com aquelas sustentadas pelas elites políticas e o peso da ideologia na hora de decidir o voto, entre outras questões. Para isso, Pedro usou dados do Barômetro das Américas, um dos mais importantes surveys sobre comportamento eleitoral da América Latina, e do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), projeto da Unicamp que avalia o contexto das eleições desde 2002.
De direita, mas intervencionista
Para entender a consistência da identificação do eleitor com uma ideologia e os ideais defendidos por ele, o pesquisador dividiu os principais tópicos relacionados a políticas públicas em três áreas: economia, costumes e segurança pública. Ao analisar os dados, ele concluiu, por exemplo, que o fato de as pessoas se identificarem mais com um lado ou outro não afetava todas as suas convicções. No caso dos eleitores de direita, por exemplo, apenas 25% deles preferiam um estado menos intervencionista na economia, pauta considerada uma das mais centrais da direita liberal.
O cientista político também descobriu que fatores individuais como escolaridade, interesse por política e identificação partidária afetavam muito o voto ideológico. Quanto mais escolarizado, mais interessado por política e mais partidário o eleitor, maiores são as chances de ele defender a maioria das pautas da ideologia com a qual se identifica e adotar a ideologia como critério na hora de votar.
Saiba mais no episódio do Aqui tem ciência, da Rádio UFMG Educativa.
Raio-x da pesquisa
Dissertação: Ideológicos, mas nem tanto: atributos individuais do comportamento ideológico no Brasil de Bolsonaro
O que é: pesquisa que analisou as nuances da identificação política do eleitor na escala esquerda/direita
Pesquisador: Pedro Henrique Marques
Ano da defesa: 2021
Programa de Pós-graduação: Ciência Política
Orientador: Mario Fuks
Financiamento: Fapemig
O episódio 89 do programa Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Joabe Andrade e edição de Paula Alkmim. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos da UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados do trabalho de um pesquisador da Universidade.
O Aqui tem ciência fica disponível em aplicativos de podcast, como o Spotify, e vai ao ar na frequência 104,5 FM, às segundas-feiras, às 11h, com reprises às quartas-feiras, às 14h30, e às sextas-feiras, às 20h.