Impactos econômicos da pandemia no Brasil poderão ser observados até 2050, revela estudo que conta com pesquisadores da UFMG

Pesquisadores integraram dados epidemiológicos à modelagem econômica; número de fatalidades no Brasil é determinante para os impactos

Quando a pandemia de covid-19 foi declarada pela Organização Mundial de Saúde, em 2020, o grupo de pesquisadores especializados em mudança do clima e economia da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), mobilizou-se para apoiar a Rede Vírus MCTI na avaliação dos impactos econômicos da crise sanitária. Também foram analisadas estratégias de desenvolvimento sustentável, que contemplam redução de emissões de gases de efeito estufa, para recuperação econômica no período pós-covid. O conjunto de estudos produzidos pelo grupo de cerca de 20 acadêmicos está reunido em informes.

 
Um dos trabalhos do grupo de pesquisadores da Rede Clima avaliou os efeitos de longo prazo da pandemia, tanto no agregado da economia brasileira como nas regiões do país, e projetou consequências até 2050. A análise lançou mão de ferramenta de modelagem econômica de integração, que consiste nos chamados modelos de equilíbrio geral computável. “Alguns dos efeitos de longo prazo da pandemia são o impacto sobre emprego e mercado de trabalho e o das próprias fatalidades sobre consumo e geração de renda”, explica o coordenador do grupo, Edson Domingues, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.
 
Domingues explica que, no modelo socioeconômico utilizado, o número de mortes causadas pela covid-19 foi um dado determinante para compreender a extensão dos efeitos sobre a economia. Para a simulação, os pesquisadores consideraram os registros de mortes resultantes de infecção por covid-19 divulgados pelo Ministério da Saúde em 2020 e no início de 2021, cumulativamente. Foram computados ainda dados sobre rendimento médio da PNAD Covid-19 e parâmetros médios de expectativa de vida, regionalizados e por grupos etários. Foi estimada a perda potencial de renda e de consumo no ciclo de vida das pessoas que morreram.
 
“No futuro, haverá menos pessoas consumindo, gerando renda. O horizonte de análise indica que, no longo prazo, impactos econômicos diversos serão causados pela redução da população. O próprio emprego, que é afetado no curto prazo, gera efeitos no longo prazo”, explica Domingues.
 
De acordo com o estudo, os efeitos de perda potencial de consumo são mais elevados em 2021 devido ao aumento no número de óbitos, revelando também a heterogeneidade regional devido às especificidades do processo de infecção, a sua severidade e, em certa medida, à capacidade de atendimento da rede de saúde, que foi saturada em algumas unidades da federação.
 
Para dar seguimento ao estudo, o grupo de pesquisa pretende rodar novamente o modelo com dados atualizados de fatalidades de 2021.
 
Diferenças regionais

Os efeitos da perda de consumo são condicionados pelo perfil etário das mortes e pelas características da expectativa de vida média em cada estado. A simulação também considerou essas caraterísticas para os cenários de projeção de impactos econômicos de redução de consumo até 2050.
 
“Em algumas regiões do país, a taxa de fatalidades é maior, e há diferenças quanto ao perfil etário das perdas humanas. A configuração demográfica das fatalidades implica em impactos regionais diferentes”, afirma o pesquisador.
 
Em 2050, segundo as projeções, os impactos sobre o PIB no longo prazo mais expressivos são percebidos no Amazonas (-1,38%) e Acre (-1,35%), seguidos por Rondônia (-1,20%) e Roraima (-1,10%). Já os estados que se recuperam mais rapidamente no longo prazo são Pará (0,34%), Tocantins (0,28%), Piauí (0,14%), Maranhão (0,12%), Minas Gerais (0,09%) e Espírito Santo (0,03%).
 
Os pesquisadores afirmam que os estados mais atingidos pela doença tiveram as infraestruturas de saúde impactadas e que, no longo prazo, haverá novos custos econômicos para atender a novas demandas decorrentes das sequelas causadas pela covid-19.
 
Os trabalhos do grupo da Rede Clima foram coordenados por pesquisadores da UFMG e da USP e foram financiados pela Finep e pelo MCTI.
 
 
(Com Assessoria de Imprensa do MCTI)

Assessoria de Imprensa UFMG

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