Livro da Editora UFMG aborda a influência da canção sertaneja no debate sobre a política agrária na ditadura

Lançado no início deste ano pela Editora UFMG, o livro Canção sertaneja e política agrária durante a ditadura militar, de Marcela Telles Elian de Lima, analisa como um estilo brasileiro - a música sertaneja - cantou, naquele período, um embate entre dois projetos agrícolas. A pesquisadora aborda uma vasta discografia em sua obra, que alcança nomes como Tonico e Tinoco, Vieira e Vieirinha, Milionário e José Rico, Leo Canhoto e Robertinho, Zilo e Zalo, Liu e Léu, Davi e Durval, Pedro Bento e Zé da Estrada, Chitãozinho e Xororó, Trio Parada Dura, Tião Carreiro, Almir Sater, Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Sérgio Reis, Dino Franco e Mouraí, Biá e Dino Franco, Cacique e Pajé, Jacó e Jacozinho, entre outros.

Segundo Marcela, os artistas sertanejos daquele tempo, compondo um conjunto heterogêneo, “ora se colocaram em defesa de uma efetiva redistribuição fundiária, ora a negaram em favor da crença na técnica e na cooperação entre as classes, sob a tutela das elites, como saídas para o desenvolvimento do país”. Esse é um contexto que, por sua singularidade, possibilita falar de uma “posição híbrida” desses artistas, na avaliação da pesquisadora; uma posição que alternava entre o conservadorismo e a revolta. A rigor, explica Marcela, essa diversidade de abordagens pode ser identificada não apenas entre cantores, mas na discografia de um mesmo cantor, ao longo dos anos.

De um lado, encontram-se versos que, como anota a pesquisadora, captam a frustração e o desencanto “de uma gente condenada à errância e sua resistência em passar ao modo de vida urbano”. Por exemplo: “Eu não troco meu ranchinho amarradinho de cipó por uma casa na cidade nem que seja bangalô” (canção Chitãozinho e Chororó, nas vozes de Serrinha e Caboclinho); “De que me adianta viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar” (Saudade de minha terra, nas vozes de Belmonte e Amaraí); “Espere minha mãe estou voltando” (Fogão de lenha, nas vozes de Chitãozinho e Xororó); “Voltar pra Minas Gerais, sei que agora não dá mais, acabou o meu dinheiro. Que saudade da palhoça, eu sonho com a minha roça no Triângulo Mineiro” (Caboclo na cidade, nas vozes de Dino Franco e Mouraí).

Em contrapartida, essa mesma discografia traz composições que tomam a cultura urbana como referencial temático e narrativo não necessariamente negativo. Em 1970, Leo Canhoto e Robertinho lançam, por exemplo, uma piscadela para a cultura jovem urbana (e, por conseguinte, para a Jovem Guarda) em Meu carango: “Todos me chamam de maluco só porque vivo correndo, quase sempre apavorado, no meu carango corro a duzentos por hora, para esquecer que amo alguém sem ser amado.” Outro exemplo de visão positiva do contexto urbano – e da própria conjuntura história que o fomentou – pode ser encontrada em Bandeirante Fernão, nas vozes de Tião Carreiro e Pardinho: “Morreu na selva em delírio o bandeirante Fernão, sete anos de martírio em conquista do sertão, no lugar das esmeraldas, que só foi uma ilusão, surgiu São Paulo grandioso, o diamante da nação.”

As reflexões reunidas no livro foram originalmente defendidas como tese de doutorado em dezembro de 2014 no Programa de Pós-graduação em História da UFMG, sob a orientação da professora de História Heloisa Starling, na linha de pesquisa Culturas políticas.

Ficha técnica:
Título: Canção sertaneja e política agrária durante a ditadura militar
Autora: Marcela Telles Elian de Lima
Editora UFMG
R$ 54 / 224 páginas

(Texto de Ewerton Martins Ribeiro para o Portal UFMG)

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG