Minissérie da UFMG aborda memória e saberes de mestres e mestras do Campo das Vertentes
Projeto Con(fiar) é realizado pelo Campus Cultural UFMG em Tiradentes e Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, além de outros parceiros
A minissérie documental Con(fiar), criada pelo Campus Cultural UFMG em Tiradentes e pela Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, juntamente com outros parceiros, apresenta, a partir do registro audiovisual, aspectos da diversidade cultural da cidade de Tiradentes e das outras cidades da região do Campo das Vertentes.
Até então, já foram disponibilizados quatro episódios dos dez que irão compor a primeira fase do projeto de extensão sob a coordenação do servidor da UFMG Jardel Santos, e estão disponíveis no canal do YouTube do Campus Cultural UFMG em Tiradentes. Os episódios destacam os saberes e fazeres de Minas Gerais, mostrando o dia a dia nas comunidades e os principais ofícios e saberes tradicionais que marcam a região.
Além da admirável arquitetura colonial que atrai turistas de diversos lugares, Tiradentes guarda e expressa memórias por meio de heranças e manifestações culturais. São ceramistas, produtores de queijo e cachaça, escultores de arte sacra, santeiros e muitos outros mestres e mestras de ofício que vivem no local e exercem sua profissão, preservando identidades culturais.
O propósito do projeto é contribuir com a preservação e a valorização desses fazeres, dando visibilidade às vivências, experiências e memórias de pessoas que referenciam a diversidade de saberes e ofícios tradicionais.
Por meio de registros audiovisuais, Con(fiar) contribuiu para que haja, na própria comunidade e para os visitantes da cidade, o reconhecimento do patrimônio material e imaterial da região, que atravessa gerações e ganha novas expressões na contemporaneidade.
Com os episódios já lançados é possível conhecer a trajetória do artesão pioneiro do barro e ceramista em Tiradentes, Tião Paineira, e dos netos Marcos e Mariana Paineira que dão continuidade e ressignificam o fazer da cerâmica e do barro como matéria prima na cidade. Muitos que visitaram Tiradentes na infância devem se lembrar ou mesmo têm guardados os apitos em forma de passarinhos de argila que eram comercializados no Largo das Forras.
Agora poderão visitar o atelier dos jovens ceramistas e encontrar novas peças que colocam em diálogo o passado e o presente. Também poderão conhecer a história da tiradentina e benzedeira Dona Erci, que dá continuidade a essa tradição ancestral de cura por meio do bendizer. Também são marcantes as histórias de Lúcia Maria Resende e Joelma Taroco, queijeiras de Tiradentes e São João del Rei, desde o primeiro impulso para fazer um queijo para consumo próprio até hoje com a produção comercial. A produção de esculturas de Arte Sacra, ofício exercido por Carlos Calsavara, que pode ser conhecido no último episódio lançado.
Dando continuidade a essa primeira etapa do projeto, que reunirá dez vídeos-documentários, serão realizados outros registros sobre a produção da cachaça artesanal, o destilado mais apreciado do Brasil e característico do estado de Minas Gerais, principalmente na rota do ouro, onde se encontra a Vila de São José, atual Tiradentes. Outro vídeo buscará registrar a produção de tapetes e outras peças que saem dos teares da cidade de Resende Costa e se espalham por todo o Brasil. A história da tessitura presente nos saberes e técnicas transmitidos de geração em geração é um verdadeiro tesouro da comunidade que, além de promover sustento para os moradores da cidade, recria processos seculares de tecelagem muito importante para o cenário cultural da região. Também será abordada a tradição na produção de doces artesanais, presente na família do falecido Chico Doceiro, responsável, desde 1965, pela produção dos canudinhos de doce de leite, cocadas e brigadeiros mais famosos de Minas Gerais.
A equipe Con(fiar), que conta com professores, servidores, colaboradores e estagiários e do Campus Cultural da UFMG em Tiradentes e da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, espera que, por muitos anos, seja possível continuar documentando saberes e fazeres, promovendo diálogos, reforçando a dimensão histórica e a diversidade de culturas que caracterizam essa região. Espera-se que, cada vez mais, as memórias e narrativas confiadas aos envolvidos cheguem mais longe e continuem a ser compartilhadas, afinal é fundamental que as pessoas reconheçam, valorizem e se aproximem da diversidade de conhecimentos e de expressões. Isso é cultura e cultura é sobre pertencer, imaginar, interagir, dialogar, reinventar.