Modelo adotado por centro de pesquisa da UFMG é caminho para superar crise
Recém-inaugurado, CTNano foi viabilizado com recursos públicos e privados
Arranjos que reúnem universidade, governo e iniciativa privada – como o que viabilizou a construção do Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CTNano) da UFMG, inaugurado na tarde desta terça-feira, 16 de abril, são a solução para a crise financeira do país, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida.
“Este é um momento muito especial, que mostra essa conexão entre universidade, poder público e iniciativa privada, na formação de uma sinergia tão importante para o nosso país e para o nosso estado”, ressaltou a reitora, lembrando, no entanto, que, mesmo em países desenvolvidos, “não se faz pesquisa sem investimento público”.
A solenidade de inauguração, no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), contou com a presença de convidados, pesquisadores e representantes dos setores que financiaram o investimento, como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras, InterCement, Governo do Estado de Minas Gerais e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Ao abrir a cerimonia, o físico Marcos Pimenta, que coordena o projeto, explicou o que são grafenos e nanotubos de carbono, falou da origem das pesquisas em nanomateriais e da história do CTNano.
Segundo ele, o Centro, que trabalha na interface entre a academia e o setor industrial com apoio do setor público, captou, até o momento, cerca de R$ 45 milhões, dos quais, 52% vieram do setor privado (que, nesse arranjo, inclui a Petrobras), 45% de fontes governamentais da esfera federal e 3% do governo estadual. “Está na hora de aumentar a participação do Governo do Estado no financiamento desse Centro”, afirmou Pimenta, que é professor do Departamento de Física da UFMG e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Nanomateriais de Carbono.
O coordenador de operações do CTNano, Lucas Campos Moreira, explicou que estão entre os objetivos do Centro transferir tecnologia para a indústria, tornar mais dinâmico o processo de levar para a sociedade o conhecimento gerado na pesquisa, gerar spin-offs, formar recursos humanos e prestar serviços especializados.
“É possível alcançar esses objetivos por causa do que chamamos de tríplice hélice: a tecnologia da universidade atendendo as demandas da indústria e contando com apoio governamental”, explicou ele, informando que o mercado mundial de nanomateriais, que era de mais de US$ 48 milhões em 2017, vai triplicar em 2024.
O Centro atua em cinco frentes, que incluem produção de nanotubos de carbono, grafeno, polímeros em nanoescala e cimento nanoestruturado, caracterização e metrologia para controle de qualidade e elaboração de protocolos de segurança para uso e produção de nanomateriais.
Financiamento público
O diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fapemig, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, destacou a importância do financiamento público para pesquisas em etapas embrionárias, quando ainda não é possível vislumbrar seus desdobramentos, e comentou que a Fundação apoiou desde o início o projeto que deu origem ao CTNano. “Se apostarmos que esse tipo de modelo pode ser a base para o desenvolvimento econômico e social do nosso país e do nosso estado, certamente colheremos frutos, embora não sejam imediatos”, observou.
Em sua opinião, interromper investimentos dessa natureza pode significar a interrupção de “outros CTNanos, que estão sendo gestados em outras áreas do conhecimento”. E assegurou que a Fapemig está empenhada em contribuir para que ciência, tecnologia e pesquisa sejam o eixo do desenvolvimento econômico e social de Minas Gerais.
A reitora Sandra Goulart Almeida disse desejar que a filosofia por trás do CTNano se expanda para outras áreas. “Hoje estamos colhendo os frutos de um trabalho de pesquisadores, do Estado e também da iniciativa privada, que investiram maciçamente nesse projeto. Parabenizo o professor Marcos Pimenta e toda a equipe por esse belíssimo empreendimento e pela sensibilidade para unir esses polos. Para sair dessa crise, é esse o caminho”, reiterou.
Ao lembrar que os Estados Unidos, país sempre citado pela alta taxa de transferência de tecnologia, têm 60% de sua pesquisa financiada por recursos públicos, a reitora ponderou que não há como fazer pesquisa de ponta “sem esse investimento sustentável e sustentado”. Ressaltando que as universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa realizada no Brasil, Sandra Goulart Almeida reiterou: “Para que possamos fazer pesquisa, é importante que o estado esteja sempre presente”.