Mulheres vítimas de violência contam com atendimento especializado no Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh
Instituição é referência nos casos de violência contra a mulher
Agosto é o mês de enfrentamento da violência contra a mulher. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, o número de registros aumentou durante a pandemia. As atividades do Agosto Lilás, como foi batizada a campanha criada para conscientizar a sociedade da importância de colocar fim a esse tipo de violência, coincidem com a celebração dos 15 anos da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). Nesta data, o Hospital das Clínicas (HC) da UFMG/Ebserh relembra à população que disponibiliza atendimento especializado para mulheres vítimas de violência.
O HC-UFMG possui um Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual e em Situação de Vulnerabilidade e é referência nesse tipo de assistência desde 2012. Trata-se de um serviço porta-aberta, ou seja, não é necessário encaminhamento. O atendimento é feito diariamente, 24 horas, no plantão da maternidade da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia. Outras formas de violência são atendidas no Ambulatório Para Elas todas as sextas-feiras, das 8h às 12h, no Instituto Jenny de Andrade Faria (atendimento suspenso desde o início da pandemia).
A violência sexual pode ser aguda, quando ocorre uma única vez, ou crônica, quando é frequente e, muitas vezes, silenciosa. Segundo explica a coordenadora do Núcleo, a professora e ginecologista Sara de Pinho Paiva, em casos de violência aguda, a paciente atendida no pronto-socorro do HC-UFMG recebe atendimento médico imediato. Não é necessário Boletim de Ocorrência.
“Quanto mais rápido uma mulher que sofreu violência sexual buscar ajuda médica hospitalar, mais fácil será a condução do seu caso. O ideal é que o atendimento médico seja realizado nas primeiras horas após a violência”, afirma Sara.
Se a paciente comparece ao serviço até 72 horas após a agressão, ela poderá receber os medicamentos para prevenção de infeções sexualmente transmissíveis e também prevenção da gravidez fruto de estupro. Além disso, ainda é possível fazer a coleta de vestígios em região vaginal e outros locais que possam conter material genético do agressor.
“Oferecemos atendimento clínico e avaliação de lesões, medicamentos para prevenir infecções sexualmente transmissíveis - sífilis, hepatites, AIDS e outras infecções - e gestação fruto de violência sexual, mas em ambos os casos isso só é possível quando a paciente comparece ao pronto-atendimento em até cinco dias após a violência sexual. Além disso, também encaminhamos a paciente para acompanhamento ambulatorial por, no mínimo, seis meses”, destacou.
Esse acompanhamento engloba atendimento ginecológico, com avaliação dos exames e acompanhamento do risco de adquirir infeções sexualmente transmissíveis; planejamento familiar para orientação de métodos para contracepção, assistência psiquiátrica com avaliação e acompanhamento da necessidade de prescrição de medicações para melhorar sintomas de ansiedade, depressão e alterações do sono, por exemplo; psicoterapia individual; serviço social e participação no grupo de Mindfulness, que são encontros online em grupo com pacientes para aprendizado e prática de Meditação Mindfulness com objetivo de auxiliar na melhora da qualidade de vida e redução nos níveis de estresse, ansiedade e depressão.
Caso a paciente não consiga comparecer ao hospital nas primeiras 72 horas após a violência, é ainda importante que ela busque ajuda médica para avaliar os riscos de ter contraído alguma infecção sexualmente transmissível ou de uma gravidez possivelmente fruto do estupro.
Dados
A idade média das pacientes do Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual e em Situação de Vulnerabilidade é 25 anos. Até junho deste ano, foram realizados 20 atendimentos, sendo que 11 das vítimas chegaram grávidas e 10 já realizaram o aborto legal. Em 2020, foram 53 registros.
Cerca de 15% dos casos estão relacionados à violência dentro do ambiente domiciliar; 24% tiveram violência física associada; 21% já tinham sido violência antes e 60% não realizaram Boletim de Ocorrência.
Sara ressalta que todas as mulheres atendidas no HC-UFMG/Ebserh são orientadas sobre a importância de registrar Boletim de Ocorrência. No entanto, segundo ela, muitas mulheres não fazem a denúncia por vários motivos: medo de serem hostilizadas dentro da Delegacia de Polícia, medo do agressor ficar sabendo da denúncia e voltar a procurar a vítima, falta de informações sobre onde buscar ajuda, medo de serem expostas à sociedade.
“O atendimento no hospital é realizado independentemente de a mulher ter feito ou não a denúncia. Até mesmo casos de mulheres que apresentam gestação fruto de uma violência sexual serão atendidas no HC-UFMG e, caso solicitem a interrupção legal da gestação (aborto legal), não será cobrada a apresentação de um Boletim de Ocorrência. A mulher não é obrigada a fazer a denúncia para que solicite assistência médica e receba toda a atenção que merece”, destaca.
Consequências
A violência sexual pode gerar várias consequências a médio e longo prazo para a mulher. Doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis, hepatites e AIDS, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos alimentares e depressivos são algumas delas.