Obras de Samuel Maria no Centro Cultural UFMG são delineadas pela simbologia da terra
O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual Nós viemos da lama, não podemos morrer longe do rio, do artista visual Samuel Maria. A mostra reúne pinturas e produções a partir do protagonismo da terra. Retoma as primeiras formas do fazer artístico rupestre, nas quais os pigmentos são extraídos do próprio chão, de forma a resgatar a importância do que é natural. O evento acontece no dia 27 de setembro, sexta-feira, às 19h. As obras poderão ser vistas até 27 de outubro. A entrada é gratuita e tem classificação livre.
Nós viemos da lama, não podemos morrer longe do rio – por Samuel Maria
Quando falo de quem sou, antes de tudo, falo que sou ribeirinho. Culturalmente e experiencialmente fui moldado pelo Rio Pomba, em Cataguases e carrego no corpo e na memória as marcas da água, da terra, da vida na beira de um rio, com todo o amor e com toda a poética, mas também com todas as tristezas e mazelas. Cresci vendo o rio correr atrás de casa e, ano após ano, vendo-o entrar e alagar tudo.
Hoje, usando a arte como questão disparadora de possíveis afetos no olhar sobre a terra, imagino justamente a própria terra sendo protagonista do debate, já que carrega em si todas as poéticas e possibilidades geradoras de mudança. Dessa maneira, retomo parte das primeiras formas do fazer artístico rupestre, uso as cores das terras que me fizeram para pintar a paisagem que me cerca, com todas as suas belezas e com todas as suas problemáticas. Insistindo em voltar para o chão, reivindico a importância do que é natural, deixando de lado a visão portuguesa de mundo, na qual tudo seja feito em prol do preço e lucro.
Muitos processos envolvem a produção da própria tinta, inclusive que vão de encontro à forma como a sociedade encara o tempo. Nessa dilatação temporal anticapitalista, a coleta, o tratamento e a pintura são parte de algo que já é pensamento artístico. Na coleta, existe tanto arte quanto política, a busca pela terra, a vivência na montanha, no brejo, no rio, tudo isso é libertador e contraventor. A produção do artista como máquina de resultados é deixada de lado e dá lugar a uma relação mais íntima e cuidadosa.
Atualmente, pesquiso sobre as cores das terras mineiras e suas possibilidades artísticas, as relações socioambientais que envolvem nosso chão e rios, o relevo e as características geográficas, além do impacto da mineração sobre o solo e sua influência na transformação da paisagem local.
Olhar para a terra é também olhar para quem somos. Toda terra conta uma história, com as marcas que são dela e toda pessoa carrega em si as cicatrizes do que foram. Quando falo da terra, falo do íntimo, das entranhas, das histórias que vivi na infância ao lado do rio, das coisas que me moldaram, mas também falo de um povo, do povo ribeirinho, dos que tiveram suas casas invadidas pelas águas, que são usadas pelo sistema capitalista como mercadoria.
As obras apresentadas são fruto de uma pesquisa sobre as cores da terra da Serra do Curral, em Belo Horizonte, sobre a topografia e as relações sociais que envolvem a serra.
Precisamos levar o debate acerca da destruição da terra para todos os lugares. A mineração irresponsável que devasta o Brasil todos os dias e já desencadeou inúmeras tragédias segue hoje sendo o maior problema que temos pela frente. Através da arte percorro o caminho entre as belezas naturais e as tensões causadas pela indústria, essa linha tênue que vem formando quem eu sou.
Sobre o artista
Samuel Maria é artista visual natural de Cataguases, interior da Zona da Mata mineira, graduando em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Sua pesquisa perpassa pela intimidade com as paisagens mineiras, as cores das terras da região e a ligação intensa com o Rio Pomba, que corre atrás da casa que cresceu. Dos trabalhos recentes, destacam-se o Prêmio Barueri de Artes Visuais, em 2023, onde foi contemplado na categoria pintura; a exposição individual Sabiá, no Centro Cultural Humberto Mauro em Cataguases, em 2023; a coletiva XVIII Salão Municipal de Artes Plásticas de João Pessoa, em 2024; além das residências artísticas Ecologia Insurgente na Cidade Organismo com o grupo Imaginação Comum, na Funarte, em 2024 e Imersão de Criação com o grupo Imaginação Comum, no JACA, em 2023.
Serviço:
Exposição Nós viemos da lama, não podemos morrer longe do rio – Samuel Maria
Abertura: 27 de setembro | 19h
Visitação: até o dia 27/10/2024
Terças a sextas: das 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: das 9h às 17h
Sala Celso Renato de Lima do Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 - Centro – Belo Horizonte | MG)
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita