Pesquisa analisa estratégias de posicionamento de mulheres negras formadas em Medicina na UFMG
A trajetória acadêmica e profissional de mulheres negras que ingressaram no curso de graduação em Medicina da UFMG em 2009 ‒ primeiro ano da política afirmativa de bônus para estudantes de escolas públicas adotada pela Universidade, que antecedeu a Lei de Cotas, de 2012 ‒ é tema de dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG.
Na pesquisa, Ieda Abreu trabalha com o conceito de subjetivação, do filósofo francês Michel Foucault. “São todas as forças que movem um sujeito em busca de se colocar, de assumir uma posição nas relações sociais”, resume.
Para entender como se deu esse processo entre as mulheres negras que ingressaram na Faculdade de Medicina da UFMG em 2009, a pesquisadora entrevistou cinco médicas da primeira turma que concluiu o curso após a implementação da política de bônus. Elas responderam a perguntas sobre contexto familiar e escolar antes do ingresso, motivações para a escolha da Medicina, compreensão das ações afirmativas e o acesso ao curso. Também foram questionadas sobre a permanência na Universidade, se sofreram algum tipo de preconceito, como foram os internatos, estágios e a residência médica e, finalmente, falaram sobre a experiência profissional.
Um dos aspectos que chamaram a atenção da autora foi a importância do apoio familiar para que as participantes pudessem concluir o curso superior. Outro ponto observado foi o contraste relatado pelas médicas entre o ambiente da escola pública e o do curso de Medicina.
Saiba mais sobre o trabalho no novo episódio do Aqui tem ciência, da Rádio UFMG Educativa.
Resistência continuada
As mulheres negras entrevistadas por Ieda Abreu romperam barreiras ao acessar o curso de Medicina, mas ainda enfrentam discriminações e preconceitos raciais que persistem na sociedade e em suas vidas, mesmo depois de formadas. Elas precisam continuar resistindo a diferentes formas de racismo, que se reconfiguram, principalmente quando um corpo negro ocupa um lugar antes ocupado somente por corpos brancos.
Em fevereiro de 2021, a Faculdade de Medicina da UFMG criou, por meio de portaria, a Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo. Em atividade desde julho de 2020, a comissão é formada por estudantes negras e negros do Grupo de Estudos de Negritude e Interseccionalidades (Geni), estudantes indígenas, servidores técnico-administrativos, professores e representantes estudantis dos cursos da Faculdade de Medicina. O objetivo é propor e acompanhar a aplicação de políticas e estratégias de combate ao racismo na instituição.
Raio-x da pesquisa
Dissertação: Processos de subjetivação de mulheres negras que concluíram o curso de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais
O que é: Pesquisa que identificou, nos processos de subjetivação de mulheres negras formadas em Medicina, as formas de seu posicionamento e analisou como elas lidaram com preconceitos e discriminações raciais e de classe social e as estratégias utilizadas para conseguir ingressar no curso, manter-se na Universidade e iniciar sua vida profissional.
Pesquisadora: Ieda Abreu
Ano da defesa: 2021
Programa de Pós-graduação: Educação: Conhecimento e Inclusão Social
Orientadora: Maria Carolina da Silva Caldeira
O episódio 93 do programa Aqui tem ciência tem apresentação de Vinicius Luiz e produção de Alessandra Ribeiro. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos da UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade.
O Aqui tem ciência fica disponível em aplicativos de podcast, como o Spotify, e vai ao ar na frequência 104,5 FM, às segundas, às 11h, com reprises às quartas, às 14h30, e às sextas, às 20h.