Pesquisa com participação da UFMG vai traçar perfil dos cientistas brasileiros em início e meio de carreira

Participantes devem ter vínculo com instituição de ensino ou pesquisa e ter defendido tese de doutorado a partir de 2006

Uma pesquisa que visa mapear o perfil dos jovens cientistas brasileiros está em curso e conta com a colaboração de pesquisadores de todo o Brasil, inclusive com coordenação da UFMG. Elaborado por grupo de 87 pesquisadores da Academia Brasileira de Ciências (ABC), entidade responsável pelo projeto, o estudo Perfil dos pesquisadores brasileiros em início e meio de carreira é feito em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e com o projeto Parent in Science, e tem apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Além de traçar o perfil do pesquisador brasileiro em início e meio de carreira, a pesquisa deverá prover suporte para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam a valorização da carreira e a garantia de oportunidades de trabalho e desenvolvimento profissional. A participação é on-linepor meio do site Perfil do Cientista Brasileiro, e o tempo de resposta é de cerca de 15 minutos. É necessário que o participante tenha defendido seu doutorado há, no máximo, 15 anos. O prazo de coleta de dados segue até 31 de agosto.

“A gente pensou, a princípio, nesse recorte de até 15 anos, e os participantes devem ser pesquisadores brasileiros que têm algum vínculo formal com uma instituição de ensino ou pesquisa. Pode ser, por exemplo, um pesquisador em pós-doc, pode ser um professor recém-contratado, desde que a pessoa tenha defendido o doutorado a partir de 2006”, explica Raquel Minardi, professora do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, uma das coordenadoras da iniciativa. 

Raquel Minardi coordena o estudo em parceria com os também gestores Ana Chies (UFRGS), Jaqueline Mesquita (UnB) e Alessandro Freitas (IDP). A pesquisa tem vários eixos, que foram definidos nos grupos de trabalho da ABC, com questões relativas a financiamento, diversidade, gênero, etnia, assédio moral, internacionalização, liderança, entre outros aspectos. Ela explica que não há recorte etário, mas o estudo também vai mapear a idade desses “jovens pesquisadores”. 

“Censo” da pesquisa brasileira

De acordo com Raquel Minardi, o estudo pode ser visto como uma espécie de “censo” que vai revelar a realidade do jovem pesquisador brasileiro. “É uma oportunidade que a gente tem de escutar o cientista, o colega, porque a gente conversa muito, a gente até sabe de muitas dificuldades enfrentadas pelo outro, mas não há um conjunto de dados recente, atualizado, disponível, como esse que estamos tentando formar”, afirma.

A professora do DCC destaca ainda outro aspecto relevante para os resultados do estudo: a participação de diferentes agentes. “Acho que um ponto forte da pesquisa é que ela foi elaborada por um grupo grande de pessoas, provenientes desse público-alvo e que estão em várias áreas e diferentes regiões do país. Por isso mesmo, a gente espera que essas perguntas representem bem a amplitude dos desafios que o jovem cientista enfrenta no Brasil. A gente precisa muito da participação das pessoas, porque é nesse momento de escuta que o cientista vai poder relatar seus desafios”, considera.

A ideia da pesquisa, explica Raquel Minardi, surgiu em alguns grupos organizados em eventos da ABC, nos quais os participantes sempre discutiam as dificuldades do cientista brasileiro em início de carreira para se estabelecer e crescer na carreira, atuando no Brasil. “Muito se fala da diáspora científica, sobre os pesquisadores brasileiros que estão indo embora. Falam da fuga, mas ninguém consegue mensurar exatamente essa fuga nem demonstrar por que ela acontece. Fala-se muito que é porque não há financiamento, não há bolsas nem empregos. Há várias hipóteses, mas a gente sempre fica limitado pela falta de estudos”, explica.

O foco em pesquisadores em início e meio de carreira, segundo Minardi, é explicado pelo cenário enfrentado por eles em todo o país, nos últimos anos. “A gente nota que os cientistas que ingressaram na carreira acadêmica, por exemplo, há 10 anos encontraram um cenário muito mais propício do que o enfrentado por quem entrou há cinco anos, por conta de um apagão de recursos e do desprestígio da ciência e da carreira no Brasil”, destaca.

Subsídio à carreira científica

Um dos objetivos do estudo é oferecer aos órgãos que gerenciam a pesquisa no país suporte empírico para o desenvolvimento de políticas públicas que estimulem a carreira científica. “Essa pesquisa é importante também porque vai gerar dados capazes de nos subsidiar para fazer um diagnóstico do cenário enfrentado pelo pesquisador e também propor ações e políticas de financiamento à ciência e à tecnologia no Brasil. É uma forma de zelar pela carreira científica”, defende Raquel Minardi. 

A pesquisadora do DCC apresenta, como exemplo, a situação enfrentada por alguns ex-alunos que ingressaram no serviço público como professores há cinco anos e ainda não conseguiram nenhum recurso para financiamento de pesquisas. “Muitos deles tiveram vários projetos aprovados, mas o dinheiro não foi depositado. Isso prejudica a carreira desses jovens pesquisadores de uma forma que é irreparável. É difícil recuperar esse tempo perdido”, lamenta.

Texto de Hugo Rafael

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG