Pesquisa da UFMG analisa fatores para o uso de serviços de saúde pela população em situação de rua

Focado na população de Belo Horizonte, estudo mostrou que a maior parte dos indivíduos analisados não realiza um acompanhamento regular

Em Belo Horizonte, a maior parte dos indivíduos em situação de rua auto avalia seu estado de saúde como bom (39,7%), porém também afirma apresentar alguma doença, sendo a principal a dependência química/alcoólica (39,3%), seguida por problema mental (30%). Estes resultados são do estudo do pesquisador Thiago Gomes Gontijo, da Escola de Enfermagem da UFMG, que analisou a associação entre fatores sociodemográficos, econômicos e condições de vida na utilização de serviços de saúde pela população em situação de rua (PSR) em Belo Horizonte.

O artigo, recém-publicado, é fruto da dissertação de mestrado de Thiago, sob orientação do professor Francisco Carlos Félix Lana e coorientação da professora Giselle Lima. Foi realizada uma pesquisa transversal analítica, na qual foram entrevistadas 390 pessoas em situação de rua, que atendiam aos critérios de inclusão: apresentar idade igual ou maior que 18 anos, estar em situação de rua por um período maior que um mês e ter a região Centro-Sul da cidade como local de convivência prioritário, (área com maior presença de pessoas em situação de rua e que disponibiliza serviços de saúde e apoio social especializados para a PSR).

Thiago Gontijo ressalta que a maior parte dessa população procura os serviços de saúde devido à agudização de doenças ou comorbidades que dificultam a vivência nas ruas, e não para acompanhamento regular. “Entretanto, é possível identificar uma transição na busca por atendimento na Atenção Primária à Saúde pela PSR, que pode oferecer ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento, reabilitação e redução de danos, articulando-se com diferentes setores da rede para integrar o cuidado”, relatou.

Os resultados demonstraram que os entrevistados possuíam média de idade de 38 anos, a maioria era do sexo masculino (85,6%), pardos autodeclarados (41,8%), heterossexuais (92,1%), sem renda fixa mensal (58,0%), negaram receber benefícios de transferência de renda (50,3%), afirmaram frequentar alguma unidade de acolhimento (86,4%) e relataram não participar de movimento social (88,7%). Houveram relatos de uso de drogas ilícitas e medicamentos. A procura por serviços de saúde nos últimos 30 dias foi reportada por 174 (60,0%) indivíduos, sendo devida a doença, acidentes, lesões e/ou imunização. O centro de saúde foi o serviço usualmente procurado pela população em situação de rua (56,6%) e também o mais usado (57 %) no último mês.

O pesquisador explica que, com os resultados obtidos, utilizou-se a regressão de Poisson para verificar as associações relacionadas à utilização dos serviços de saúde, e o modelo comportamental de Andersen foi adotado como referencial teórico. O modelo divide os fatores como predisposição, capacitação e necessidade. “Os fatores de predisposição se referem às características individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde, como as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, raça, atitudes e crenças, os fatores de capacitação se referem à capacidade de o indivíduo procurar e receber serviços de saúde que estão associados às condições econômicas e à oferta de serviços e os fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e ao estado de saúde”.

A partir da análise dos resultados, o estudo concluiu que o uso de crack e medicamentos, a autoavaliação positiva de saúde, a escolha própria como motivo de ida às ruas e a participação em movimentos sociais representam fatores de predisposição e de necessidade do modelo comportamental de Andersen, que foram associados à utilização dos serviços de saúde por pessoas em situação de rua.

“Apesar da condição de vida adversa nas ruas, a maior parte dos participantes avaliou positivamente seu estado de saúde e essa avaliação foi associada à maior utilização dos serviços de saúde. Isto pode ser explicado por uma concepção restrita de saúde, associada à capacidade de estar vivo e resistir ao cotidiano de dificuldades enfrentadas nas ruas, naturalizando a vulnerabilidade. Por outro lado, a doença é associada ao estado de debilidade, que compromete a realização de tarefas simples, o trabalho e a própria subsistência. O conhecimento dos fatores associados à utilização dos serviços de saúde pela população em situação de rua pode subsidiar reflexões entre os profissionais de saúde e de outras áreas, propiciando ações que extrapolam a saúde, favorecendo a intersetorialidade, o cuidado integral e o engajamento do público em atividades que contribuem para formação de sujeitos sociais”, concluiu Thiago Gontijo. 

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG

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