Pesquisa da UFMG que avalia método de controle da dengue em BH inicia segunda fase de visitas a cerca de 3500 residências

Ensaio clínico pioneiro nas Américas avalia se mosquito com Wolbachia reduz número de casos observando crianças de 6 a 11 anos

Em meio à liberação de mosquitos com Wolbachia em diferentes bairros de Belo Horizonte, a equipe de pesquisadores da UFMG já está pronta para iniciar, na próxima segunda-feira, 14 de junho, mais uma etapa do Projeto Evita Dengue, primeiro estudo randomizado e duplo-cego das Américas a avaliar a eficácia da liberação desses mosquitos.

Evita Dengue é coordenado no Brasil pelo professor Mauro Teixeira, do departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue (INCT Dengue), e desenvolvido em colaboração internacional com os pesquisadores Srilatha Edupuganti, da Universidade de Emory; Derek Cummings, da Universidade da Florida e Albert Ko, da Universidade de Yale. São parceiros, ainda, o Laboratório de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais e o Ministério da Saúde.

O estudo da UFMG

Pelo período de quatro anos, a partir de 2020, o objetivo da pesquisa é testar a eficácia do método Wolbachia na redução da incidência de arboviroses, incluindo Dengue, Zika e Chikungunya.

Na etapa que se inicia neste mês de junho, o trabalho dos pesquisadores consistirá em repetir a visitação feita entre agosto e novembro de 2020 para nova coleta de dados e amostras das mais de 3500 crianças recrutadas. Estas crianças estão matriculadas em 58 escolas da rede pública municipal selecionadas para participar da pesquisa. As escolas estão distribuídas por todas as regionais de Belo Horizonte. 

No estudo, regiões onde ficam 29 das escolas, receberam a liberação do mosquito Aedes com Wolbachia em um primeiro momento. Os dados coletados nas outras 29 regiões onde não haverá a liberação dos mosquitos da WMP irão compor o grupo controle do projeto. Posteriormente, após a avaliação dos dados coletados no estudo, estas regiões receberão a liberação dos mosquitos com Wolbachia. 

A opção por crianças de 6 a 11 anos se dá, principalmente, porque nessa faixa etária as crianças habitualmente ficam mais restritas à sua casa e à escola. Todas as crianças envolvidas concordaram em participar e foram autorizadas por seus responsáveis legais.

Ensaio randomizado por cluster para avaliação da eficácia de mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia na redução da incidência de infecção por arbovírus no Brasil - Projeto Evita Dengue, também prevê a realização de ações educativas para a promoção do pensamento cientifico. Estes projetos serão desenvolvidos junto com o corpo pedagógico das 58 escolas selecionadas.

Método Wolbachia

Os mosquitos desenvolvidos pelo World Mosquito Program (WMP), uma organização global sem fins lucrativos, foram lançados pela primeira vez na Austrália em 2011. O programa agora está ativo em 11 países. O método se baseia na inserção de bactérias Wolbachia, naturalmente encontradas em harmonia em muitos insetos, e que no mosquito Aedes aegypti pode reduzir sua capacidade em transmitir a dengue, Zika e Chikungunya. 

Uma vez liberados no meio ambiente, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os mosquitos nativos e começam a transmitir a bactéria para seus descendentes. A partir dessa liberação, a proporção desses mosquitos aumenta naturalmente no ambiente com o passar do tempo, tornando os demais mosquitos daquela área menos capazes de transmitir doenças como a dengue. Esta ferramenta é complementar às demais ações de controle das arboviroses. A implantação do Método do WMP em Belo Horizonte é realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com as autoridades locais de saúde e com financiamento do Ministério da Saúde do Brasil. 

Em agosto de 2020, os resultados de um ensaio experimental conduzido na cidade de Yogyakarta, Indonésia, mostraram uma redução de 77% na incidência da dengue em comunidades tratadas com Wolbachia. Sobre este resultado, Mauro Teixeira observa que “a geografia e o clima em Belo Horizonte são muito diferentes dos de Yogyakarta e essas diferenças têm um impacto significativo na transmissão de infecções por arbovírus”. Na visão do cientista, este estudo em Belo Horizonte é fundamental para a compreensão da aplicabilidade geral do Método na região. 

Importância do estudo

Se for bem-sucedido, a pesquisa da UFMG fornecerá evidências científicas fortes de que o método Wolbachia reduz a dengue e outras infecções transmitidas por mosquitos, podendo corroborar o uso de uma intervenção segura, natural e autossustentável em regiões do mundo onde as doenças transmitidas por mosquitos são endêmicas. Mauro Teixeira se declara ansioso para iniciar a nova etapa do estudo, “que pode impactar fortemente na forma como lidamos com as arboviroses. Utilizamos rigorosos critérios científicos que validarão a eventual utilização em larga escala do método Wolbachia”, afirma. 

“Estamos entusiasmados por termos conseguido lançar este estudo impactante e iniciar a implementação da intervenção no meio da pandemia de covid-19”, declara Srilatha Edupuganti, pesquisadora da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, que coordena os estudos em nível internacional. “Mais dados epidemiológicos, como os do ensaio Evita Dengue, podem apoiar os resultados do estudo em Niterói”, destaca Luciano Moreira, pesquisador e líder do WMP no Brasil, referindo-se a dados observacionais preliminares que mostram redução de 60% no número de casos de Chikungunya em Niterói com o uso do mesmo método. O ensaio clínico é financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, parte dos Institutos Nacionais de Saúde, sob o contrato HHSN272201300018I. 

Assessoria de Imprensa UFMG

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