Pesquisa da UFMG revela o impacto da pandemia de covid-19 no setor musical de Belo Horizonte
Com primeira fase concluída, resultados apontam um cenário de redução salarial, mudanças de carreira e desafios na adaptação para o on-line
Para avaliar a dimensão dos efeitos da pandemia da covid-19 no setor musical em Belo Horizonte, pesquisadores da UFMG entrevistaram 171 profissionais da música (como cantores, compositores, instrumentistas, técnicos de som, DJs, produtores executivos, luthiers, entre outros), entre 10 de agosto e 06 de outubro de 2020. O resultado revela uma situação de redução salarial e reinvenções profissionais no setor na capital mineira.
Segundo a pesquisa, desenvolvida pelo Escutas – Grupo de Pesquisa em Sonoridades, Comunicação, Textualidades e Sociabilidade do Departamento de Comunicação Social, o impacto em grupos socialmente mais vulneráveis é ainda maior e a adaptação ao universo on-line fica longe de monetizar financeiramente para a grande maioria dos músicos.
Os resultados já obtidos foram publicados em uma edição especial da Frontiers in Sociology, revista internacional que dedicou um volume a estudos sobre os impactos da pandemia na música em todo o mundo. Além disso, as informações foram apresentadas e estão disponíveis no YouTube do grupo responsável pela pesquisa.
Em geral, os dados indicam precarização no setor musical: um cenário com alta ocorrência da informalidade e no qual o abandono e/ou troca da função musical por outra não-musical (como dirigir carros de aplicativo ou vender pães) se torna ainda mais evidente. Também se verifica o papel crucial dos bares, restaurantes e eventos – como o Carnaval, que movimentava a economia ao longo de todo o ano na cidade – para a cadeia produtiva do setor.
Entre o universo total de respondentes da pesquisa, antes da pandemia apenas 5,8% dos entrevistados diziam ganhar mensalmente o equivalente a um salário mínimo com a música (R$ 1.045,00). Com a pandemia, porém, o número aumentou significativamente: quase a metade dos entrevistados (43,9%) viu sua renda despencar a esse patamar de um salário mínimo mensal obtido com a atividade, impacto que atinge os músicos e dependentes diretos. Isso porque, do total geral dos 171 respondentes, 145 (84,8%) afirmaram que vivem da sua própria renda com música e destes, 77 disseram que possuem um ou mais dependentes dessa renda.
Os dados também revelam que a precariedade é distribuída de forma diferenciada com base em gênero, sexualidade, raça e etnia, geração e classe, variáveis que também foram consideradas pela pesquisa. Por exemplo, dentre os profissionais negros entrevistados – que representam 37,4% do total de respondentes da pesquisa – metade ficou tanto antes, como depois da pandemia, na faixa de um salário mínimo auferido mensalmente.
Em sua próxima etapa, a pesquisa ainda irá investigar questões específicas que emergiram nas respostas do questionário da primeira fase – como o impacto das leis de incentivo à cultura e o desafio da barreira tecnológica do virtual (seja para dar aulas, produzir e monetizar lives, entre outros aspectos). Nesta segunda fase, os pesquisadores retornarão aos respondentes do questionário para realizar entrevistas de profundidade individuais e em grupos focais.
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