Pesquisa da UFMG sobre a resistência de estudantes secundaristas recebe o Prêmio Compós de Tese 2021
Processos comunicativos e políticos acerca das ocupações em escolas no Estado de São Paulo, em 2015, foram analisadas em estudo inovador
A tese Cenas de dissenso, arranjos disposicionais e experiências insurgentes: processos comunicativos e políticos em torno da resistência de estudantes secundaristas, de autoria da pesquisadora Francine Altheman, recebeu o Prêmio Compós de Tese 2021. O trabalho, orientado pela professora Ângela Marques e defendido em julho de 2020 no doutorado em Comunicação Social da UFMG, concorreu com teses defendidas em todos os Programas de Pós-Graduação em Comunicação do país.
Francine Altheman analisou os movimentos de insurgência, também conhecidos como os mais novos movimentos sociais. “Meu principal foco na pesquisa foram os movimentos de resistência, ou insurgência, mais especificamente os processos comunicativos que permeiam esses movimentos e os transformam politicamente, assim como transformam os sujeitos envolvidos na insurgência”, conta.
A pesquisadora revela que sempre se interessou por movimentos sociais, participou de grêmio estudantil e tinha a curiosidade de entender um pouco mais como isso acontece. Assim, o estudo foi motivado pelas ocupações em mais de 200 escolas no Estado de São Paulo, em 2015. “Foquei no movimento secundarista que tinha acabado de acontecer quando comecei a pesquisa, então estava tudo muito fresco, acontecendo junto com o meu processo como pesquisadora, e isso me motivou bastante”, salienta.
Os diferenciais da pesquisa foram pontos positivos que levaram ao prêmio. “Eu me inspirei na obra do Rancière, mas também fiz uma costura com Foucault, o que não é muito usual, as pessoas não costumam colocar esses dois autores juntos e eu acho que isso já foi uma aposta no meu trabalho, que eu arrisquei bastante”, destaca. “E outro ponto alto que é bem importante é a forma como eu trabalhei o método de pesquisa. Eu não trabalhei uma forma encaixotada, referencial teórico, metodologia e análise do objeto, eu misturei tudo na verdade. A minha tese eu considero como um grande bololô”.
Método inovador
O percurso acadêmico feito por Francine Altheman e pela professora Ângela Marques agradou os avaliadores do Prêmio Compós de Tese 2021. “A gente arriscou a fazer um percurso que começasse pelo objeto, eu entrei em contato com os secundaristas, eu estava ali, observando as ocupações no momento que elas aconteceram, e eu fui então desse olhar para o objeto, dessas observações do movimento, para depois trazer a teoria, a metodologia”, esclarece.
A pesquisadora destaca que o percurso foi acontecendo ao longo do processo, assim como a escrita da tese, de forma entrelaçada. “Pensando nisso, foram muitos achados na pesquisa, mas acho que o principal, que pode ter levado ao prêmio, é o percurso mesmo, que foi diferente dos pressupostos acadêmicos mais formais, e por isso inovador”. E acrescenta: “acredito que outros estudos podem ser embasados por essas metodologias a partir daqui”. Ela usou o Método da Igualdade e o Método da Cena, ambos desenvolvidos por Rancière, e o uso de arranjos disposicionais, a partir do conceito de dispositivo de Foucault.
Sobre a escolha do título, a pesquisadora tentou trazer um pouco de tudo que analisou na tese. “São experiências insurgentes, são cenas de dissenso, que confrontam o poder instituído, e são arranjos também, na medida em que eles usam da comunicação e das performances para fissurar esse sistema. Acho que a potência da pesquisa tem muito a ver com a potência do objeto e em como esse movimento foi transformador, pelo menos naquele momento”, explica Francine.
Ainda sobre a motivação para esse estudo, a pesquisadora ressalta o gosto pela política e pela atuação no jornalismo político. “Eu acho muito importante que jovens se envolvam em movimentos sociais, se envolvam dessa forma, até para se entenderem como cidadãos, como sujeitos políticos. A política está em nosso dia a dia, em nossas necessidades, naquilo que a gente reivindica, em nossos direitos e acho que isso me motivou a trabalhar com algo desse tipo, com movimentos sociais”, conclui.
O Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFMG realizará um debate comemorativo com a presença das autoras com transmissão pelo YouTube, no dia 29 de junho, às 17h.
A tese premiada pode ser baixada no Repositório da UFMG.
Mais informações sobre o Prêmio Compós de Teses e Dissertações - Prof. Eduardo Peñuela de 2021 no site do evento.