Pesquisa da UFMG vai comparar efeitos da PrEP importada com a nacional
Como os dois medicamentos são recomendados pela OMS, estudo pode ajudar tratamento a se tonar mais autossustentável ao promover o uso da pílula n
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG estão recrutando participantes para um estudo que irá comparar os efeitos entre o medicamento de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) importado e o fabricado nacionalmente. Podem participar homens que fazem sexo com outros homens e pessoas trans com pelo menos 18 anos, considerados populações chave.
Quem desejar participar e se enquadrar nos critérios mencionados deve fazer o agendamento no CTR-DIP Orestes Diniz (Alameda Álvaro Celso, 241), de segunda a quinta-feira, das 18h às 20h. Os agendamentos serão feitos até que todas as vagas sejam preenchidas. Haverá também uma triagem, apresentação do termo de consentimento e, sequencialmente, exames de sangue e urina para avaliação de eventuais fatores de exclusão que impeçam tomar o medicamento. O acompanhamento compreende seis visitas ao longo dos 12 meses, que inclui avaliação clínica, psicológica e exames após 30 dias, 60 dias e trimestralmente.
A medicação fabricada nacionalmente (3TC+TDF), já usada no tratamento para pessoas com HIV, atua nos mesmos pontos da replicação do HIV que a importada pelo Brasil (FTC+TDF), que começou a ser distribuída como PrEP pelo SUS neste ano. “Há estudos que mostram que o TDF sozinho funciona tão bem quanto junto a esses outros componentes. Isso dá mais segurança de que o comprimido nacional irá funcionar da mesma forma que o importado”, afirma o co-coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade, Mateus Westin.
Segundo ele, é importante gerar dados que assegurem o uso do medicamento nacional para a sustentabilidade do programa. “A cada ano o Ministério de Saúde terá que negociar o preço de compra do medicamento importado e ficará refém da estratégia de ter apenas um medicamento disponível, sem concorrência. Assim, poderá garantir autossuficiência na produção”, defende Westin.
A pesquisa
Financiado pelo Ministério da Saúde, o estudo intitulado “Ensaio clínico de fase II comparando a utilização de Lamivudina/Tenofovir (3TC/TDF) e Emtricitabina/Tenofovir (FTC/TDF) como estratégias de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV entre gays, outros homens que fazem sexo com homens e pessoas trans” já está em fase de recrutamento para preenchimento das suas 200 vagas. Por sorteio randômico, metade dos participantes fará o acompanhamento, por 12 meses, com a pílula nacional, e a outra metade com a importada. Apenas a farmacêutica responsável pela pesquisa saberá quem toma qual medicação.
Como a Profilaxia Pré-Exposição consiste no uso diário de antirretrovirais, que formam uma barreira química contra a entrada do HIV no organismo, os participantes podem apresentar alguns eventos adversos ou alterações laboratoriais. “O estudo é desenhado de acordo com o protocolo do uso da PrEP fora do ambiente de pesquisa”, informa Westin. “Aqui ainda monitoraremos extensivamente os efeitos colaterais. Esse é um dos objetivos principais: saber se um provoca mais efeitos colaterais do que o outro e comparar as mudanças de comportamentos e práticas”, continua.
O professor comenta que, apesar de o país ser avançado em políticas públicas para prevenção e tratamento ao HIV, é necessário aumentar os dados existentes no Brasil, principalmente de como a PrEP vai se inserir no seu contexto sociocultural. “Os estudos internacionais mostram que as pessoas não passaram a usar menos camisinha por usarem PrEP. Precisamos avaliar a partir da política implantada. E o Ministério da Saúde já está promovendo isso para ter uma noção da realidade local”, acrescenta.
“Na pesquisa, isso também será feito, já que um dos objetivos é avaliar a mudança de comportamentos e práticas, não só em relação ao uso do preservativo. Também estamos aplicando um instrumento que mede a qualidade de vida, o que poucos estudos fizeram”, expõe Westin. “Não é trivial tomar remédio todo dia, mesmo que pareça ser algo simples. As pessoas podem ter uma qualidade de vida piorada não só com os eventos adversos apresentados pela medicação, mas também por terem que se lembrar, pela eventual ansiedade ocasionada pela regra e a preocupação com uso correto da medicação e seus efeitos”, completa.
Segundo o professor, avaliações quantitativas já mostraram, e o estudo da Faculdade também irá verificar se aqui isso se repete, que as pessoas passaram a ter um aumento no score de sinais ou sintomas de depressão ao usar a PrEP.
PrEP como política pública de prevenção ao HIV
O Ministério da Saúde anunciou a distribuição da PrEP em 1º de dezembro de 2017, dia que marca a Luta Contra a Aids. Em Belo Horizonte, a distribuição foi feita entre os meses de janeiro e fevereiro, com a ajuda da equipe da pesquisa da UFMG.
“A PrEp é importante para o Brasil continuar na vanguarda nas políticas de prevenção e assistência ao tratamento de HIV no conceito de prevenção combinada”, argumenta Westin. “Já oferecemos testagem regular descentralizada, sendo possível fazer o teste rápido, com resultado em 20 minutos, em todos os centros de saúde; o tratamento universal para pessoas vivendo com HIV, distribuição de preservativos e a PEP (profilaxia pós-exposição de risco sexual e ocupacional) usada depois da relação com exposição de risco. E agora somos o primeiro país da América Latina a oferecer a PrEP como uma política pública”, lembra.
Nome da Pesquisa: Ensaio clínico de fase II comparando a utilização de Lamivudina/Tenofovir (3TC/TDF) e Emtricitabina/Tenofovir (FTC/TDF) como estratégias de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV entre gays, outros homens que fazem sexo com homens e pessoas trans
Pesquisadores responsáveis: Dirceu Greco (coordenador), Mateus Westin, Unaí Tupinambás, Marise Fonseca e Fabiana Maria Kakehasi
Mais informações: Comparecer presencialmente no CTR-DIP Orestes Diniz (Alameda Álvaro Celso, 241, Centro – Belo Horizonte), de segunda a quinta-feira, das 18h às 20h.