Pesquisa-intervenção impactou positivamente coberturas vacinais em MG, revela estudo da UFMG com a SES-MG
Um estudo do Observatório de Pesquisa e Estudos em Vacinação (OPESV), da Escola de Enfermagem (EEUFMG) da UFMG, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais (SES-MG), revelou que a intervenção em indicadores de processo de trabalho e cobertura vacinal é uma boa estratégia para a melhora nos índices de imunização, com impacto positivo principalmente em crianças menores de dois anos de idade em municípios de Minas Gerais (MG).
Intitulado Impacto das estratégias para aumento da cobertura vacinal em crianças: um ensaio clínico comunitário, o artigo, publicado na Revista Internacional Vaccine X, é de autoria da professora Fernanda Penido Matozinhos, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da EEUFMG. Ela relata que os resultados demonstram uma melhoria importante para a maioria dos indicadores nos três momentos analisados, com significância estatística e aumento nas medianas e intervalos interquartis (medida que faz uma análise do grau de dispersão ao redor da medida da centralidade dos dados). "Além de aumentar a cobertura vacinal, manteve o aumento nos períodos de monitoramento e isso impacta no Brasil, devido à extensão territorial de Minas Gerais, sendo o segundo estado mais populoso. Se a cobertura em MG aumenta, impacta na cobertura nacional”, ressalta.
A professora enfatiza que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) brasileiro vem se consolidando como uma das intervenções mais relevantes em saúde pública e que, paradoxalmente, surgem grandes desafios para o PNI. O fenômeno da queda na cobertura vacinal é observado desde 2016 não só no Brasil, mas em diversos países.
No ano de 2021, diante do complexo cenário de queda da cobertura vacinal instalado no Brasil (ainda mais impactado com a pandemia de covid-19), com o insucesso das atuais medidas e com a comprovação das dificuldades enfrentadas pelo PNI, a SES-MG e a EEUFMG uniram forças para implementar um projeto de pesquisa-intervenção visando melhorar os índices, por meio da realização de Oficinas de Trabalho e construção de Planos de Ação direcionados para cada município participante.
O estudo avaliou o impacto da intervenção na cobertura vacinal em crianças menores de dois anos e nos indicadores dos processos de trabalho em imunização. O ensaio clínico comunitário foi realizado em 212 municípios mineiros, durante os meses de março a junho de 2022, com monitoramento após esse período. "Esse projeto demonstra, portanto, um esforço importante e coletivo dos municípios mineiros em prol do aumento das coberturas vacinais", comenta a pesquisadora.
De acordo com Fernanda Penido, em relação à cobertura vacinal, para todos os imunobiológicos analisados (rotavírus, meningococo C, pneumocócica, penta (DTP/Hib/HB), poliomielite, tríplice viral D1, febre amarela, tríplice viral D2, varicela, houve aumento no percentual de municípios que atingiram as metas na comparação dos anos de 2022 e 2021, com exceção da hepatite A.
A professora expõe que um dos fatores para a queda vacinal está relacionada com o crescimento das mídias sociais e a disseminação de notícias falsas. “Nesse contexto, o reconhecimento do risco e o planejamento e avaliação das ações municipais no intuito de melhorar as coberturas dos imunobiológicos preconizados pelo PNI para as crianças são imprescindíveis”, ressalta.
Fernanda destaca que os achados deste estudo contribuíram para uma melhor compreensão e melhoria dos processos de trabalho da imunização, em especial dos agentes comunitários de saúde, e que a utilização do planejamento estratégico situacional (PES) foi muito relevante nos níveis de gestão para subsidiar o aumento de coberturas vacinais em crianças. “Da mesma forma, esses achados poderão ser utilizados, também, para promover o aumento de coberturas vacinais em outros ciclos de vida, como: adolescentes, adultos, idosos e gestantes, além de ser um exemplo a ser seguido por outros estados e países”.
Além da professora Fernanda Penido, o estudo contou com a autoria da egressa do Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem e diretora de Vigilância de Agravos Transmissíveis e também diretora de Vigilância Epidemiológica na Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, Janaina Fonseca Almeida Souza; dos professores do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da UFMG Sheila Aparecida Ferreira Latchim, Ed Wilson Vieira e Eunice Francisca Martins; do professor da Universidade Federal de São Paulo Thales Philipe Rodrigues Silva, da representante do OPESV Elice Eliane Nobre Ribeiro e das representantes da Superintendência de Atenção Básica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Bruna Castro Silva e Denisiane Geralda Araújo.
Sobre o PNI
O Programa Nacional de Imunizações (PNI), coordenado pelo Ministério da Saúde, atua de forma compartilhada com as secretarias estaduais e municipais de saúde e se consolida como uma das mais relevantes intervenções em saúde pública.
Criado em 1973, o PNI caracteriza-se como uma política pública eficiente e impacta cada vez mais no perfil de morbimortalidade da população. Ele está adequando-se sempre às mudanças ocorridas nos campos político, epidemiológico e social.