Pesquisa na UFMG propõe metodologia para identificação de imagens de acervos históricos
Estudos sobre as formas de descrever uma imagem de modo a facilitar sua busca têm sido objeto de crescente número de publicações científicas, mas ainda não há padrões que atendam completamente a todas as demandas da área. Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, da Escola de Ciência da Informação (ECI), propõe uma metodologia capaz de identificar os atributos intrínsecos e extrínsecos que devem ser considerados na organização de fotografias de esculturas de arte sacra em repositórios físicos ou virtuais.
Por meio de levantamento bibliográfico realizado de 2007 a junho de 2018, foi possível observar que as metodologias existentes têm características próprias em cada instituição, como museus ou centros de memória. “Procuramos elaborar um modelo mais abrangente, que possa ser adequado a outros contextos e utilizado no todo ou em parte”, explica Adriana Aparecida Lemos Torres, autora de dissertação recém-defendida sobre o tema.
A pesquisadora também procurou verificar se a ferramenta proposta tem lugar ao lado de tecnologias como a busca automática imagem-imagem ou de conteúdo – pesquisa reversa de imagens –, serviço que procura, na rede mundial de computadores, imagens semelhantes ou correspondentes aproximados, assim como uma descrição em texto. “Uma simples alteração – saturação na cor – em uma das imagens sacras usadas no estudo mostrou que esse tipo de busca recupera elementos visuais, mas não retrata o significado nem os valores históricos e culturais”, relata Adriana, que foi orientada pela professora Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan.
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Adriana Lemos ressalta que a recuperação eficiente da informação depende da correta representação do objeto, ou seja, de uma descrição que apreenda os atributos das obras que compõem o acervo. “Contudo, não encontramos na literatura uma metodologia única que englobasse todos os aspectos considerados relevantes na representação de fotografias de esculturas de arte sacra”, observa, lembrando que ao procurar uma imagem de São Geraldo, por exemplo, um leigo possivelmente busca pelo nome do santo, enquanto um especialista em patrimônio tende a procurar pelo nome do escultor ou do fotógrafo.
A proposta da pesquisadora, que tem como base a chamada representação por conceito, se materializa em uma ficha catalográfica que inclui elementos descritivos da fotografia e da escultura retratada, como autoria, local e data de produção, localização física, dimensões, técnica, estilo e cor. A ficha também possui campos para aspectos interpretativos. “Nesse nível de representação, é possível falar de emoção, abstração e simbolismo”, ressalta.
Segundo ela, as metodologias de representação recuperadas na literatura científica focalizam tanto a representação temática quanto a descritiva, que, em geral, se complementam. A temática atém-se aos assuntos que representam o objeto retratado na fotografia, agrupando-as por temas semelhantes. E a descritiva reúne as características bibliográficas (autoria, técnica, estilo), agrupando, por exemplo, as fotografias de um determinado autor ou de uma coleção específica.
“Os resultados obtidos indicam que os elementos da representação temática devem ser complementados com elementos da representação descritiva, já que estes podem ser considerados pontos de acesso relevantes para auxiliar uma eficiente recuperação da informação”, defende a autora.
Para validar a metodologia, Adriana Lemos trabalhou com amostra de quatro imagens de arte sacra oriundas de acervos fotográficos de um artista e de um especialista em história da arte. Em sua opinião, sua pesquisa contribui para o compartilhamento das informações sobre a arte sacra como forma de devolver à sociedade o patrimônio e os legados histórico e cultural que a ela pertencem. No caso específico da Ciência da Informação, ela acredita que a proposta de metodologia unificada pode atender a distintas demandas de representação de informação em acervos de imagens, físicos e virtuais.
A pesquisadora está iniciando doutorado no mesmo Programa, para desdobramentos do tema. “Vou trabalhar com representação de fotografia científica, no contexto de pesquisa, com o intuito de estudar a gestão do fluxo, desde o momento em que é gerada, para recuperação e reúso, e observar como é armazenada e que tipo de intervenções recebe”, prevê Adriana Lemos.
Dissertação: Metodologia para a representação de registro fotográfico de esculturas de arte sacra
Autora: Adriana Aparecida Lemos Torres
Orientadora: Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan
Defesa: janeiro de 2019
(Texto de Ana Rita Araújo)