Pesquisadores da UFMG, Ufes e Unimontes mapeiam vegetação às margens do rio Doce

Estudo vai subsidiar o trabalho de recuperação de áreas atingidas pelos resíduos do rompimento da barragem de Mariana

Pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais e do Espírito Santo e da estadual de Montes Claros (Unimontes) concluíram trabalho de mapeamento das áreas de vegetação localizadas às margens do rio Doce que foram afetadas pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015. O esforço do grupo teve o intuito de identificar as espécies mais indicadas para a restauração da vegetação dos locais atingidos pelo derramamento de lama. 

A extensão do rio analisada se estende de Mariana, em Minas Gerais, a Linhares, último município banhado pelo rio, já no estado do Espírito Santo. O estudo se deu no âmbito do projeto Restauração com ciência no rio Doce: da dimensão edáfica ao sensoriamento remoto, coordenado pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Entre 2016 e 2023, as equipes do projeto percorreram as áreas atingidas pelos rejeitos de minério, assim como as áreas preservadas da bacia, estudando formas de promover a restauração da biodiversidade local.

“É um grande problema quando a restauração se faz somente com um plantio de espécies, como se fosse em um jardim, sem restaurar as funções dessas espécies vegetais e do solo”, explica o pesquisador Tiago Shizen, do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade do ICB. Segundo ele, o processo de restauração ecológica da bacia do rio Doce deverá recuperar as funções desse ecossistema, como a de sequestrar carbono e absorver e filtrar água no solo.

“A restauração se diferencia de outras práticas de recuperação porque se baseia em ecossistemas de referência: áreas preservadas, ou parcialmente conservadas, que servem de espelho da biodiversidade antes da degradação. O mapeamento que realizamos guiará a restauração, desde seu planejamento até a escolha de espécies e a consequente recuperação das funções do ambiente”, acrescenta Shizen.

Três espécies de fungos

Considerando as espécies vegetais encontradas às margens do rio, o grupo atestou que o rio Doce não é homogêneo, ou seja, em cada um de seus setores há espécies diferentes. “Nas matas ciliares, percebemos que a variedade vegetal é muito grande. Além de haver variação geográfica ao longo do rio, o solo das margens é como uma colcha de retalhos. A variação da qualidade do solo é muito pronunciada, e a vegetação acompanha essa variação”, explica Daniel Negreiros, também integrante do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade do ICB e participante do estudo. 

Os pesquisadores identificaram as espécies de fungos Guazuma ulmifolia, encontrada com facilidade na Mata Atlântica, a Deguelia costata, mais conhecida como Embira de carrapato, e a Peltophorum dubium, também chamada de Canafístula. Segundo Yumi Oki, outra pesquisadora do ICB envolvida no estudo, os fungos encontrados são comuns, generalistas, mutualistas e se conectam às plantas para auxiliá-las na absorção da água e dos nutrientes do solo. 

“Esses fungos produzem a gromalina, proteína que ajuda na coesão e na retirada dos metais pesados do solo e é importante para a restauração das áreas atingidas pelo derramamento de lama. O conhecimento que adquirimos mapeando a região nos ajudará na elaboração de estratégias restaurativas para as partes do rio afetadas pelo desastre de Mariana”, diz Yumi Oki.

Pouca vegetação já foi restaurada

O estudo desenvolvido pelo grupo mostrou que apenas 0,8% da vegetação do rio Doce foi restaurada depois do rompimento da barragem. “É uma quantidade insignificante perto da proporção do impacto”, enfatiza o pesquisador Fernando Goulart, que colabora no projeto no campo da síntese ecológica. Segundo ele, mais de um milhão de pessoas foram afetadas pelo rompimento da barragem, e pelo menos 300 mil delas passaram a ter dificuldades de acesso à água potável.

Além da pouca restauração, a área impactada ainda está crescendo, visto que os efeitos do desastre não cessaram. “Mais de 600 quilômetros de rio foram atingidos, e há indícios de que o lençol freático da porção estuarina está contaminado. Na porção marinha, o impacto passa de 300 quilômetros: vai de Marataízes, no Espírito Santo, até o arquipélago de Abrolhos, na Bahia”, diz Goulart.

A pesquisa gerou um documento com propostas e orientações para auxiliar gestores na aplicação do conhecimento científico na recuperação do rio Doce. A heterogeneidade dos ecossistemas do rio e a importância de se considerar a maior diversidade possível de espécies para atender às diferenças ao longo da bacia são algumas das principais mensagens do documento, que também alerta para as ameaças ao rio Santo Antônio, afluente do Doce que pode ajudar na sua recuperação.

Com Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG