Pesquisas da Arquitetura, Parasitologia e Química conquistam Grande Prêmio UFMG de Teses

Comissão especial escolheu os trabalhos entre os 62 indicados pelos programas de pós-graduação da UFMG

Os pesquisadores Fábio Godoy Delolo (Química), Guilherme Silva Miranda (Parasitologia) e Priscila Mesquita Musa (Arquitetura e Urbanismo) conquistaram o Grande Prêmio de Teses UFMG 2023. Os vencedores foram revelados em cerimônia realizada no dia 25 de outubro, no auditório da Reitoria, durante a 32ª Semana do Conhecimento.

Neste ano, 62 pesquisas de doutorado foram indicadas por seus respectivos programas de pós-graduação e receberam o Prêmio UFMG de Teses. Comissão instituída pela Câmara de Pós-graduação escolheu, entre elas, os três trabalhos vencedores do Grande Prêmio em cada uma das grandes áreas do conhecimento.

Relevância e impacto

Antes da premiação, a pró-reitora de Pós-graduação, Isabela Pordeus, traçou um breve diagnóstico da pós-graduação da UFMG, que é composta de 90 programas, sendo 11 na modalidade profissional e 79 na acadêmica. Destacou a última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que considerou que 75% dos programas da instituição (mestrado e doutorado) são considerados de excelência. “Isso distingue a UFMG de outras instituições”, afirmou Isabela.

A cerimônia foi presidida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Ao se dirigir aos agraciados com o Prêmio UFMG de Teses, Sandra Goulart os qualificou como modelos de dedicação, tenacidade e superação. "São exemplos significativos das possibilidades oferecidas pela Universidade e de seu compromisso com uma educação pública e gratuita, de qualidade e de relevância, em sintonia com os desafios do nosso tempo.”

Solventes verdes

Na tese Processos sustentáveis de hidroformilação: solventes verdes, tecnologias one-pot e catalisadores de cobalto, Fábio Godoy Delolo avalia solventes empregados na reação de hidroformilação, processo amplamente usado na indústria para a produção de aldeídos. Defendido no Programa de Pós-graduação em Química, o trabalho insere-se no esforço por desenvolver e/ou aprimorar os processos industriais relacionados a essa transformação, com vistas ao desenvolvimento sustentável. O solvente representa a maior parte da massa envolvida nesse processo químico. Em razão disso, assume papel fundamental para a sustentabilidade do processo. Entre os solventes avaliados, o anisol obteve destaque e foi aplicado na hidroformilação de diversos tipos de olefinas, incluindo terpenos. Os resultados sugerem que se trata de um produto interessante para a reação de hidroformilação, aliando eficiência catalítica a sustentabilidade.

“Em seguida, foi desenvolvido um processo one-pot de funcionalização de olefinas realizando as transformações em sítios reacionais distintos da molécula do substrato simultaneamente no mesmo reator”, relata Delolo, no resumo do trabalho, que foi orientado pela professora Elena Vitalievna Goussevskaia, com coorientação de Eduardo Nicolau dos Santos. “O processo desenvolvido é inédito e baseado nas reações de hidroformilação e O-acilação e permite a síntese de moléculas com propriedades organolépticas e/ou intermediários na indústria de química fina”, destaca o autor. Esse processo foi avaliado em uma gama de substratos, e, em todos os casos, concluiu-se que o anisol pode ser utilizado como solvente para melhorar a sustentabilidade do processo. “A realização desse processo permite a valorização da matéria-prima biorrenovável de forma sustentável com o intuito de diminuir e/ou eliminar a atividade alergênica de determinadas matérias-primas, impulsionando o respectivo setor industrial”, avalia o autor da tese em sua comunicação.

Avanço no combate à esquistossomose

Defendida no Programa de Pós-graduação em Parasitologia, a tese de Guilherme Silva Miranda – Caracterização morfológica, genética, parasitológica e imunopatológica de um isolado de Schistosoma mansoni obtido do roedor silvestre Holochilus sciureus – descreve o processo de isolamento da linhagem HS do parasito Schistosoma mansoni, o agente etiológico da esquistossomose, doença parasitária responsável por elevadas taxas de mortalidade e morbidade em humanos. Além do ser humano, algumas espécies de roedores silvestres também são suscetíveis ao parasito, e as sucessivas infecções nesses animais podem favorecer a seleção de novas linhagens de S. mansoni, cujo impacto na morbidade, transmissão e controle da esquistossomose ainda é desconhecido.

Orientado pela professora Deborah Aparecida Negrão-Corrêa, o pesquisador avaliou, de forma comparativa, aspectos morfológicos e genéticos do parasito isolado, além da cinética parasitária e da resposta imunopatológica induzida pela linhagem HS e pela linhagem LE (originalmente isolada de humano) durante infecções experimentais em camundongos BALB/c e caramujos Biomphalaria glabrata. Os dados da pesquisa demonstraram que esses camundongos e caramujos suportam a manutenção de S. mansoni isolado de H. sciureus em condições de laboratório. “A partir desse conhecimento, foi possível caracterizar o perfil genético da linhagem HS e demonstrar que ela apresenta características morfológicas próprias e padrões parasitológicos e imunopatológicos diferenciados que podem favorecer sua transmissão e induzir maior gravidade da esquistossomose”, explica o pesquisador na sinopse do trabalho.

Por uma outra história de BH

Na tese Quem vê cara, não vê ancestralidade: arquivos fotográficos e memórias insurgentes de Belo Horizonte, Priscila Mesquita Musa pesquisou arquivos públicos e pessoais em busca de imagens, fotografias e filmes históricos capazes de recontar a história da capital mineira com base em espaços menos privilegiados pela narrativa hegemônica, como as ocupações urbanas, os bairros populares, os territórios sagrados, as comunidades quilombolas e os movimentos sociais. Defendido no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, o trabalho investiga “o que seriam as práticas espaciais contra um modo hegemônico de fazer cidade – práticas que atuaram por vezes fazendo alianças, por vezes afrontando a lógica e a forma predatória de fazer cidade – isto é, ‘os meios como os diferentes modos de vida conseguiram vazar o campo das hegemonias, das violências, do aniquilamento e reposicionar o que é e o que poderia ser o fazer cidade ou o viver junto’”, anota a pesquisadora em seu resumo.

Orientada pela professora Renata Moreira Marquez, a tese investiga, no trânsito entre saberes e arquivos, as origens de Belo Horizonte – cidade que, planejada no fim do século 19 e erguida sobre o ideário moderno-colonialista, aliou as imagens técnicas ao urbanismo para criar uma normatividade visual, produzir invisibilidades e “naturalizar o ponto de vista opressor presente em parte representativa das imagens oficiais encontradas em seus arquivos históricos”. 

A pesquisa foi realizada em oito arquivos e dois museus de destinação pública, com a participação de quatro colaboradoras: Isabel Casimira (rainha conga do Reinado Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e do Estado Maior de Minas Gerais), Júlia Ferreira (matriarca do Quilombo dos Luízes), Mana Coelho (fotodocumentarista de Belo Horizonte e Região Metropolitana) e Valéria Borges (referência comunitária da favela Pedreira Prado Lopes), que compartilharam seus acervos pessoais e comunitários com a pesquisadora.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG

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