Professor da UFMG apresenta resultados de inquérito sobre o cenário das doenças crônicas no Brasil
Realizada em parceria com Ministério da Saúde, pesquisa visa subsidiar políticas públicas de saúde
O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), publicou os resultados da Pesquisa Vigitel 2021, o maior e mais tradicional inquérito de saúde do Brasil. O estudo contou com a participação do professor do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG Rafael Moreira Claro, das pós-graduandas em Saúde Pública da UFMG Luíza Eunice Sá da Silva e Thaís Cristina Marquezine Caldeira, das pós-graduandas em Nutrição e Saúde da Escola de Enfermagem Marcela Mello Soares e Izabella Paula Araújo Veiga, além da residente pós-doutoral Taciana Maia de Sousa e de alunas de graduação do curso de Nutrição.
O objetivo do inquérito é fornecer subsídio para o planejamento de políticas públicas de saúde para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Ao todo, 27.093 pessoas com 18 anos ou mais de idade, residentes em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, foram entrevistadas entre os meses de setembro de 2021 e fevereiro de 2022.
Durante o lançamento, realizado em evento on-line, especialistas convidados da área da saúde discutiram os dados coletados, falaram sobre os desafios enfrentados nesta edição e abordaram perspectivas para o inquérito de 2022. O professor Rafael Claro, que faz parte da equipe de elaboração e organização do Vigitel, apresentou os resultados de 2021 e enfatizou que os dados indicam uma redução no tabagismo e no consumo de refrigerantes, e um aumento da obesidade e queda da prática de atividades físicas.
Tabagismo
Os resultados sobre tabagismo indicam que a frequência de adultos fumantes é de 9,1%. Com recorte entre sexos, os homens indicaram uma frequência maior (11,8%) do que as mulheres (6,7%). A frequência na população com idade entre 35 e 64 anos tende a ser maior (cerca de 11%), assim como nos indivíduos com escolaridade entre 0 e 8 anos (cerca de 13%). Além disso, a frequência de fumantes passivos no domicílio foi de 6,9%, sendo que desses 7,6% entre os homens e 6,4% entre as mulheres. No ambiente de trabalho, a frequência de fumantes passivos foi de 5,4%, sendo maior entre os homens (8,1%) do que entre as mulheres (3,2%).
A frequência de adultos que fumam variou entre 4% em Aracaju e 14,5% em Campo Grande. As maiores frequências de fumantes foram encontradas, entre homens, em Campo Grande (22,2%), no Distrito Federal (17,7%) e em Curitiba (14,9%) e, entre mulheres, em São Paulo (9,7%), Rio Branco (9,6%) e Florianópolis (8,7%). As menores frequências de fumantes, no sexo masculino, ocorreram em Aracaju (6,1%), Belém (6,9%) e Macapá (7,5%) e, no sexo feminino, em São Luís (1,5%), Teresina (1,6%) e Aracaju (2,3%).
Excesso de peso e obesidade
Os dados apontam que 57,2% da população brasileira está com excesso de peso, sendo mais recorrente entre os homens (59,9%) do que entre as mulheres (55%). Mais da metade da população com idade acima de 25 anos possui excesso de peso, e entre aqueles de 45 a 64 anos os valores se aproximam de 65%. Já o índice de adultos obesos foi de 22,4%, sendo similar entre homens (22%) e mulheres (22,6%). Essas incidências aumentam com a idade, até os 45 anos (de 12,2% a 26,2%) e diminuem com o aumento do nível de escolaridade entre as mulheres (de 28,2% a 17,7%).
A frequência de adultos com excesso de peso variou entre 49,3% em São Luís e 64,4% em Porto Velho. As maiores frequências de excesso de peso foram observadas, entre homens, em Porto Velho (67,5%), João Pessoa (66,5%) e Manaus (65,2%) e, entre mulheres, em Manaus (61,8%), Porto Velho e Belém (61%). As menores frequências de excesso de peso, entre homens, ocorreram em Salvador (50,8%), São Luís (51,4%) e Vitória (55,8%) e, entre mulheres, em Palmas (45%), Teresina (46,4%) e São Luís (47,5%).
A frequência de adultos obesos variou entre 17,9% em Vitória e 26,4% em Porto Velho. As maiores frequências de obesidade foram observadas, entre os homens, em Aracaju (27,9%), Goiânia (26,7%) e Porto Velho (26,6%) e, entre as mulheres, em Manaus (26,6%), Recife (26,5%) e Porto Velho (26,2%). As menores frequências de obesidade ocorreram, entre homens, em Recife (17,7%), São Luís e Salvador (18,6%), e entre as mulheres, em Palmas (16,1%), Vitória (16,8%) e Teresina (17,2%).
Consumo alimentar
O consumo recomendado de frutas e hortaliças é maior entre as mulheres (26,4%) do que entre homens (16,9%), na população adulta em geral ficou em 22,1%, com tendência de aumento com o avanço da idade (de 18,4% a 25%), e é maior em indivíduos com nível de escolaridade de 12 anos ou mais (29,5% contra cerca de 18% nos demais níveis).
A frequência de adultos que consomem regularmente frutas e hortaliças variou entre 22,6% em Rio Branco e 44,7% em Belo Horizonte. As maiores frequências, entre homens, foram encontradas em Curitiba (37,1%), Belo Horizonte (36,7%) e Porto Alegre (35,9%) e as menores em São Luís (14%), Rio Branco (19,2%) e Salvador (20,2%). Entre mulheres, as maiores frequências foram encontradas em Florianópolis (52,1%), Belo Horizonte (51,4%) e no Distrito Federal (50,3%) e as menores em Rio Branco (25,7%), Porto Velho (28,2%) e Salvador (30,6%).
O consumo de refrigerantes em cinco ou mais dias da semana foi de 14% sendo mais elevado entre os homens (17,2%) do que entre as mulheres (11,3%), e diminuindo com o avançar da da idade (de 19,7% a 8,7%). Em Belo Horizonte, o consumo ficou em 13,1%, sendo maior entre os homens (15,6%), do que entre as mulheres (11,1%).
A frequência de adultos que referiram o consumo de refrigerantes em cinco ou mais dias da semana variou entre 4% em Natal e 25,7% em Porto Alegre. As maiores frequências, entre homens, foram encontradas em Campo Grande (28,8%), Porto Alegre (27,6%) e Cuiabá (24,6%) e as menores em Natal (4,6%), Salvador (6,9%) e Teresina (7,1%). Entre as mulheres, as maiores frequências foram encontradas em Porto Alegre (24,2%), Cuiabá (16,2%) e em Curitiba (15,8%), e as menores frequências em Maceió (2,8%), Natal (3,4%) e Salvador (3,8%).
A pesquisa indicou ainda que o consumo de cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados pelos participantes no dia anterior à entrevista foi de 18,2%, sendo mais elevado entre homens (21,7%) do que entre as mulheres (15,2%).
Atividade física
A prática de atividade física como forma de lazer é maior nos homens (43,1%) do que nas mulheres (31,3%). Na população adulta em geral, o índice ficou em 36,7% com tendência à redução com a idade (de 50,6% a 21,8%) e aumento com a elevação do nível de escolaridade (de 22,6% a 47,3%).
A frequência de adultos que praticam atividade física no tempo livre equivalente a pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana variou entre 32,3% em São Paulo e 44% em Vitória. Entre homens, as maiores frequências foram encontradas em Belém (50%), Recife (49,2%), São Luís e Aracaju (49%), e as menores em Campo Grande (35,9%), São Paulo (36,6%) e Cuiabá (39,6%). Entre mulheres, as maiores frequências foram observadas em Vitória (44,5%), Palmas (41,7%) e Natal (39,7%), e as menores no Rio de Janeiro (24,2%), em São Paulo (28,7%) e Porto Alegre (30,1%).
Em contrapartida, 48,2% da população adulta estudada não alcançou um nível suficiente de prática de atividade física, sendo esse percentual maior entre mulheres (55,7%) do que entre homens (39,3%). Além disso, a frequência de adultos fisicamente inativos foi de 15,8%.
A frequência de adultos que despendem três horas ou mais por dia do tempo livre assistindo à televisão ou usando computador, tablet ou celular variou entre 58,9% em Recife e 70,1% no Rio de Janeiro. Entre os homens, as maiores frequências foram observadas em Belém (72,6%), Fortaleza (71,1%), São Luís e Palmas (70,8%) e as menores em Recife (59,4%), Belo Horizonte (59,5%) e Rio Branco (61,2%). Para as mulheres, as maiores frequências foram observadas no Rio de Janeiro (73,6%), em Porto Alegre (71,9%) e Florianópolis (70,3%) e as menores em Cuiabá (56,2%), Recife (58,5%) e Maceió (59,0%).
Consumo de bebidas alcoólicas
A frequência do consumo abusivo de bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias entre os adultos entrevistados foi de 18,3%, sendo maior em homens (25,0%) do que em mulheres (12,7%). Sendo maior em indivíduos com idade entre 18 e 44 anos (cerca de 22,5%, diminuindo até 5,8%), e aumentando com a elevação do nível de escolaridade (de 11,7% a 22,5%).
A frequência de consumo abusivo de bebidas alcoólicas (ingestão de quatro ou mais doses para mulheres, ou cinco ou mais doses para homens, em uma mesma ocasião em relação aos últimos 30 dias anteriores à data da pesquisa) variou entre 12,8% em Porto Alegre e 25,2% em Belo Horizonte. As maiores frequências, entre homens, foram observadas em Belo Horizonte (36,2%), Cuiabá (35,0%) e Vitória (32,6%), e as menores ocorreram em Porto Alegre (15,6%), Rio Branco (17,4%) e Maceió (19,0%). Entre mulheres, as maiores frequências ocorreram em Florianópolis (17,6%), no Rio de Janeiro (16,6%) e Distrito Federal (16,3%), e as menores frequências em Maceió (8,4%), Curitiba (8,6%) e São Paulo (9,7%).
Condução de veículo motorizado após consumo de bebidas alcoólicas
A frequência de adultos que referiram conduzir veículos motorizados após o consumo de bebida alcoólica (qualquer quantidade) variou de 2,5% em Maceió a 12,6% em Palmas. As maiores frequências entre homens foram observadas em Palmas (21,1%), Teresina (19,1%) e Boa Vista (16,8%), e as menores ocorreram em Maceió e Fortaleza (5,0%) e Natal (5,1%). Entre mulheres, as maiores frequências foram observadas em Florianópolis (5,4%), Palmas (5,1%) e Boa Vista (4,9%), e as menores frequências em Recife (0,1%), no Rio de Janeiro (0,3%) e em Maceió (0,4%).
Autoavaliação do estado de saúde
A frequência de adultos que avaliaram negativamente seu estado de saúde (como ruim ou muito ruim) variou entre 3,0% em Florianópolis e 7,2% em Rio Branco. Para o sexo masculino, as maiores frequências foram observadas em Palmas (7,3%), no Rio de Janeiro (6,7%) e Aracaju (6,6%), e as menores em Porto Velho (1,7%), Recife (2,1%) e Vitória (2,4%). Entre mulheres, as maiores frequências foram observadas em Macapá (8,4%), Rio Branco (7,9%), Porto Velho e no Distrito Federal (7,8%), e as menores em Florianópolis (2,7%), Goiânia (3,5%) e em Belo Horizonte (3,6%).
Saúde da mulher
93,3% das entrevistadas alegaram ter feito a mamografia em algum momento da vida, dessas 72,8% revelaram ter feito o exame nos últimos 2 anos.
As maiores frequências de mulheres, entre 50 a 69 anos de idade, que referiram ter realizado exame de mamografia nos últimos dois anos foram observadas em Vitória (80,4%), Aracaju e Recife (77,8%), e as menores em Boa Vista (57,7%), Cuiabá (60,8%) e Fortaleza (63,4%).
Já em relação ao exame do papanicolau 82,5% alegou ter feito em algum momento da vida, dessas 77,2% realizou o exame nos últimos 2 anos. As maiores frequências de mulheres entre 25 e 64 anos de idade que referiram ter realizado exame de citologia oncótica para câncer de colo do útero nos últimos três anos foram observadas em São Paulo (82,7%), no Rio de Janeiro (79,9%) e em Curitiba (79,7%), e as menores em Maceió (55,7%), Teresina (69,0%) e Fortaleza (69,2%).
Diagnósticos de doenças crônicas
A frequência de diagnóstico médico de hipertensão arterial foi de 26,3%, 27,1% entre mulheres e 25,4% entre homens. Com um aumento expressivo em relação a elevação da faixa de idade (de 3,8% a 61,0%), e diminuição com a elevação do nível de escolaridade (de 44,6% a 17,1%).
A frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial variou entre 19,3% em São Luís e 32,0% no Rio de Janeiro. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas no Rio de Janeiro (32,2%), em Recife (30,2%) e Vitória (29,0%), e as menores em São Luís (13,8%), Boa Vista (18,3%) e Porto Velho (19,1%). Entre mulheres, as maiores frequências foram observadas em Belo Horizonte (32,2%), no Rio de Janeiro (31,8%) e em Curitiba (31,5%), e as menores em Macapá (19,3%), Boa Vista (22,0%), Palmas e Goiânia (22,4%).
Já em relação ao diagnóstico médico de diabetes, a incidência foi de 9,1%, sendo de 9,6% entre as mulheres e de 8,6% entre os homens. Com tendência de aumento com a elevação da faixa de idade (de 1,1% a 28,4%) e diminuição com a elevação do nível de escolaridade (de 17,7% a 5,1%).
A frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de diabetes variou entre 6,4% em Rio Branco e 11,3% em Belo Horizonte. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas em Belo Horizonte (12,4%), no Rio de Janeiro (10,6%) e em João Pessoa (9,6%), e as menores em Rio Branco (4,2%), Natal (5,6%) e Florianópolis (5,7%). Entre mulheres, o diagnóstico de diabetes foi mais frequente em Maceió (12,3%), Cuiabá (11,5%), no Rio de Janeiro, em Natal e Teresina (11,1%), e menos frequente em Manaus (5,9%), Goiânia (6,2%) e Macapá (7,1%).
A frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de depressão variou entre 7,2% em Belém e 17,5% em Porto Alegre. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas em Porto Alegre (15,7%), Florianópolis (12,9%) e no Rio de Janeiro (11,7%), e as menores em Salvador (4,2%), Rio Branco (4,3%) e Palmas (4,4%). Entre mulheres, o diagnóstico de depressão foi mais frequente em Belo Horizonte (23,0%), Campo Grande (21,3%) e Curitiba (20,9%), e menos frequente em Belém (8,0%), São Luís (9,6%) e Macapá (10,9%).
O Vigitel 2021
As perguntas do questionário do Vigitel 2021 incluíram características sociodemográficas dos indivíduos e também características do padrão de alimentação e de atividade física associadas à ocorrência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, por exemplo: frequência do consumo de frutas e hortaliças e de refrigerantes; e frequência e duração da prática de exercícios físicos e do hábito de assistir televisão, peso e altura referidos.
Além disso, foram levantadas ainda informações sobre a frequência do consumo de cigarros e de bebidas alcoólicas, autoavaliação do estado de saúde do entrevistado, referência a diagnóstico médico anterior de hipertensão arterial, diabetes e depressão, realização de exames para detecção precoce de câncer em mulheres, posse de plano de saúde ou convênio médico e questões relacionadas a situações no trânsito.
Tradicionalmente, eram disponibilizados apenas os microdados da pesquisa, voltados para gestores de saúde e analistas de dados. A partir deste ano, as informações geradas a partir do Vigitel passarão a ser disponibilizadas na Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde (IVIS), localizada no portal do governo. Assim, será possível visualizar os indicadores para cada fator de risco monitorado por ano, ainda com capacidade de geração de gráficos e tabelas, entre outras facilidades.