Professor da UFMG traça uma genealogia da cidade, a maior “invenção” da humanidade

Em livro, Carlos Leite Brandão discute a possibilidade de que a “urbs”, tal qual é conhecida hoje, esteja dando lugar a algum novo tipo de aglomeração

Roda, escrita, dinheiro, lâmpada: nas listas das maiores invenções da história humana, é raro encontrarmos a instituição “cidade”. Essa ausência é um grande equívoco, na avaliação do filósofo Carlos Antônio Leite Brandão, professor da Escola de Arquitetura da UFMG. “A Cidade foi, provavelmente, a maior invenção da humanidade”, ele afirma em Genealogia da cidade, livro que aborda os aspectos filosóficos, históricos, culturais, arquitetônicos e urbanos da cidade como instituição. A obra foi lançada recentemente pela Editora UFMG.

Para o professor, a cidade não surgiu por escolha humana, mas por necessidade: buscamos a cidade “porque somos diferentes, porque somos individualmente frágeis e desmesurados”, ele escreve. Segundo Brandão, nascemos homens e/ou mulheres, mas não exatamente “humanos”: é a cidade que, por meio da cultura de civilização em que nos insere, “‘refina’ o humano em nós”.

Essencial para a sobrevivência humana, a cidade, como instituição, remonta a cerca de cem séculos, época da emergência da primeira aglomeração humana de que se tem notícia – Jericó, cidade estabelecida por volta de 7.800 Antes da Era Comum. Nessa época havia, no local, ao menos um templo e algumas casas de pedra, conforme dão conta os vestígios encontrados.

Mais tarde, por volta de 6500 A.E.C., já havia, em torno da cidade, muros de dois metros de espessura, uma torre e pontes de nove metros de altura. Nessa época, Jericó – que fica na atual Cisjordânia, a cerca de 40 quilômetros de Jerusalém – ocupava uma superfície aproximada de três hectares, onde viviam algo entre 1 mil e 2 mil pessoas, que desenvolviam atividades artesanais e agricultura avançada, com irrigação e domesticação de animais.

“Pelo pouco que conhecemos de Jericó, não sei se podemos qualificá-la como uma cidade stricto sensu”, pondera o autor, que balança entre as noções de cidade e de “aldeia fortificada” para classificar esse aglomerado humano. “Contudo, me agrada vê-la, ao menos, como uma ‘aglomeração’ na qual a cidade começou a ser concebida, antes de ser parida dezenas de séculos depois”, escreve.

A Bíblia também estabelece a sua mitologia para o advento das cidades. Em Gênesis 4:16-18, atribui-se a Caim, o primeiro homem nascido do homem e da mulher, o surgimento da primeira cidade, em uma indicação da sedentarização dos mais antigos povos nômades. “E Caim tendo-se retirado de diante da face do Senhor, andou errante sobre a terra e habitou no país que está ao nascente do Éden. E Caim conheceu sua mulher, a qual concebeu e deu à luz Henoc. E edificou uma cidade, que chamou Henoc, do nome do seu filho".

Genealogia da cidade

O livro Genealogia da cidade está dividido em duas seções. No Livro I, Carlos Leite Brandão estabelece uma “filosofia possível” da “arte de edificar” que é própria das cidades, ocasião em que explora quatro níveis dessa arte, descritos pelas chaves “cidade”, “arquitetura”, “ornamento” e “decoro”. Sobre isso, ele lembra: “edificar não é construir; edificamo-nos juntos com o edifício, o ornamento e a cidade dispostos à nossa volta para ‘habitar’”.

No Livro II, o professor atravessa a história da cidade, propriamente, mapeando suas diferentes fases como instituição inventada por humanos para se reunirem organizadamente como corpo político e urbano. Nessa parte do volume, ele desenvolve sua reflexão por meio de seis vieses, tomados como “operadores hermenêuticos”: etimológico, antropológico, cósmico-religioso, neolítico, dramático e visível.

Saiba mais em matéria de Ewerton Martins Ribeiro para o portal UFMG.

Ficha técnica:

Título: Genealogia da cidade
Autor: Carlos Antônio Leite Brandão
Editora UFMG
R$ 94 / 397 páginas

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG