Professor, médico e cartunista ‘LOR’ participa de novo episódio de podcast do Centro Cultural UFMG
O oitavo episódio do Corredor Cultural 174 Podcast, produzido pelo Centro Cultural UFMG, traz um bate-papo com Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, mais conhecido como LOR, ‘maior cartunista do bairro Itapoã’, como se auto-intitula. Ele já colaborou com diversos jornais, como Estado de Minas, Jornal do Brasil e O Pasquim. É professor aposentado da UFMG, pesquisador do CNPq e médico especialista em medicina esportiva no Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da UFMG.
Estímulo ao desenho
No podcast, LOR recorda que, desde criança, foi estimulado pelo pai a desenhar. Passado muitos anos, quando ganhou seu primeiro prêmio no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1978, foi compartilhar a conquista com seu pai, que lhe mostrou seus primeiros desenhos, guardados em um cofre, com os traços muito parecidos. “De alguma forma eu fui incentivado a continuar desenhando ao longo da minha vida, seja pelos colegas e pela minha família”, conta.
Esse talento o acompanhou até a faculdade e seus colegas gostavam das caricaturas que ele fazia dos professores. Nessa época, seu irmão Ernesto Rodrigues cursava jornalismo na PUC, onde ia ter uma palestra com o Ziraldo. Ele levou os cartoons de LOR para o criador do Menino Maluquinho dar uma olhada, que recomendou enviar para O Pasquim. Foi assim que começou sua trajetória como cartunista.
A assinatura ‘LOR’
O cartunista relembra que, quando era criança e estudava em um colégio interno, suas roupas tinham que ter as iniciais do nome bordadas. A bordadeira, então, resolveu tirar ‘Carneiro’ de seu nome e bordou apenas as primeiras letras de ‘Luiz Oswaldo Rodrigues’, resultando em ‘LOR’, que passou a assinar desde a infância, por causa da abreviatura nas meias e roupas.
O Pasquim
LOR publicou relativamente pouco no O Pasquim, aproximadamente 30 cartoons, e considera muito mais um leitor assíduo, um eventual colaborador, do que propriamente um colaborador. “A gente era inspirado e organizado pelas ideias que vinham no Pasquim, à medida que ele foi se consolidando como um órgão de oposição”, diz referindo-se ao período da Ditadura Militar no Brasil.
Ele lembra que havia outros jornais de oposição na época, como o Movimento, Opinião e DeFato, também fontes de alimentação política, espiritual e intelectual, mas O Pasquim tinha a graça do humor e a variedade, reunindo Henfil, Ziraldo e Millôr, por exemplo, e era muito rico.
O cartunista também queria fazer um Pasquim em Minas Gerais e criou junto com Procópio, Nilson, Afo e Aroeira um grupo chamado Humordaz (humor de A a Z), que começou com uma pequena coluna do jornal Estado de Minas. Eles chegaram a produzir dois volumes do exemplar, mas ganharam censura prévia, na ocasião, em razão da ditadura. O projeto faliu e não conseguiram seguir adiante.
A medicina e a arte
Logo que se formou em medicina, LOR fez residência em Clínica Médica e começou a trabalhar como professor da UFMG. “A universidade é um espaço que te dá a liberdade de construir caminhos”, declara. Ele pôde, dentro da universidade, muito mais que ser médico ou cartunista, ser um professor universitário com habilidades no desenho, na comunicação e na ciência. “A universidade que me permitiu essa multiplicidade de papéis, sem que um tivesse que abandonar o outro”, explica.
Liberdade de expressão
Para LOR, a liberdade do cartunista é a mesma liberdade do cientista, no sentido de não poder faltar com a verdade. “Eu não posso fazer um cartoon que seja uma mentira. Eu não posso fazer uma charge falsa”, alega. “A liberdade artística tem um limite ético daquilo que você vai criar. Esse limite ético tá colocado para o cientista, para o médico, para o professor e para qualquer um de nós”, completa.
Contar histórias
Em 1979, LOR lançou seu primeiro livro, Retrato Falado, que teve a tiragem de cinco mil exemplares, todos esgotados. Em 2003, ele foi reeditado para a internet e em poucas semanas teve mais de dez mil downloads, rendendo-lhe um prêmio de quadrinista brasileiro daquele ano. Agora, em 2023, a publicação está a caminho de uma terceira edição. “É um libelo contra a ditadura, contra o autoritarismo, contra o fascismo e contra o capitalismo daquela época”, resume.
O cartunista também é autor de outros livros, como os infantojuvenis Urso Fiote, que destaca em sua fala, pois é uma história que contava para suas filhas, além de Cabeça fria é que faz gol, Coleção Gato Gaiato, As gêmeas que ficaram diferentes, composto junto de sua neta, dentre outros. “Cada história que eu escrevi tinha, de certa forma, esse fundo que nós chamamos de fundo moral, no sentido ético da palavra”, explica.
Premiações
LOR recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais ao longo de sua trajetória como cartunista, mas, desde 2006, não participa das competições, até para ser coerente com o seu discurso contra a meritocracia. “Esquece o prêmio, olha para a arte de cada um, de cada uma das crianças, de cada um dos artistas. Eu não sou melhor que o Duke, o Duke não é melhor do que eu, nós temos uma análise diferente sobre o mundo”, profere. “Eu, Aroeira, Ziraldo ou Henfil, seja quem for, não existe melhor, existe diferente e individual. O que nós temos é uma individualidade, a riqueza da diversidade que é o ser humano, podendo de todas as formas ter o seu espaço, o seu respeito”, completa.
Ouça o podcast na íntegra e conheça um pouco mais sobre a trajetória de ‘LOR’: https://spoti.fi/41uCX3D
Acompanhe o trabalho do cartunista em seu blog.
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