Professora da UFMG pesquisa molécula capaz de amenizar efeitos da insuficiência cardíaca
Resultados dos estudos conduzidos pela USP foram publicados no European Heart Journal, periódico de maior impacto na área
Uma molécula com potencial para amenizar a insuficiência cardíaca é tema de artigo publicado no periódico European Heart Journal que tem como uma das autoras a professora Ludmila Ferreira, do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. O artigo descreve resultados de experimentos em animais, culturas de células e amostras de tecido cardíaco humano.
O estudo concentra-se em uma molécula sintética capaz de atenuar a insuficiência cardíaca em diversas cardiopatias, incluindo a relacionada à doença de Chagas, linha de pesquisa iniciada por Ferreira, em 2011, no Instituto do Coração (Incor USP). Dedicado à cardiologia, o periódico é editado pela Oxford University Press, em nome da Sociedade Europeia de Cardiologia, e é considerado o de maior impacto na área.
No estudo conduzido pela USP, foram desenvolvidos alguns experimentos para demonstrar a capacidade da molécula AD-9308 de restaurar a atividade da proteína de aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) presente na mitocôndria, organela que gera energia para as células e exerce papel central no desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
O protótipo do composto foi originalmente denominado de Alda-1. A equipe de pesquisa observou que camundongos com insuficiência cardíaca tratados com a droga registravam aumento de 40% no volume de sangue bombeado. Esse efeito era decorrente da ativação da enzima mitocondrial ALDH2.
Assim, algumas modificações estruturais foram realizadas na molécula para potencializar o efeito farmacológico e qualificá-la como um potencial composto a ser desenvolvido. Depois de muitos testes, chegou-se à versão 5.591, denominada AD-9308, que ativa a enzima ALDH2 três vezes mais do que a molécula original.
Relação com a mitocôndria
A relevância deste estudo é particularmente significativa no contexto da cardiopatia relacionada à doença de Chagas, que afeta milhões de pessoas no Brasil e em todo o mundo. Atualmente, não existem tratamentos eficazes, além do transplante cardíaco, para essa condição. A pesquisa conduzida pela professora Ludmila Ferreira e seus colaboradores destaca-se por apresentar uma abordagem promissora na busca de alternativas terapêuticas para essas enfermidades.
A molécula AD-9308 demonstrou capacidade de reverter o quadro da insuficiência cardíaca em experimentos com animais e amostras de tecido cardíaco humano. Essa descoberta representa um potencial avanço significativo na compreensão e no tratamento dessa condição, oferecendo esperança para pacientes afetados, especialmente aqueles com cardiopatia chagásica, em que as opções terapêuticas são atualmente limitadas.
A insuficiência cardíaca, caracterizada por problemas de bombeamento do sangue pelo coração, é a doença que mais mata no mundo. Isso ocorre porque as demais doenças que afetam o sistema cardiovascular tendem a evoluir para essa condição que, atualmente no Brasil, alcançam cerca de dois milhões de pessoas.
Existem tratamentos capazes de reduzir a progressão da insuficiência cardíaca, mas ainda não há terapias para reverter a doença, mesmo parcialmente - em muitos casos, a única alternativa é o transplante de coração.