Professores da UFMG receberão do Instituto Serrapilheira até R$ 1 milhão para pesquisas

Danilo Neves e Fabrício Caxito darão continuidade a estudos destinados a “responder perguntas fundamentais” em suas áreas de atuação

Os professores da UFMG Danilo Neves, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), e Fabrício Caxito, do Instituto de Geociências (IGC), receberão até R$1 milhão do Instituto Serrapilheira para darem continuidade a estudos destinados a “responder perguntas ambiciosas relacionadas a questões fundamentais da ciência”, como destaca a organização.

As pesquisas foram iniciadas em 2021, após uma primeira seleção que valeu apoio de R$100 mil. Nessa nova fase, os aportes serão de R$ 700 mil, num primeiro momento, e mais R$ 300 mil, por opção dos pesquisadores, para finalidades como a representação de grupos sub-representados na ciência. 

A investigação liderada por Danilo Neves visa à compreensão das causas da existência de tantas espécies de plantas tropicais e dos processos responsáveis pelos padrões de biodiversidade observados hoje. Os trabalhos de campo, ele conta, priorizaram até agora “ambientes hiper diversos", como os campos rupestres da Serra do Cipó; nessa nova fase, a coleta será expandida para todos os ecossistemas da América do Sul, com foco em vegetações pouco estudadas, como as florestas inundáveis da Amazônia.

Os resultados preliminares, de acordo com Danilo Neves, indicam grande importância da evolução de nicho na formação dos padrões de biodiversidade atuais. “De forma geral, grupos de plantas que colonizaram diferentes ambientes ao longo de sua história demonstraram ter maior riqueza de espécies. Isso ressalta a importância da variedade de climas e solos para a diversificação da vida na Terra, o que significa que proteger os ecossistemas é essencial para que a vida siga seu caminho”, afirma o professor, que é vinculado ao Departamento de Botânica.

A equipe do projeto Evolução de nicho em biomas tropicais e suas consequências, que integra universidades brasileiras, britânicas e americanas, investiu inicialmente na compilação de um banco de dados sem precedentes sobre a distribuição de plantas na América do Sul. No final de 2021, com o avanço da vacinação contra a covid-19, os pesquisadores fizeram os trabalhos de campo e laboratório. “Finalizamos a primeira fase do projeto com quantidade considerável de plantas que ainda não estavam disponíveis em repositórios públicos de DNA”, revela Danilo Neves, que coordena o Laboratório de Macroecologia do ICB.

Montanhas e vida complexa

A relação entre cadeias de montanhas e o aparecimento de vida complexa na Terra é o foco do projeto Mobile (Mountain belts and the inception ou complex life on Earth). A hipótese inicial estava baseada no fato de que a primeira grande cadeia – originada da colisão entre os paleocontinentes que formam hoje a África e América do Sul – surgiu entre 565 e 510 milhões de anos atrás, época em que também apareceram fósseis que indicam o surgimento de animais complexos nos mares adjacentes a essas bacias sedimentares.

“Nesse primeiro ano do projeto, nossa equipe descobriu que a relação entre as cadeias de montanhas e a vida complexa é mais cheia de nuances do que previa a hipótese original”, diz Fabrício Caxito. Segundo ele, as montanhas fornecem os elementos necessários para a vida, como oxigênio e nutrientes, mas excesso de nutrientes pode causar eutrofização, em que organismos simples como as algas são atraídos pela fartura de alimentos nas águas superficiais e “acabam impedindo que a luz solar e o oxigênio atinjam as águas mais profundas, o que é crucial viabilizar a sobrevivência de organismos mais complexos”.

De acordo com Caxito, a detecção desse fenômeno no passado geológico é importante porque um fenômeno semelhante ocorre nos dias de hoje, em que poluentes ricos em fósforo e outros nutrientes são jogados nos mares. “Entender como a biodiversidade marinha reagiu e esse efeito no passado é crucial para remediar suas consequências no futuro”, afirma o professor do Departamento de Geologia do IGC. Nos próximos três anos, testes serão feitos em mares e montanhas antigos na África e América do Sul, para avaliação do impacto global dos efeitos detectados. Os pesquisadores do grupo são vinculados a universidades do Brasil, Canadá, da Tasmânia, Dinamarca, dos Estados Unidos e outros países. O estudo já rendeu artigos em periódicos internacionais.

Essa é a terceira chamada pública de apoio à ciência lançada pelo Instituto Serrapilheira. Os pesquisadores escolhidos têm acesso a treinamentos, eventos de integração e iniciativas de colaboração. O professor Alexander Birbrair, do ICB, pesquisa ambientes tumorais com recursos da primeira chamada.

Texto de Itamar Rigueira Jr., com assessoria de comunicação do Instituto Serrapilheira

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG