Projeto da Enfermagem UFMG promove oficinas e atividades sobre saúde para população em situação de rua
Índice de retorno tem se mostrado elevado
Na última sexta-feira de abril, Leomarques Norton da Silva Lúcio, 27 anos, que há sete vive nas ruas de Belo Horizonte, participava, pela primeira vez, de atividade de projeto de extensão da Escola de Enfermagem da UFMG que atende pessoas em situação de rua. A impressão foi boa, e Leomarques revelou sua intenção de voltar, uma vez que se sentiu valorizado. “Essas ações, mesmo que realizadas duas vezes por mês, nos faz entender que não somos tão invisíveis como imaginávamos”, disse ele.
A atividade é coordenada pela professora Giselle Lima de Freitas, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública (EMI), e visa aperfeiçoar a assistência e a educação em saúde para a população em situação de rua. As pessoas atendidas pelo projeto frequentam o Centro de Referência Especializado em Pessoas em Situação de Rua, que estão na área de abrangência da Unidade de Saúde Oswaldo Cruz, no bairro Barro Preto.
Com a participação dos professores Alexandra Dias, Francisco Lana e Sheila Lachtim, e da aluna voluntária do curso de Nutrição Carolina Preihsner, o projeto oferece oficinas e atividades educativas sobre temas como doenças sexualmente transmissíveis, uso de métodos contraceptivos e autocuidado feminino, tuberculose, hanseníase, saúde do homem, nutrição, uso de álcool e drogas. As ações educativas ocorrem quinzenalmente, às sextas-feiras.
De acordo com Giselle de Freitas, a população em situação de rua é um grupo vulnerável e suscetível a problemas de saúde. “São pessoas que experimentam vivências de violência e marginalização e têm dificuldades de acesso a serviços de saúde e de assistência social, o que as deixa vulneráveis a doenças preveníeis e tratáveis”, analisa.
Demanda latente
Para a coordenadora do CentroPOP, Aléxa Rodrigues do Vale, a população de rua tem seus direitos violados cotidianamente. “Historicamente, as ofertas de políticas públicas para esse grupo restringiram-se à assistência social”, comenta. De acordo com ela, o projeto da Escola de Enfermagem amplia o trabalho realizado pelo Centro. “A iniciativa tem auxiliado na adesão dos usuários do serviço aos tratamentos de saúde e reforçado a autoestima, o autocuidado e a adoção de hábitos preventivos. Essa aceitação indica que há uma demanda latente”, analisa Aléxa.
Bruna, de 26 anos, também participou do projeto pela primeira vez no fim de abril. “Às vezes, há moradores de rua que não sabem que têm alguma doença, ou têm medo de fazer exames e de falar. Quando conhece a saúde que tem e o corpo que carrega, você̂ passa a saber onde dói e onde machuca. Esse conhecimento é importante”, afirmou. Alexandre Siqueira de Souza, 46 anos, que estão na rua há pouco mais de um ano, disse frequentar os encontros desde o princípio: “É um aprendizado muito grande”. De acordo com a professora Giselle Lima, as ações do projeto reúnem de 15 a 20 pessoas por encontro, com elevados níveis de retorno. “Em todas as ocasiões, observa-se boa receptividade, com interação e participação. Eles participam de forma ativa fazendo questionamentos e relatando suas experiências pessoais”, informa a professora.