Projeto da UFMG esclarece temas que relacionam saúde e sexualidade
Durante a pandemia, alunos de Biomedicina e Farmácia abordam, no Instagram, assuntos como ISTs, contracepção e vacina contra o HPV
Conhecer a própria realidade é fundamental para que pessoas e grupos sejam capazes de encontrar soluções para seus problemas. O educador pernambucano Paulo Freire apoiava nessa convicção, entre outras, seu método destinado a estimular a autonomia das populações vulneráveis. Esse pensamento também inspira o projeto de extensão da UFMG Saúde e sexualidade, que promove discussões e tira dúvidas sobre o tema, por ora, por meio de posts no Instagram.
Vinculada à Faculdade de Farmácia, a iniciativa ajuda as pessoas a conhecerem melhor seus corpos, a se protegerem e a identificarem infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), informando como e onde buscar ajuda. Dessa forma, salienta a coordenadora do projeto, professora Maria Gabrielle Rocha, é possível estimular o diagnóstico precoce e o tratamento de doenças, assim como minimizar preconceitos, quebrar tabus e promover equidade entre os diferentes indivíduos e suas múltiplas formas de expressar a sexualidade e lidar com ela.
O projeto foi gestado durante os estudos de doutorado de Maria Gabrielle – nessa época, ela acompanhou pacientes com o vírus HPV em um centro de saúde de Belo Horizonte que é referência em infecções sexualmente transmissíveis. “Eu conversava com mulheres e seus companheiros, explicava o que era a doença, como ela é contraída e como se desenvolve, as alternativas de tratamento existentes, as chances de cura e o que fazer após o diagnóstico. Nessas conversas, eu percebia um vazio de informação e muitas dúvidas e conflitos entre casais”, conta a professora, que coordena também a Comissão de Integração do Ensino para o Controle Social no SUS, em Belo Horizonte.
Os principais temas abordados pelo projeto são saúde sexual, métodos de prevenção a ISTs, câncer de colo do útero, peniano e anal, a importância do exame citológico, vacina contra HPV e Hepatite B, métodos contraceptivos, gênero e sexualidade, violência de gênero, feminismo e interseccionalidades.
De acordo com Maria Gabrielle Rocha, compreender é uma forma de prevenir, por isso educação em saúde é uma forma de prevenção. “Uma vez que as pessoas conhecem e entendem o próprio corpo e os riscos associados a determinados comportamentos, elas aprendem a se cuidar, o que possibilita o controle epidemiológico e o diagnóstico precoce de doenças, para que elas não evoluam”, diz a professora.
Kathylin Glenda, aluna de biomedicina e uma das integrantes do projeto, comenta que “falar de temas antes pouco falados possibilita ter novos olhares e, assim, contribui para a formação de senso crítico e a construção de novas políticas que beneficiem a sociedade”.
Posts acessíveis
Durante a pandemia de covid-19, quando não se recomenda a interação presencial, o trabalho do grupo da UFMG com políticas públicas de saúde destinadas a populações em situação de vulnerabilidade é feito no ambiente virtual, por meio de perfil no Instagram. O projeto de extensão reúne 22 alunos dos cursos de Farmácia e Biomedicina da UFMG, que são responsáveis pela escolha das pautas, pela pesquisa e pela criação e divulgação dos posts.
“Começamos o projeto em plena pandemia, não podíamos realizar as atividades que tínhamos em mente em postos de saúde. Optamos, então, pelo Instagram. No início, era difícil fazer posts e usar linguagem acessível, mas com o decorrer do tempo tudo foi se ajeitando”, conta a aluna de Biomedicina Izabella Flueti.
A professora Maria Gabrielle Rocha explica a dinâmica de trabalho do grupo. “A gente se reúne para definir o que vai trabalhar no mês seguinte. As temáticas são escolhidas de acordo com datas comemorativas. Por exemplo, junho é o mês da visibilidade LGBTQIA+, e estamos produzindo posts sobre questões que afetam essa população. Consideramos também as repercussões sociais relacionadas às diferentes temáticas.”
Ainda segundo a pesquisadora, o projeto tem sempre em vista a necessidade de quebrar tabus e preconceitos e reduzir a homofobia, a violência de gênero e o feminicídio. “Tentamos discutir essas questões de forma simples para que as pessoas possam entender os diferentes mundos, e, com isso, respeitá-los”.
'Cuidado e carinho'
Laise Miranda, do curso de Farmácia, integra o grupo que, no projeto, se dedica à pesquisa. "Esse trabalho contribui para o meu crescimento acadêmico e pessoal. Fazemos com muito cuidado e carinho", diz a estudante, que faz questão de destacar o papel dos colegas que elaboram os posts. "Os posts são sucintos, compreensíveis e têm apelo visual."
“Já abordamos temas sobre os quais não tínhamos nenhum conhecimento e tivemos a oportunidade não só de aprender, mas também de contribuir para disseminar a informação”, diz a estudante Aline Fernanda. Pedro Martins, colega de Biomedicina, reforça essa impressão. "Além de educar a população em geral, valorizamos muito também o conhecimento que adquirimos todos os dias. Se eu pudesse resumir o projeto em uma palavra, essa palavra seria aprendizado”, afirma.