Projetos de pesquisa da UFMG terão recursos de rede mundial de universidades
Grupos do IGC e da Engenharia lideram duas das 17 iniciativas selecionadas em chamada anual da World Universities Network
Dois projetos de pesquisa liderados pela UFMG – um da Engenharia Elétrica e outro da Geologia – estão entre os 17 selecionados na chamada anual do Fundo de Desenvolvimento da Pesquisa (RDF, na sigla em inglês) da World Universities Network (WUN). A Universidade tem participação como parceira em outros três projetos contemplados. As iniciativas vão receber 10 mil libras, cada.
Cada uma das 22 instituições integrantes da WUN pôde inscrever até dois projetos nos quais lidera a parceria, e é a primeira vez, desde 2017, quando ingressou na rede mundial, que a UFMG tem suas duas propostas contempladas. A WUN avaliou 26 iniciativas, que seguiram a temática Mobilizando para um futuro sustentável, norteadora da chamada deste ano.
O projeto da Engenharia Elétrica que será apoiado pela rede mundial – Smart biosolar microgrids for sustainable communities – é coordenado pelo professor Danilo Iglesias Brandão. Os pesquisadores da UFMG vão contar com a colaboração de University of Ghana, Makerere University (Uganda) e The University of Sheffield (Reino Unido).
Do Instituto de Geociências, foi escolhido o projeto Desoxigenação dos oceanos, passado, presente e futuro: Influência da mudança climática natural e antropogênica e entrada de nutrientes, coordenado por Fabrício Caxito. As parceiras são University of Alberta (Canadá), University of Cape Town (África do Sul), University of Ghana e University of Leeds (Reino Unido). Oito grupos se candidataram e participaram de seleção prévia na UFMG.
Os projetos que contam com parceria da UFMG são A comparative study of the impact of covid-19 on migration (Renmin University of China [líder], University of Ghana, Maastricht University, da Holanda, e The University of Sheffield, do Reino Unido); Getting back in touch: emotional pathways to a post-pandemic world (The University of Sheffield [líder], University of Ghana e National Cheng Kung University, de Taiwan); JIR-CliPS: comparison of clinical practice strategies in juvenile inflammatory diseases between 4 world regions (University of Lausanne, da Suíça [líder], The University of Auckland, da Nova Zelândia, e University of Ghana).
Primeiros passos
O diretor de Relações Internacionais da UFMG, professor Aziz Saliba, integrou um dos comitês de avaliação – que não julgou, naturalmente, os projetos com participação da Universidade. Segundo ele, a WUN oferece recursos que viabilizam passos iniciais das investigações, que depois devem angariar recursos de outros fundos e instituições. “O objetivo da rede é, principalmente, fortalecer a pesquisa nas instituições integrantes e estimular a interação de universidades de diferentes países e continentes”, afirma Aziz. “A seleção de dois projetos liderados pela UFMG e outros três com nossa participação é sinal de que estamos aumentando e consolidando nosso espaço nessa rede de universidades.”
Ainda de acordo com Saliba, o excelente desempenho da UFMG em mais uma chamada internacional demonstra a qualidade de sua pesquisa e sua capacidade de formar redes internacionais. “Num momento como o atual, de escassez de recursos para pesquisa no Brasil, iniciativas globais como a da WUN são fontes importantes de financiamento”, diz o diretor de Relações Internacionais.
Quatro grandes áreas
A World Universities Network reúne hoje 25 universidades muito fortes em pesquisa, de diferentes contextos geográficos e culturais nos cinco continentes. O objetivo é, como diz o material de apresentação em seu site, “formar uma parceria cuja riqueza de talento e recursos não tem paralelos, para enfrentar os maiores desafios da pesquisa no mundo”, em quatro grandes áreas: mudança climática, saúde pública, educação superior e pesquisa e entendimento entre culturas. A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, é a atual vice-presidente da WUN.
Os projetos liderados pela UFMG
Desoxigenação dos oceanos, passado, presente e futuro: Influência da mudança climática natural e antropogênica e entrada de nutrientes
As zonas de mínimo oxigênio (ZMO) nos oceanos são aquelas em que a saturação de oxigênio está em seu nível mais baixo. Estas zonas estão se expandindo devido, principalmente, às mudanças climáticas e à poluição humana, e isso representa perigo significativo para a biodiversidade e a sustentabilidade ecológica e para a sobrevivência das populações humanas que dependem dos oceanos para se alimentar.
No passado geológico, os oceanos experimentaram períodos semelhantes de expansão de ZMOs, por diferentes razões, com profundos efeitos ecológicos. Há registros em antigas rochas sedimentares não apenas de como a biosfera mudou naquela época, mas, o que é crucial, de como os oceanos se recuperaram. Compreender a história dos oceanos pode fornecer pistas significativas para prever e remediar seu futuro.
O projeto Desoxigenação dos oceanos..., que reúne cientistas do Brasil, Canadá, Reino Unido, da Dinamarca, África do Sul, de Gana e dos Estados Unidos, visa aplicar ferramentas geoquímicas de ponta para estudar as variações de oxigênio e nutrientes em bacias marinhas modernas e antigas e seu impacto na complexidade ecológica e na biodiversidade. “Investigaremos as condições de disponibilidade de nutrientes, de oxigenação e climáticas que imediatamente precederam e seguiram eventos catastróficos para a vida marinha do passado e, em seguida, compararemos essas condições com as encontradas em ZMOs modernas em expansão. Esses novos conhecimentos ajudarão a orientar o debate público e as políticas para uso e conservação mais sustentáveis dos recursos oceânicos”, explica texto que apresenta o projeto.
Microrredes biossolares inteligentes para comunidades sustentáveis
O projeto investiga a integração da digestão anaeróbia com a energia fotovoltaica solar para formar a base de um modelo de economia circular capaz de prover energia limpa e acessível. Uma abordagem interdisciplinar vai combinar engenharia e ciências sociais para desenvolver soluções apropriadas para as características de cada comunidade beneficiária. Microrredes híbridas, com diferentes formas de suprimento de energia, foram estudadas e se provaram uma solução para aumentar a resiliência e a efetividade da provisão de energia.
É escasso o conhecimento da integração da fotovoltaica com a bioenergia. Especialmente em áreas rurais com abundância de recursos biológicos, bioenergia pode ter papel importante para estabilizar a produção de energia quando a produção solar diminui ou quando cresce a demanda. A necessidade de equilibrar constantemente demanda e provisão de eletricidade, aliada à combinação de componentes diferentes e separados espacialmente, é um desafio técnico para as microrredes híbridas.
O projeto de pesquisa vai investigar uma nova abordagem de controle baseada em estrutura distribuída cooperativa, com controladores locais para cada componente do sistema de microrrede híbrida, comparado com abordagens centralizadas que potencialmente entregam maior confiabilidade e facilitam a adição de componentes em expansões futuras. São consideradas também dimensões sociais que transformam o suprimento de energia em serviços e, finalmente, em valores sociais. Os pesquisadores vão, portanto, cocriar uma metodologia que integra conhecimento técnico a percepções e aspirações das partes envolvidas e aspectos governamentais e econômicos locais. Isso viabilizaria o desenho de modelos de negócio sustentáveis, capazes de capturar múltiplos valores e necessidades, como acesso à energia, benefícios para a saúde do tratamento de resíduos e coesão comunitária.