Teoria do Elo: tese desenvolvida na Veterinária UFMG mostra relação entre tipos de violência

Pesquisa de Laiza Bonela Gomes buscou diagnosticar a relação entre maus tratos à animais e violência interpessoal

Em estudo da UFMG, pesquisadora defende a criação de políticas públicas para prevenir a violência familiar e destaca o papel do Médico Veterinário como parte de uma rede de enfrentamento às violências. Laiza Bonela Gomes é autora da tese de doutorado A conexão entre as violências: um diagnóstico da relação entre os maus tratos aos animais e a violência interpessoal, defendida na Escola de Veterinária da Universidade. A pesquisa, que usou como base a Teoria do Elo, é pioneira na região de Belo Horizonte e revelou dados importantes sobre ciclos de violência. 

“É muito importante que todos os órgãos públicos trabalhem de forma integrada e consciente da relação entre as formas de violência, ou seja, de que quando um tipo de violência é prevenido, os outros também são. O Médico Veterinário é fundamental nesse processo como um ator que identifica essas violências e faz a comunicação entre os órgãos, auxiliando na quebra do ciclo”, explica a doutora.

Resultados da pesquisa

O trabalho desenvolvido por Laiza, com a orientação da professora Danielle Ferreira de Magalhães Soares, teve o objetivo de identificar a relação entre as diferentes formas de violência no município de Belo Horizonte. Para isso, foram obtidos dados de quatro fontes distintas: Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna; Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, ao Idoso e à Pessoa com Deficiência; Superintendência de Informações e Inteligência Policial; e Juizado Especial Criminal, no período de 2016 a 2020, em Belo Horizonte.  

Na Delegacia Especializada da Fauna, foram estudadas ocorrências de maus tratos no período de dois anos, 2016 a 2018. “Através dos dados coletados, descobrimos que cães e gatos são os animais mais afetados, em virtude de serem animais de companhia e estarem mais próximos aos seres humanos”, explica a doutora. Durante o tempo pesquisado, crueldades do tipo de intoxicação e violência física foram as mais comuns e tiveram homens como autores mais frequentes. 

Bonela relata também que, nesse período de dois anos, foram geradas 221 ocorrências de maus tratos aos animais, das quais 175 tinham suspeitos identificados, possibilitando o acesso às informações de 205 indivíduos no total. Desses 205 suspeitos, 77 tinham Ficha de Antecedentes Criminais (FAC), em que a maioria dos delitos identificados (53,2%) era de natureza violenta, como lesão corporal, vias de fato e Lei Maria da Penha. 

Na Superintendência de Informações e Inteligência Policial, dados muito parecidos foram encontrados. Através da análise de um banco de dados de 8 anos, que continha 539 ocorrências de maus tratos em Belo Horizonte, com autores identificados, foi possível obter informações de outros 807 delitos. Cerca de 54% desses outros crimes eram violentos - um percentual acima de 50%, assim como nos dados obtidos na Delegacia Especializada da Fauna. “Este é mais um indício que maus tratos à animais não são fatores isolados”, afirma Laiza. 

Além da coleta de dados dos crimes ocorridos, a última etapa da pesquisa contou com a participação de 416 mulheres vítimas de violência, que responderam a um questionário auto-aplicável na Delegacia da Mulher, no final de 2019 e no início de 2020. Neste questionário, violências do tipo psicológica, moral e física foram as relatadas como mais frequentes; e cônjuges e ex-cônjuges como principais autores. 

O questionário revelou também que em 22% dos lares onde as mulheres relataram ter animal de companhia, eles sofrem ou já sofreram algum tipo de maus tratos, sendo o espancamento e agressão psicológica as formas mais comuns. “Esses achados da nossa pesquisa comprovam a hipótese de que um autor de maus tratos tem uma conduta desviante para vários outros crimes, principalmente, violentos. E, mais importante: comprova a relação que existe entre cometimento de maus tratos aos animais e de violência contra pessoas", conclui a pesquisadora.

A Teoria do Elo

A Teoria do Elo, usada como base teórica da pesquisa, entende a violência como parte de um ciclo intergeracional. “Isso significa que um adulto que abusa, maltrata ou violenta uma criança ou um animal, o faz como resultado de já ter sofrido ou testemunhado algum tipo de violência durante a infância, principalmente, no seu ambiente familiar. Esse ciclo de violência vai se perpetuando até que seja quebrado”, explica Bonela. 

Nas últimas décadas, pesquisas científicas, principalmente norte-americanas, comprovaram a correlação entre crueldade contra animais e violência interpessoal, ou seja, identificaram a tendência de um mesmo agressor agir de forma violenta contra animais e pessoas, principalmente, mais vulneráveis. No Brasil, ainda existem poucos estudos com essa abordagem.

A tese de Laiza Bonela Gomes foi defendida no dia 11 de junho de 2021, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal. A pesquisa completa pode ser acessada aqui.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

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